A noite de 19 de outubro de 2012 ficou marcada na história da teledramaturgia brasileira. O Jornal Nacional, da TV Globo, fez questão de exibir, após sua última matéria daquela edição, algumas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro completamente vazias naquele momento, ao vivo. O motivo? Todos estavam atentos para a exibição do último capítulo de Avenida Brasil. A trama das nove da emissora, escrita por João Emanuel Carneiro, foi capaz de promover um fenômeno pouco visto até então. O Brasil inteiro queria saber o desfecho da história de vingança de Carminha (Adriana Esteves) e Rita (Débora Falabella). E agora, vai começar tudo de novo a partir de amanhã, com o início da primeira reprise da novela no Vale a Pena Ver de Novo.
“Sete anos depois de a novela ter sido exibida, tenho curiosidade de entender como será assisti-la nos dias de hoje. Vai ser interessante rever e saber o que as pessoas que não viram naquela época vão achar. Estou com uma curiosidade enorme”, conta Débora Falabella, que intrigou o público da novela interpretando Nina, uma mocinha nada convencional, que lutava sem limites por justiça. Desde os 11 anos, ela planejava seu acerto de contas com a madrasta Carminha (Adriana Esteves), uma vilã que o País amou odiar.
“Ela era cara de pau. Corajosa e divertida. Enxergava a vida com inteligência e humor. Mas eu sempre enxerguei humanidade na personagem. Sempre entendi suas dores e sua solidão. A maternidade precoce, o amor e incapacidade de criar o filho, a miséria em que nasceu. Fatos que me faziam entender esta mulher”, reflete Adriana, que tem a dimensão exata do impacto da maldosa Carmem Lúcia na trama, que armava, dissimulava e manipulava tudo e todos junto com seu fiel escudeiro e amante Max (Marcello Novaes).
Na primeira fase da novela, o público se compadeceu rapidamente pela jovem Rita, interpretada por Mel Maia, que vê sua personagem perder o pai Genésio (Tony Ramos) logo no primeiro capítulo, depois é abandonada no lixão por Max, conhece o maldoso Nilo (José de Abreu), mas encontra abrigo na casa da mãe Lucinda (Vera Holtz), e o seu grande amor, Batata, que mais tarde é adotado pelo jogador Tufão (Murilo Benício) e ganha o primeiro nome dele, Jorginho (Cauã Reymond).
“Apesar do drama da personagem, eu me divertia muito durante as gravações. Aquele calor do lixão, as risadas das outras crianças, as brincadeiras internas. Eu me diverti 100%. Foi tanta coisa gostosa que vivi ali que, só de lembrar, o coração aperta de saudade. Foi uma honra ter sido escolhida para fazer um papel tão maravilhoso”, conta Mel, que tinha apenas 8 anos na época. “Muita gente ainda me reconhece como Ritinha e ainda sente pena ‘de mim’”, brinca ela, hoje aos 15.
Muitos dramas a parte, responsáveis pelo grande sucesso da novela, que tinha um ritmo ágil e prendia o telespectador trazendo uma virada a cada capítulo, o público também conseguia sorrir no famoso bairro do Divino. Lá vivia o seu mais ilustre morador, Leleco, interpretado por Marcos Caruso, o pai carinhoso da “família Tufão”, que protagonizou cenas hilárias com a ex-mulher, Muricy (Eliane Giardini), e com seu rival, Darkson (José Loreto), depois que ele conquistou a jovem Tessália (Débora Nascimento).
“Leleco é solar. Tem humor. Representa bem uma grande parcela reconhecível do povo brasileiro. Mas, sem dúvida, o mérito sempre se inicia com o autor. João Emanuel Carneiro construiu personagens emblemáticos nesse trabalho. Meu mais sincero obrigado”, agradece Caruso, que afirmou ter ganhado mais autoestima na terceira idade através deste personagem.
Com 179 capítulos, exibidos entre março e outubro de 2012, Avenida Brasil foi sucesso de público e de crítica. Até janeiro de 2016, segundo o portal Memória Globo, 132 países compraram os direitos de exibição da trama, que chegou a repetir o fenômeno semelhante de parar um País, como no caso da Argentina.
“[A novela tinha] texto e trama extraordinários, que eram escritos quase como episódios de série, deixando um gancho muito forte para o capítulo seguinte. Personagens muito bem construídos. Além disso, foi um encontro de atores muito especial”, justifica Débora Falabella sobre a comoção que Avenida Brasil despertou. “Carminha nunca sairá de mim. Tenho uma verdadeira paixão por este trabalho. E este elenco é também a chave do sucesso”, conclui Adriana Esteves.