Febre amarela: matar macacos é crime e impede controle da doença

Macacos são os reservatórios da febre amarela: adoecem e podem até pagar com a própria vida a sinalização da doença
Cinthya Leite
Publicado em 23/01/2018 às 11:29
Macacos são os reservatórios da febre amarela: adoecem e podem até pagar com a própria vida a sinalização da doença Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


A explosão dos casos de febre amarela no Brasil levanta desconfianças da sociedade sobre a possibilidade de os macacos transmitirem o vírus. Mas é importante esclarecer: assim como os humanos, eles são apenas vítimas. Matar esses animais, além de ser crime ambiental, prejudica o trabalho de prevenção da doença. Ao detectarem a morte de um macaco, que poderia estar doente por febre amarela, equipes de saúde têm a chance de adotar medidas de controle capazes de evitar que a enfermidade se alastre.

“Os primatas não humanos são espécies fundamentais do ponto de vista epidemiológico, pois eles são os reservatórios da febre amarela: adoecem e podem até pagar com a própria vida a sinalização da doença”, frisa o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia. O depoimento dele alerta para o fato de que os macacos são o termômetro de um possível surto de febre amarela. Como ficam em áreas de mata, geralmente adoecem primeiro quando há circulação do vírus, pois logo acabam picados pelos mosquitos Haemagogus ou Sabethes.

'Macacos são reservatórios da febre amarela: adoecem e podem até pagar com a própria vida a sinalização da doença', diz Jailson Correia (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem)

Esse cenário leva as autoridades de saúde se manterem em alerta, inclusive em Pernambuco, para averiguar possíveis causas das mortes de primatas, que podem estar relacionadas não apenas à febre amarela, como também à raiva, a herpes ou a outras zoonoses. No Estado, onde não há registro da circulação da enfermidade desde a década de 1930, os 70 óbitos dos macacos notificados desde 2017 não tiveram associação com febre amarela (os resultados laboratoriais se mostraram negativos para a doença).

Urbanização da mata

Segundo a gerente de Controle das Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde, Claudenice Pontes, a vigilância preventiva dos primatas está sendo reforçada nos municípios pernambucanos, mesmo com o Estado fora do mapa de risco de transmissão. “Os macacos representam a primeira oferta de alimento para os mosquitos transmissores, que circulam em áreas de mata onde esses primatas estão. O problema maior não está na possibilidade de um mosquito ir a uma área urbana, mas sim em o homem ir para um local onde estão esses vetores”, esclarece.

No debate realizado ontem no programa Consultório de Graça, na Rádio Jornal, a infectologista Sylvia Hinrichsen trouxe à tona uma reflexão que complementa a explicação de Claudenice Pontes. “Entramos na mata e levamos a urbanização para lá. Isso aconteceu com calazar (leishmaniose visceral), cujos casos foram registrados, em Pernambuco, na década de 1980 nas Praias de Maria Farinha, Janga e Candeias. Eram áreas de mata e, de uma hora para outra, foram urbanizadas”, disse a infectologista ao destacar o papel do desequilíbrio ambiental no aparecimento de surtos.

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