Estações de trem abandonadas em Camaragibe e Jaboatão

Na quinta reportagem da série sobre o patrimônio ferroviário de Pernambuco, veja a situação de antigas estações, no Grande Recife. Em São Lourenço, o prédio é mantido por ex-funcionário da RFFSA
Cleide Alves
Publicado em 18/10/2014 às 8:08
Foto: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


Na época dos trens em Pernambuco, de meados do século 19 até a década de 80 do século 20, havia 152 estações para embarque e desembarque de passageiros, em todo o Estado. Cinco anos atrás, apenas 86 delas continuavam de pé. Pior ainda: 60% encontravam-se descaracterizadas ou modificadas e 30% exibiam precária conservação.

A antiga Estação Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, faz parte deste grupo. Abandonada, destelhada, sem portas e janelas, tomada por lixo e mato, a edificação está se desmanchando à vista dos moradores do bairro de Alberto Maia. O prédio, comenta a vizinhança, já serviu como prostíbulo e ponto de apoio para usuários de drogas.

 

“É lamentável uma estação tão bonita e que foi tão útil ao povo, se acabar desse jeito. Deveriam ativar a linha férrea, como fizeram com o Cabo de Santo Agostinho. Não faltaria passageiro, iria desafogar os ônibus e a gente teria mais tranquilidade nas viagens”, declara Severino Galdino, 59 anos. Morador de Camaragibe, ele usava o trem para ir a Carpina, na Zona da Mata, fazer feira.

A professora Neide Maria de Oliveira, 60, tem uma relação mais próxima ainda com o prédio. Filha de um funcionário da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), ela morou por 22 anos numa residência conjugada com a estação. “Muito triste ver isso, meu pai era ferroviário em Limoeiro e foi transferido. Como chefe da estação, vivia nessa casa, um das minhas primeiras moradias”, recorda.

O conjunto ferroviário de Camaragibe é composto pela estação, a casa do chefe da estação e um armazém de carga, à margem dos trilhos. A caixa d’água para uso dos trens, com bomba a manivela, não existe mais. Assim como parte dos trilhos. “Os três imóveis precisam de reforma urgente. Saímos da casa quando meu pai se aposentou”, diz Neide Maria.

Em São Lourenço da Mata, município vizinho a Camaragibe, a esplanada reunia armazéns, banheiros, casa do vigia, refeitório e dormitório (demolidos), entre outras edificações. Curiosamente, a velha estação virou a moradia de um ex-funcionário da RFFSA, responsável por manobras de trens e manutenção de linha, há mais de 20 anos.

“Não invadimos, estamos aqui com todos os direitos. Meu esposo tem uma carta de autorização da Rede”, avisa Dulciméria Marcelino Moura Sales. Sem fazer reformas, a família adaptou a estação, que já contava com quartos, a uma moradia.

Dulciméria nasceu em Paudalho, na Zona da Mata pernambucana, e tem a vida ligada ao trem desde pequena. “Passei a infância viajando de trem porque não havia outro meio de transporte do interior para o Recife. Casei com um ferroviário e moro numa estação desativada”, resume. O imóvel, preservado pela família, é cercado por bancos de feira, montados na Rua Frei Caneca.

 

Numa situação parecida com Camaragibe, a Estação de Jaboatão dos Guararapes é um abrigo para desocupados e se desmonta aos poucos. O imóvel, entre a Estação do Metrô e o Terminal de Integração de ônibus, exala mau cheiro de fezes e urina. “Podiam ocupar o prédio com alguma atividade cultural, integrando o metrô e o ônibus”, sugere Paulo Jorge Ferreira, morador da cidade.

De acordo com a Lei Federal nº 11.483/2007, o patrimônio não operacional da RFFSA está sob gestão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Frederico Almeida, superintendente do Iphan, informa que a entidade providenciou, de 2007 a 2009, o inventário dos bens móveis (locomotivas, vagões de carga, guindastes, documentos) e imóveis (estações, casas, pontes, viadutos, túneis) de Pernambuco e espera negociar com 64 prefeituras usos culturais e sociais para as edificações.

A Prefeitura de Jaboatão firmou convênio com o Senai para instalar uma escola técnica nas oficinas da RFFSA, junto da estação. “Estamos preservando a estrutura de ferro inglesa dos galpões e as máquinas que estavam largadas no local”, informa o secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico e Turismo do município, Luís Carlos Matos.

Com 80% da obra pronta, a escola já oferece cursos de aprendizado para pedreiro, encanador e pintor. Os cursos do Senai – edificações, segurança do trabalho, gestão ambiental, gráfica e ferrovias – serão inaugurados no fim de 2015. O prédio da estação continua à espera de projetos. Camaragibe informa que está tentando conseguir recursos para recuperar a estação e pretende fazer uma praça no entorno do prédio. A promessa é antiga, dizem moradores.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Abandonada e sem uso, a antiga Estação de Camaragibe, no Grande Recife, virou um depósito de lixo - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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A estação do trem, a casa do chefe da estação e o armazém estão tomados pelo mato em Camaragibe - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Ao lado da linha férrea, a antiga estação de trem de Camaragibe (PE) teve portas e janelas roubadas - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Prédio construído em Camaragibe, no início do século 20, fazia parte da Rede Ferrroviária Federal - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Estação de Camaragibe fica no bairro de Alberto Maia. Moradores pedem a revitalização do imóvel - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Estação de Camaragibe fica no bairro de Alberto Maia. Moradores pedem a revitalização do imóvel - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Moradores jogam lixo na antiga Estação de Camaragibe. Para diminuir o volume, queimam os detritos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, a velha estação de trem é usada como moradia há 20 anos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Trilhos e dormentes estão desativados em São Lourenço. Funcionam apenas como caminho para pedestres - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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A antiga Estação de São Lourenço da Mata foi transformada em moradia por um ex-funcionário da RFFSA - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Bancos de feira da Rua Frei Caneca são armados na frente da antiga Estação de São Lourenço da Mata - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Bancos de feira da Rua Frei Caneca escondem a fachada da antiga Estação de São Lourenço da Mata - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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A Estação de Jaboatão, entre a estação do metrô e o terminal integrado do ônibus, está devastada - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Antiga estação de passageiros do trem, em Jaboatão dos Guararapes, destruída por vândalos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Antiga estação de passageiros do trem, em Jaboatão dos Guararapes, destruída por vândalos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Destelhada, sem portas e janelas, a Estação de Jaboatão dos Guararapes é abrigo para desocupados - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Jaboatão dos Guararapes camaragibe são lourenço da mata patrimônio ferroviário TRENS
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