Defesa Civil de Abreu e Lima pode ir à Justiça para interditar casas em risco

Ao todo, 14 imóveis devem ser desocupados para evitar uma nova tragédia
Margarida Azevedo
Publicado em 01/08/2019 às 8:00
Ao todo, 14 imóveis devem ser desocupados para evitar uma nova tragédia Foto: Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem


Nove dias depois do deslizamento de uma barreira que deixou cinco pessoas mortas, em Caetés 1, Abreu e Lima, no Grande Recife, o local ainda está tomado pela lama. Casas da Rua Córrego da Areia, onde o acidente aconteceu, quarta-feira da semana passada, dia 24 de julho , estão fechadas. Só dois moradores insistem em permanecer na área. Mas a Defesa Civil do município informa que 14 imóveis – sete na parte de baixo da barreira e sete na parte de cima – serão desocupados. A Justiça vai ser acionada, caso haja resistência, para obrigar as famílias a saírem.

Ainda não há previsão de quando todo o barro será retirado. “Todos os dias tem chovido, por isso o trabalho é um pouco lento”, explica o secretário-executivo de Obras de Abreu e Lima, Diego Feijó. Devido à dificuldade de acesso à área, a energia elétrica só foi restabelecida pela Celpe na terça-feira. Quatro equipes realizaram o serviço, considerado de alta complexidade. Houve a substituição de quatro postes, um transformador e mais de 600 metros de fios.

“Identificamos 14 casas que estão em risco. Não vamos permitir que as famílias permaneçam. É uma questão de segurança. Mesmo aquelas que não concordarem terão que sair. Acionaremos o departamento jurídico da prefeitura se for preciso”, assegura o coordenador da Defesa Civil municipal, Júnior Lopes. Os donos dos imóveis estão sendo contactados e orientados a deixarem as residências. Se houver necessidade, poderão receber auxílio-moradia (R$ 150 por mês). As casas ficam na Rua Córrego da Areia (parte de baixo) e nas Ruas 93, 94 e 05 (parte de cima).

O mecânico Natanael Fernandes, 56 anos, é um dos que tiveram a casa parcialmente destruída. A barreira derrubou a parede de um dos dois quartos do imóvel. “Moro sozinho. Não tenho família em Pernambuco, só um irmão que vive em São Paulo. Não vou sair da minha casa. Desde o desabamento da barreira que durmo de dia e fico acordado à noite. Não mexi em nada do quarto que teve a parede atingida porque estou esperando fazer mais dias de sol”, diz Natanel, que assinou um termo de responsabilidade para permanecer na casa.

O pedreiro José Luiz da Mota, 70, também não quer deixar o local. “Só não estou dormindo em casa. Mas fico durante o dia para vigiar porque é meu patrimônio, passei minha vida para construir isso. São quatro casinhas que tenho. Se deixar sem ninguém, vêm vândalos. Estou com medo que a prefeitura venha demolir. Não posso sair daqui”, afirma José Luiz.

Ele relembra o momento do deslizamento. “Minha esposa se levantou pra pegar água. Viu um sinal no céu e disse que ia acontecer alguma coisa ruim. Fizemos uma oração. Quando ela sentou na cama, estourou o vidro da janela. Foi um estrondo e depois muito fogo porque o poste caiu. Uma mulher veio parar na minha sala. Ficou gritando e pedindo socorro”, conta José Luiz.

ALTA

Hariana Tereza Xavier, 38 anos, única sobrevivente do deslizamento, está internada na enfermaria do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, no Grande Recife. A equipe médica fará nova avaliação hoje e ela pode ter alta. Ontem, mais de 15 parentes vieram de Camocim visitá-la. Somente segunda-feira ela soube da morte do marido e de três filhos. “Desconfiei que tinha acontecido algo grave porque sempre que eu perguntava por eles, minha família dizia que estavam bem, mas não vinham me visitar. Perdi as pessoas que mais amo. Queria tanto meu neto, que agora está com Jesus. Meu marido era um guerreiro, ótimo pai. Meus filhos eram muito unidos”, comenta Hariana.

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