ATUALIZADA À 0H40
Até 0h30, a rebelião que começou no fim da tarde desta terça-feira (10) na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, parecia controlada, apesar de o Batalhão de Choque permanecer dentro da unidade. O presidente da Funase, Alberto Vinícius, confirmou três mortes. Duas vítimas foram carbonizadas (e uma delas ainda foi decapitado) e outra faleceu por asfixia, segundo o Instituto de Criminalística (IC). A unidade tem capacidade para receber 166 jovens do sexo masculino, com idades entre 17 e 21 anos, mas abriga 368 pessoas atualmente.
O Governo do Estado se comprometeu a prestar esclarecimentos sobre o caso nesta quarta-feira (12), às 15h. Estarão na coletiva, cujo local ainda não foi informado, a secretária da Criança e Juventude, Raquel Lira, o secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, e o presidente da Funase, Alberto Vinícius.
O tumulto começou por volta das 17h no Pavilhão A, conhecido como Ala de Segurança, onde ficam os jovens que cometeram infrações mais graves. Os internos dizem que estão insatisfeitos com a atual administração. Três agentes socioeducativos foram feitos reféns durante três horas. A diretora Suzete Lúcio assumiu o comando em novembro do ano passado, no lugar do coronel Leandro da Silva.
Durante a confusão, o fogo ateado pelos reeducandos podia ser visto do lado de fora, assim como muita fumaça. Enquanto cerca de 30 policiais do Batalhão de Choque preparavam-se para entrar na unidade, pedras eram arremessadas pelos reeducandos contra eles. Após a entrada do Choque, disparos eram ouvidos a todo tempo, já que foram usadas balas de borracha e bombas de efeito moral para conter o tumulto.
A cabeça do jovem que foi decapitado foi arremessada para o lado de fora enrolada num pano azul parecido com um lençol e coberto de sangue. O corpo foi posto de cabeça para baixo dentro da unidade. Segundo um infrator, de 18 anos, que não quis ser identificado, a vítima é conhecida como Geléia e tinha 18 anos. “Ninguém gostava dele porque ele dedurava todo mundo e também costumava bater nas pessoas sem motivo”, relatou.
Dois jovens de 18 anos conseguiram fugir, mas foram capturados minutos depois nas proximidades da unidade prisional. Além disso, um adolescente e um agente ficaram levemente feridos.
A expressão dos familiares dos internos que esperavam notícias do lado de fora era de desespero e angústia.A mãe de um menor infrator de 16 anos que se identificou apenas como Adriana, 30, contou que o filho reclama bastante da alimentação e de maus tratos. “Tem agente que não permite a entrada das mães nem das namoradas. No ano-novo mesmo não pude visitar meu filho”, lamentou. Ela disse que ficou sabendo da rebelião por outras mães. “Estamos nos juntando para denunciar os maus tratos”. O adolescente está na unidade há dois meses detido por assalto a mão armada.
» Ouça o depoimento da mãe de um dos internos para a Rádio Calheta: