A terra de Cervantes também o presenteou com a amizade do pintor Joan Miró, que rendeu o célebre ensaio de mesmo nome do artista catalão, através do qual o pernambucano relata a forma como Miró vivia sob a perseguição do regime fascista de Franco. E em 1997, dois anos antes de sua morte, é publicado o livro Entre o Sertão e Sevilha, que se volta para suas duas terras amadas, Pernambuco e Andaluzia.
A geografia é fundamental para qualquer análise da obra cabraliana. Todos os lugares em que ele morou o influenciaram, seja por meio de sua cultura, seja fazendo-o rememorar o Nordeste de sua infância através da saudade. Além de Sevilha e Pernambuco, João Cabral escreveu sobre a Paraíba e Alagoas numa série de poemas sobre cemitérios. “Não se consegue compreender um poeta visual sem os espaços”, pontua o escritor e diretor do setor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco, Mário Hélio, que conviveu com Cabral nos anos 1990. “A sua geografia se nutre da observação participante e também da história e da memória dos locais por onde passou.”
Em 1987, o poeta se aposenta do Itamaraty e volta ao Brasil, passando novamente a morar no Rio de Janeiro. Entretanto, sem nunca deixar de pensar e de escrever sobre a Zona da Mata de sua infância. Certa vez, uma amigo foi visitá-lo em seu apartamento localizado de frente para a Baía de Guanabara e se surpreendeu com o fato das cortinas estarem fechadas. Quando questionado, João respondeu que deslumbrante era, na verdade, poder estar em uma varanda com vista para um canavial. Em outra ocasião, afirmou que num contexto global de guerra, lutaria pelo Brasil, mas que se houvesse uma guerra civil, sem dúvidas lutaria por Pernambuco.