Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana, quase sempre é lembrada como a terra da aguardente Pitú. Mas nem só de cachaça vive o lugar, distante 49 quilômetros do Recife. O município também se esforça para preservar suas raízes históricas. Convênio assinado este mês, entre a prefeitura e o Instituto Histórico e Geográfico de Vitória, vai permitir a recuperação da casa mais antiga da cidade, uma construção de 1730.
O Sobradinho Mourisco é um imóvel de dois pavimentos, feito de taipa (estacas de madeira e barro), com arquitetura de influencia árabe e tombado pelo Estado. Localizado na Rua Imperial, 81, Centro, é a sede da Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência. Porém, pelo precário estado de conservação, encontra-se fechado. A prefeitura prometeu liberar R$ 14 mil, em sete parcelas, até o fim deste ano, para execução da obra.
“Começaremos o serviço segunda-feira próxima”, diz o presidente do Instituto Histórico, Pedro Férrer. “Vamos trocar as madeiras estragadas, consertar as telhas e pintar as paredes, sem alterar a originalidade da casa”, acrescenta. O sobradinho pertence ao instituto, que conta com R$ 1,2 mil em caixa para iniciar a obra.
A casa sofreu avarias durante a obra de derrubada da edificação vizinha. “Uma parede lateral ficou solta e estava quase caindo, com recursos dos sócios do instituto conseguimos fazer uma ação emergencial”, diz Pedro Férrer. O Sobradinho Mourisco é contemporâneo da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, construída por escravos no século 18. “É o único remanescente da antiga povoação de Santo Antão da Mata, que deu origem à cidade”, destaca.
VISITA ILUSTRE - Na mesma Rua Imperial fica a sede do Instituto Histórico, instalado no casarão 187 desde a fundação, em 1950. Construído em 1851 para ser residência de senhores de engenho, já funcionou como Câmara de Vereadores, posto de saúde, sede do Tiro de Guerra (quartel do Exército), do Sport Club de Vitória e de escola.
Em 1859, quando visitou Pernambuco, o imperador Dom Pedro II e a esposa, a imperatriz Tereza Cristina, dormiram duas noites na casa, então a Câmara de Vereadores. A mesa onde a família real fez as refeições está exposta no Museu de Vitória, montado nas dependências do instituto. Uma sala é dedicada aos ilustres visitantes, com fotografias e peças da louça que teria sido usada pelo casal.
O museu foi organizado para atender estudantes, diz Pedro. Por isso, tem caráter didático, com painéis contando a história da cidade, a participação de Vitória na Guerra do Paraguai e nas Ligas Camponesas (movimento criado no Engenho Galileia, em 1955) e uma maquete do Monte das Tabocas, onde lusos-brasileiros e holandeses se enfrentara em 3 de agosto de 1645 durante a ocupação flamenga no Nordeste brasileiro.
Uma sala é dedicada à imprensa e exibe antigas engenhocas como máquina tipográfica, impressora manual a pedal e uma máquina fotográfica de chapa. Imagens de santos (alguns mutilados durante conflito político no fim do império na Igreja do Rosário), instrumentos de tortura de escravos, tachos e alambiques da fabricação do açúcar e da aguardente de cana, além de utensílios domésticos fora de uso completam o acervo.
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