Em paralelo ao show que Zezé Di Camargo & Luciano fará nesta terça-feira (31) no Réveillon de Jaboatão dos Guararapes, na orla de Candeias, a dupla também está na estrada com a retomada de um projeto nostálgico que marcou a música sertaneja nos anos 1990: o espetáculo Amigos, que reúne, além deles, a dupla Chitãozinho & Xororó e o cantor Leonardo. Celebrando os 20 anos da última edição que durou quatro anos consecutivos em especiais de TV na Globo naquela época, o novo show, batizado de Amigos – A História Continua, já teve uma exibição especial na TV Globo no último dia 18 de uma das apresentações registradas em São Paulo e, junto com ele, um disco homônimo ao vivo, já disponível nas plataformas digitais pela gravadora Som Livre.
O álbum traz o registro na íntegra do novo espetáculo dos sertanejos, trazendo 39 faixas. Gravado no Allianz Parque, o show retoma o formato de sucesso marcado por grandes hits, seja do próprio repertório ou do sertanejo “raiz”, e interpretação alternada: tantos pelos próprios artistas, a união de todos eles e até a mistura entre os cinco cantores.
Com produção musical feita a quatro mãos – Cláudio Paladini, Hélio Bernal, Junior Maya e Ricardo Gama – os arranjos buscam manter, em sua maioria, os acordes originais das canções para manter o clima de nostalgia, mas há algumas atualizações que funcionaram bem, outras nem tanto.
O disco abre com Disparada – sucesso de Jair Rodrigues – retomando a abertura da primeira edição do Amigos, em 1995. Em seguida, cada artista entrega seu “cartão de visitas” em um medley que explica bem o sucesso de cada um na música sertaneja: Sinônimos (Chitãozinho & Xororó) / Pense em Mim (Leonardo) / É o Amor (Zezé Di Camargo & Luciano).
Por se tratar de um registro ao vivo, o disco acaba evidenciando que o tempo não tem sido generoso com as vozes de Zezé Di Camargo e Leonardo. Ambos primeiras vozes, o desempenho não soa tão satisfatório vocalmente em canções como Toma Juízo e Cumade e Cumpade, respectivamente. Em contrapartida, Xororó ainda ostenta uma voz forte, que pode ser provada nos impecáveis agudos de Galopeira e Se Deus Me Ouvisse, por exemplo.
A atualização nos arranjos de algumas canções também são outro ponto incômodo do disco. O clássico Rumo à Goiânia, de Leandro & Leonardo, ganhou um andamento mais acelerado, tirando toda a beleza da canção original. Outra falha vem no clássico Desculpe, Mas Eu Vou Chorar, onde incorporaram um arranjo confuso de pagode à música.
Mas o álbum tem muitos pontos altos, seja pela escolha do repertório, quanto em suas interpretações, reforçadas por um público atento e apaixonado, que se faz ouvir em cada faixa. Eu Juro, de Leonardo; Como Um Anjo, de Zezé e Luciano; e Evidências, de Chitão e Xororó, ratificam esses momentos.
A participação do maestro João Carlos Martins no clássico Fio de Cabelo também é um destaque positivo do álbum. Mas mais adiante, a temperatura esfria com a música inédita Única, cantada por todos, que soa aleatória e completamente deslocada do repertório.
Nas últimas faixas do disco, está o momento de maior emoção do show, e isso foi transpassado ao ouvir a interpretação da música Mano, feita por todos os Amigos. Gravada por Leonardo posteriormente em seu primeiro disco solo (Tempo, 1999) para homenagear o irmão e cantor Leandro, falecido em 1998, a canção foi sabiamente dividida entre todos os cantores, onde é nítida a comoção dos sertanejos em cada verso.
O show Amigos – A História Continua seguirá rodando o Brasil até agosto de 2020, quando está marcada a última apresentação em São Paulo. Ainda não há previsão se a turnê desembarcará em Pernambuco, mas testemunhar a união destes artistas, seja pessoalmente ou ouvindo este álbum, deixa claro que o sertanejo “das antigas” ainda tem seu lugar cativo no coração de muitos brasileiros.