Em consonância com o tema “Museus como Núcleos Culturais: o Futuro das Tradições”, que conceitua a 17ª Semana Nacional dos Museus, o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), no Centro Cultural Benfica, abre amanhã, às 19h, a exposição Futuramas: Tradições e Rupturas. A mostra reúne obras do acervo da instituição e coloca em diálogo artistas de poéticas e técnicas distintas, sugerindo pontes que ajudam a repensar (e expandir) conceitos aparentemente dicotômicos.
Os processos históricos e artísticos são movidos a partir do confronto entre o estabelecido e o novo. Por mais radicais que sejam, as inevitáveis transformações nunca apagam por completo a tradição, em um processo de permanência e mudança.
Por isso, é instigante a provocação lançada pela exposição, convidando o visitante a estabelecer pontes entre trabalhos de artistas como J. Borges e Vicente do Rego Monteiro, por exemplo. Esses encontros não se dão por um viés óbvio. São, antes de tudo, sugeridos.
“Nosso acervo de cultura popular é robusto, mas não queríamos ficar presos à ideia de tradição como algo estanque. Buscamos posicionar essas obras tradicionais sempre olhando para o futuro. Partimos do conceito da repetição como uma espécie de guia da exposição”, explica Talles Colatino, curador da mostra junto a Jeims Duarte e Rebeca Matos.
Um precioso cartema de Aloísio Magalhães com paisagem do Recife pode ser lido como um ponto inicial da exposição e instiga essa ampliação do olhar em relação à recorrência da imagem. Essa ideia de uma base a partir da qual se reproduz uma mesma imagem (com usos artísticos diversos) conduz à tradição do cordel e à arte de J. Borges, que é representada pelas matrizes de suas xilogravuras.
Os trabalhos do pernambucano são colocados em um ponto equidistante das imagens contemporâneas do libanês Camille Kachani, que vive e produz em São Paulo. As técnicas e o suporte diferem profundamente, com o primeiro produzindo a partir de matriz em madeira e o último com computação gráfica, mas ambos igualmente reproduzíveis.
As conexões transbordam ainda para uma gravura de Vicente do Rego Monteiro, cujo tema – uma acrobata – e traços ecoam em uma tela de Ricardo Pessôa. Outro encontro surpreendente é o da cearense Ciça do Barro Cru e da contemporânea Ana Lisboa. Ambas propõem universos poéticos oníricos, quase místicos, com criaturas e espaços fantásticos.
Completam a exposição trabalhos de Fernando José Torres Barbosa e Mestre Vitalino. Deste, inclusive, estão expostas duas esculturas, uma de um lampião e outra de um homem sobre uma moto, o que aprofunda o debate sobre como o tradicional pensa e traduz a modernidade.
Em um momento de cortes nas universidades públicas e ameaças a esses centros de conhecimento, esta exposição parece particularmente urgente. Como um espaço de extensão da UFPE, o Centro Cultural Benfica é guardião de um legado cultural imensurável, mas também está em constante renovação, dialogando com a sociedade.
“É preciso que as pessoas venham, conheçam o espaço e nosso acervo. Precisamos exercer a sensibilidade em busca da defesa da universidade, vivenciá-la, porque ele é coletivo”, enfatizam Rebeca e Talles.