Ninguém conhece por inteiro o bairro da Boa Vista até caminhar ao lado do poeta e ativista cultural Jomard Muniz de Britto. Não só porque ele conhece a história de várias casas de lá, lembra dos atendentes de padarias e bares e até mesmo sabe os recantos mais escondidos do Mercado da Boa Vista e da Rua de Santa Cruz. Não só porque ele vai encontrando diversas pessoas no meio da rua e cumprimenta cada uma delas. Mas, sim, porque, em certo momento, você percebe que Jomard é uma parte fundamental daquelas redondezas, que parte do bairro só se revela quando ele está por lá.
O ativista poético, figura essencial da vida cultural pernambucana e participante ativo dos principais debates artísticos brasileiros, é uma parte móvel desse bairro – justamente porque ele é alguém sempre em movimento. Uma mostra dessa inquietação crítica de Jomard, mesmo agora, já aos 75 anos, pode ser vista no livro A língua dos três pppês: poesia, política e pedagogia, organizado por Antonio Cadengue e Igor de Almeida Silva, que ganha lançamento sexta (27/7), às 19h, dentro da programação do 3º Seminário Nacional Sesc de Arte-Educação. O volume, reunindo textos publicados em jornais e revistas, poemas-manifestos e entrevistas, apresenta aspectos importantes da atuação do poeta pernambucano, assim como suas principais influências. A obra custa R$ 20, vendida durante o evento.
Ali, é possível entender o caminho que Jomard fez, desde sua experiência como membro do Serviço de Extensão Cultural, coordenado pelo pedagogo Paulo Freire, até seu entusiasmo pelo tropicalismo. São verdadeiras provocações poéticas, políticas e pedagógicas de alguém que notou muito cedo que esses três pontos dialogavam; e que percebeu que não se faz cultura sem pensar em educação e que não se faz nenhum dos dois sem uma atuação política. São textos ainda mais interessantes porque a sintaxe de Jomard tensiona os conceitos de que se utiliza, tornando discurso e linguagem inseparáveis.
Há também no livro uma recuperação histórica, principalmente através de entrevistas, do período da Ação Cultural Libertadora, que movimentou a cena cultural da cidade, e fez com que os candidatos a prefeito aceitassem escolher o presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife a partir da indicação de votação das entidades culturais. Assim, durante a gestão de Jarbas Vasconcelos, Jomard terminou ocupando o cargo, entre 1986 e 1987, depois de ter sido o mais votado no processo.
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta sexta (27/7)