O político e advogado Antônio Campos (Podemos) participa nesta segunda (17), às 15h30, da sua solenidade de posse da presidência da Fundação Joaquim Nabuco, com presença do ministro da Educação Abraham Weintraub. Indicado por Fernando Bezerra Coelho para o cargo, substituindo Alfredo Bertini, que passou quatro meses no posto, o novo gestor fala nesta entrevista sobre seus planos, promete foco na educação básica, defende o contingenciamento de recursos das universidades e garante que não recebeu nenhuma recomendação ideológica do MEC.
Nos 170 anos de Nabuco, a mensagem dele continua muito atual, contemporânea. O que é que disse Nabuco? Que acabar com a escravidão não nos basta, é preciso destruir a obra da escravidão. E para destruir essa obra da escravidão, ainda marca nacional – de certa forma, as senzalas estão multiplicadas nas favelas atuais – a grande revolução é pela educação. Por isso, embora a Fundação tenha um tripé que é a pesquisa, a educação e a cultura, iremos focar, sem perder a perspectiva da cultura e da pesquisa, ser um braço operativo do Ministério da Educação em educação no Nordeste, fazendo formação de gestores e pesquisa como linha auxiliar para aplicação do recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) no Nordeste.
Eu destaco que o próprio Nabuco, além de dizer a questão de destruir a obra da escravidão, exaltou a importância da infância na formação do adulto. Concordarmos que o Brasil precisa fazer um esforço no ensino básico. Isso é uma tendência mundial, e o ministro Abraham (Weintraub) deixou claro no Senado, ao falar do Plano Nacional de Educação, que iria focar o ensino básico. A educação como a arma que pode vencer e destruir a obra ainda marcante da escravidão do Brasil
No início de julho nós vamos apresentar o plano estratégico da nossa gestão em coletiva, as linhas mestras nas áreas de cultura, pesquisa, educação e demais áreas fins.
E nós vamos participar, com a Sudene, do novo Plano de Desenvolvimento do Nordeste, ajudando nos setores que nos dizem respeito, com o acervo de nossas pesquisas, com a questão da inovação da educação. E vamos também aumentar e dinamizar a internacionalização da Fundação, com foco no que já existe e nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Índia, na China, na Alemanha e em Portugal.
Outro aspecto da diretriz dessa gestão é o diálogo com os servidores e com a sociedade. Tive uma reunião com o sindicato dos servidores e a ouvidoria. Faremos aplicação de gestão e governança aqui na Fundação. E estamos fazendo o dever de casa, diminuindo 20% de cargos comissionados – mandamos esse contingenciamento para o MEC. E farei de um jeito prestigiando os servidores. Vou trazer menos gente e apostar no que está dando certo. Confirmei nesta semana Ana Farache não só na função (dos cinemas), mas criando um Núcleo de Audiovisual, colocando na coordenação dela a Massangana Vídeo.
Mario Helio (Gomes) está em processamento a nomeação para a Meca (Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte). Isso significa que vamos dar uma reformatada na editora Massangana, torná-la contemporânea, com o digital e o físico.
E nessa atualização da Fundação nós temos um forte impacto, claro, do mundo digital. Na política, na cultura, na música, na literatura, no conhecimento, na forma de se relacionar, convergindo tudo para o smartphone. Colocar parte do acervo que temos, se possível, a serviço da comunidade dos brasileiros e do mundo. Somos e seremos o banco de dados do Nordeste do ponto de vista de educação, pesquisa e cultura.
Estamos dando prioridade a um plano de proteção contra incêndio para o Museu do Homem do Nordeste. É um acervo de mais de 15 mil peças que precisa ser visto. A segurança patrimonial da casa toda será revista. Preservação contra incêndio, de chuva, de roubos, vamos rever tudo isso.
Vamos ter pautas novas também. Vamos fazer o Museu do Mar, em uma parceria público privada, e estamos conversando para que o acervo de Frederico Pernambucano sobre o cangaço venha para cá, com a iniciativa privada adquirindo e cedendo para gente. Fred tem história nessa casa. E vamos trabalhar a agenda cultural em Pernambuco, no Brasil e no mundo.
O ministro me deu autonomia para gerir a Fundaj. Estou em sintonia com o ministro. Quanto a essa questão do contingenciamento, que já disse que é um contingenciamento, pelo que entendo e vi, provisório e revisável, que o diga a recente liberação de recursos para a UFPE e UFRPE. Esse tema é um tema anterior ao ministro Abraham, está na emenda constitucional 95 (PEC do Teto de Gastos), que congelou por 20 anos os recursos.
Eu vejo o ministro Abraham como um ministro do diálogo. E meu clima com ele é de diálogo permanente. Os assuntos da Fundação eu tenho trabalhado diretamente com ele, que tem me dado autonomia e não me fez nenhuma recomendação ideológica quanto à casa.