Basta ouvir o batuque que elas vão atrás. Se for frevo, melhor ainda. Mas não tem maracatu, samba, afoxé, ciranda ou roda de coco que a gerente Sandra Melo, 46 anos, e a comerciante Ana Maria Kottas, 49, não se deixem levar. Foliãs da primeira à última hora, elas são legítimas representantes do perfil de quem brinca o Carnaval pernambucano. Não tem essa de só escutar um ou outro som.
Pesquisa feita pelo Instituto Maurício de Nassau mostra a vocação do Estado para a multiculturalidade. No levantamento, o gosto pela diversidade falou mais alto. A maioria dos entrevistados (52%) afirmou que pretende ouvir todos os ritmos enquanto durar o reinado de Momo.
Na terra do frevo, é claro que o ritmo que já virou Patrimônio Imaterial da Humanidade tem súditos fiéis. Na consulta, 39% dos entrevistados disseram querer ouvir frevo no Carnaval. E a disposição para brincar está garantida. Quase 50% das pessoas ouvidas afirmaram que pretendem participar da folia. Para quase 40%, o endereço preferido é a cidade de Olinda, com suas históricas ladeiras, orquestras e bonecos gigantes. Na sequência, vem o Recife Antigo, escolhido por 34,9% dos entrevistados.
Há 10 anos, Ana Maria arrasa com a fantasia de nega maluca. Ela explica porque Olinda é o destino preferido de quem ama o Carnaval. “É uma energia maravilhosa. As ruas cheias de pessoas com astral, fantasiadas, felizes. Quem vem brincar aqui volta sempre porque é muito bem recebido”, destaca.
A amiga Sandra, que faz sucesso vestida de monja diabólica, divide o amor pela folia na Cidade Alta com outros dois símbolos do Carnaval pernambucano: o Galo da Madrugada e o Recife Antigo.
“Pra mim, desfilar no Galo é uma tradição. Não deixei de sair no bloco nem no ano em que a polícia fez greve e todo mundo ficou com medo de ir. Fui e foi muito tranquilo”, diz Sandra, em referência ao Carnaval do ano passado.
E por falar em insegurança, entre as pessoas que afirmaram que não pretendem ir ao Galo da Madrugada deste ano, quase 33% alegaram como motivo para ficar de fora do desfile do maior bloco de rua do País justamente a violência. O cientista político Adriano Oliveira, um dos responsáveis pelo levantamento, diz, no entanto, que o percentual está dentro da média. “Esse índice é normal em qualquer cidade que tenha Carnaval de rua forte. É um receio legítimo, natural por se tratar de um evento de massa.”
A pesquisa do Instituto Maurício de Nassau quis saber também que tipo de transporte o folião vai usar para chegar aos focos de folia. O levantamento constatou que a escolha depende do perfil sócio-econômico do entrevistado. Entre os mais escolarizados e de maior renda, o transporte preferido será o Uber. Já entre os de menor renda e menor grau de escolarização, a opção é o ônibus.
“A pesquisa deixou muito claro o quanto a opção de transporte está associada ao poder aquisitivo do folião”, afirmou Adriano Oliveira.