Rashid entrega último capítulo de seu seriado rap

Desde 2019, o rapper paulista Rashid vem entregando episódios de seu novo disco, 'Tão Real', pensado como uma série e encerrando agora a trilogia
Rostand Tiago
Publicado em 22/01/2020 às 9:07
Desde 2019, o rapper paulista Rashid vem entregando episódios de seu novo disco, 'Tão Real', pensado como uma série e encerrando agora a trilogia Foto: Foto: Moysah/Divulgação


Com mais de dez anos de estrada, Rashid não gosta de falar pouco em seus discos. Sempre ali na faixa das 15 músicas, às vezes um pouco mais, outras um pouco menos, o rapper paulista volta a falar de si e do mundo com amplitude. Mas os tempos são outros, há espaço para esse grande volume de sons e rimas serem realmente escutados de uma vez, principalmente quando os singles parecem dar a tônica do mercado? Foi pensando nisso que Rashid decidiu dividir as 18 faixas de seu novo disco, batizado de Tão Real, em três segmentos. Ou melhor, três temporadas, criando um projeto que carrega uma alma de seriado, com direito à trailers, spoilers, podcast e até um documentário comentando o trabalho. Hoje, a terceira e última temporada é lançada nas plataformas, reunida com os trabalhos anteriores em um disco.

"Sinceramente, é tudo motivado pela vontade de ser ouvido. É um projeto que começa em 2019, um ano que teve um caminhão de novos discos de rap e em um momento que a frequência de singles acabam criando um novo costume no país. Queria que as pessoas parassem para ouvir nossa música de verdade. Então, sabendo que tinha muita música, abraçamos essa ideia de dividir, a ideia do seriado. Mas a gente também valoriza a ideia do disco, de se colocar um disco e passar um tempo ouvindo aquilo ali", afirma Rashid, em entrevista por telefone.

Entres discos, EPs e mixtapes, o rapper de 31 anos ainda tem muito sobre o que falar. O Tão Real é se exercício de se conectar com uma realidade, seja com o mundo ou em um sentido mais introspectivo. Sem medo de deixar suas rimas muito ligadas à um certo período, fala dos mundos em que vive: a rua, o Brasil, o rap. Procura falar também de quem tenta sabotar sua trajetória, mas também falar de quem compartilha afetos. Entra nessas especificidades da vida, desde o alcoolismo, algo que o perseguia de certa forma, assim como também fala das percepções que tem do tempo ou de sua própria existência.

 

Nesse cenário, também reflete sobre a existência do rapper Rashid e do ser humano Michel, seu nome de batismo, como explana na faixa-título. São duas personas que parecem ter se tornada uma, trabalhando 24 horas por dia, mas que talvez sejam olhadas com uma certa distinção. “As duas pessoas estão sempre ali, mas parece que o observado é só o Rashid. Ignoram que há uma vida normal ali, de andar de bicicleta, passear com o cachorro e ficar doente. Fazer essa visualização dessas duas pessoas também ajuda a mostrar que o artista não é uma pessoa recebeu um raio na cabeça e é escolhido para fazer isso, algo que acaba esvaziando sua humanidade”, explica.

Parceiros

A amplitude temática também encontra consonância com uma amplitude sonora. Tendo a letra como fio condutor, Rashid permeia as três temporadas do projeto com batidas que vão de um boom-bap mais tradicional até texturas mais pop. Criava a música, pensava qual direcionamento queria dar e ia atrás da pessoa mais capacitada. "Algumas coisas eu mesmo produzi, mas sou ciente das minha limitações enquanto produtor. Então colocava na cabeça para onde eu queria ir e fazia esse exercício de observação para ver quem poderia se encaixar melhor", relata Rashid. Assim, firmou parceria com nomes com Nave, Renan Saman, Dogz, LR Beats e Skeeter.

Dentro desse escopo, Rashid teve espaço para usar e abusar de parcerias também na voz, encontrando nomes badalados como Emicida (Pipa Voada), Duda Beat (Sobrou Silêncio) e Drik Barbosa (Um Mundo de Cada Vez) passando por outros que vêm conquistando um importante espaço, como o trio paranaense Tuyo (Meu Amigo Tempo) e Luccas Carlos (Não Pode). "Foram parcerias sempre formadas a partir do que a música pedia. Não pensava ‘preciso fazer uma música com fulano’, mas trabalhava nela e via quem melhor se encaixava, para depois ir atrás", explica.

É um dos mais intensos projetos de alguém que já está há um bom tempo no jogo. Rashid faz parte de uma safra que fica ali na transição entre os grandes veteranos do rap nacional e uma nova geração que eclode mais recentemente. "De uma perspectiva, eu estou há pouco tempo nessa corrida, mas comparado com essa galera mais nova, estou há muito tempo. Acho que cheguei aqui porque sempre encarei como uma maratona, em que não poderia gastar muita energia em um imediatismo e sempre pensar no futuro, para não perder o fôlego. Os artistas que me inspiram, Mano Brown, Jay-z, Gilberto Gil, são assim. Construo minha carreira enquanto me construo", conclui.

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