O suspeito de jogar um produto químico corrosivo na ex-companheira, de 19 anos, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, no dia 4 de julho, foi preso nesta segunda-feira (8). De acordo com a Polícia Civil, o mandado de prisão preventiva foi cumprido quando o agente comunitário de saúde, de 27 anos, compareceu à sede do Departamento de Polícia da Mulher (Dpmul), no Bairro do Recife, Centro da cidade. O nome do suspeito não está sendo divulgado pela reportagem para proteger a identidade da vítima.
De acordo com informações da TV Jornal, o homem foi ouvido por aproximadamente uma hora. Na saída da unidade policial em direção ao Instituto de Medicina Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito, ele foi hostilizado por pessoas que estavam nas proximidades do Dpmul e não falou com a imprensa.
Uma garrafa com o produto que teria sido derramado na jovem, uma atendente de lanchonete, foi encontrada perto do local do crime, na manhã desta segunda-feira (8), e passará por perícia do Instituto de Criminalística (IC). A Polícia Civil ainda não divulgou oficialmente o nome da substância utilizada e está tratando como "produto químico (líquido)". No rótulo do recipiente que será examinado, está escrito "ácido sulfúrico". Inicialmente, a informação era de que o produto jogado no rosto da vítima era soda cáustica.
Os detalhes da prisão do ex-companheiro da vítima serão repassados pela Polícia Civil às 11h desta terça-feira (9) em uma entrevista coletiva. Ele está no Centro de Observação e Triagem Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. De acordo com a defesa, o homem não nega a participação no crime, mas não foi o executor principal.
A Secretaria de Saúde (Sesau) do Recife informou que, diante da prisão preventiva, deu início ao processo de solicitação de abertura de inquérito administrativo e o servidor fica afastado do cargo até que saia a sentença final.
Por volta das 22h desta segunda-feira (8), a vítima, atingida no rosto, continuava internada em estado grave no Hospital da Restauração (HR), área central do Recife. Na madrugada desse domingo (7), ela foi transferida do setor de queimados para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a troca não representou piora no quadro de saúde, que já era considerado grave.
O crime aconteceu na última quinta-feira (4) no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife. A mulher subia uma escadaria, para ir à casa da mãe, quando foi abordada pelo suspeito e o comparsa dele. Segundo testemunhas, o casal teve um relacionamento de 4 anos e tem um filho de 2 anos. "Todo mundo que estava na escadaria foi ajudar ela. Botaram água porque disseram que estava saindo fogo do rosto dela", contou a irmã da vítima.
A irmã da vítima contou que o suspeito sempre batia na esposa, além de submeter o filho a maus-tratos. “Ela chegava em casa com marcas. Ela já chegou com queimaduras. Passou-se um tempo, ela engravidou. E era espancada também. Quando meu sobrinho nasceu, ele prendeu meu sobrinho dentro do quarto, de camisa, com o ar-condicionado ligado, e chorando. Ele havia proibido minha irmã de pegar meu sobrinho, porque ela iria embora de casa com ele”, contou.
A Justiça já tinha determinado uma medida protetiva contra o suspeito, mas, por várias vezes, ele teria descumprido a ordem judicial. “Ela foi em delegacia e nada mudou. Os policiais não fizeram nada, ninguém fez nada para mudar alguma coisa”, disse a irmã da vítima.
De acordo com a polícia, a mulher registrou três boletins de ocorrências e as medidas protetivas solicitadas estavam em vigor. "As medidas de proteção foram pedidas à Justiça na metade de maio e elas estavam em vigor. Ele tinha sido intimado do seu teor no começo de junho e essas medidas de proteção ainda estavam em vigor", explicou a delegada Bruna Falcão. As medidas protetivas que estavam em valendo eram: proibição de aproximação, proibição de contato telefônico e proibição do suspeito frequentar a casa da vítima.
A delegada informou que, durante um interrogatório feito anteriormente, o suspeito disse que a ex-companheira não permitia o contato com o filho do casal. "Essa informação foi desmentida pela mãe dele, que disse ser mentira. A mulher tinha uma boa relação com a família e que sempre tinham acesso à criança. O motivo seria, na verdade, que o suspeito estava inconformado porque a vítima não queria reatar o relacionamento e, inclusive, estava conhecendo outra pessoa", explicou.
Na manhã da última sexta-feira (5), foi preso o responsável por segurar a vítima enquanto o ex-companheiro jogava o produto em seu rosto.
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