Plano econômico permitiu que empresas planejassem a produção

Moeda forte possibilitou crescimento sustentável em setores como a construção civil e a indústria automobilística
Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 01/07/2014 às 10:30
Moeda forte possibilitou crescimento sustentável em setores como a construção civil e a indústria automobilística Foto: Arte sobre foto de Heudes Regis


Há 20 anos, Arnaldo Xavier trabalhava na empresa da sua mãe, uma pequena confecção em Santa Cruz do Capibaribe, Agreste pernambucano. “Na época, a gente começava a produzir uma peça (de roupa) achando que ficaria pronta por um preço x. Quando terminava, tinha que vender por mais que x e nem sempre esse valor era o que o mercado estava disposto a pagar, dificultando a venda”, lembra. O real trouxe a previsibilidade para o dia a dia das empresas e mostrou que sem planejamento não há crescimento sustentável, o que parece óbvio, mas não era numa época em que a inflação mensal chegava a 46,58%, como ocorreu em junho de 1994. Como toda realidade é heterogênea, o Plano Real trouxe impactos diferentes. Empresários que tinham negócios competitivos encontraram na estabilidade uma aliada do crescimento. Por outro lado, setores tradicionais, como bancos, indústrias têxtil e metal-mecânica passaram por adversidades e muitos encerraram as suas atividades ainda na década de 90.

Não foi o caso dos pequenos produtores do polo de confecções de Santa Cruz do Capibaribe. “Em 1994, todo o polo ocupava seis ruas no Centro da cidade e 100% das peças que fazíamos eram vendidas na feira local”, recorda Arnaldo. Hoje, ele é diretor da Rota do Mar, que fundou em 1996, quando começou produzindo 4 mil peças de roupa por mês com 15 funcionários. Agora a produção mensal é de 200 mil peças, sendo grande parte comercializada em lojas. A companhia emprega 600 pessoas sem contar os cerca de 500 prestadores de serviços. “A estabilidade foi um dos fatores que fez a empresa dar certo. Depois dela, conseguimos planejar desde a compra da matéria-prima até o preço de venda”, conta. Por incrível que pareça, a concorrência com o mercado externo não significou um problema para a Rota do Mar. “A abertura do comércio aumentou o leque de fornecedores. A China pode ser uma parceira, quando se consegue importar em boas condições”, comenta, acrescentando que 50% da matéria-prima utilizada pela empresa vem do exterior, incluindo acessórios, bonés, alguns tipos de tecidos e botões.

Pela mesma rota de crescimento, passaram empresas de setores nos quais a estabilidade contribuiu para aumentar o mercado consumidor: a indústria automobilística, de eletrodomésticos da linha branca, de alimentos e de outro bem quase inacessível com a inflação alta: a casa própria. “Com a estabilidade, os bancos passaram a financiar a empresa e o consumidor que queria adquirir um imóvel”, explica o diretor do Sindicato da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon-PE) e da Construtora Carrilho, Antonio Carrilho.

As construtoras passaram a crescer mais depois dos anos 2000, porque as crises das décadas de 90 trouxeram incertezas para quem estava planejando comprar um bem a longo prazo. Depois da virada do século, a construção civil passou a ser um dos motores que puxaram o crescimento do Estado. Em 2004, o Sinduscon tinha registrado 1840 construtoras, contra as 3,5 mil cadastradas atualmente. “A partir de 2005, crescemos em média 30% ao ano em faturamento. Antes, não fazíamos essa medição”, conta Carrilho.

“A estabilidade criou mais condições de trabalho para a construção civil. Em 94, não havia a credibilidade que obtemos com o real forte”, explica o presidente da Construtora Rio Ave, Alberto Ferreira da Costa. A empresa erguia dois prédios simultaneamente na década de 90. Cada edifício leva, na média, três anos para ser concluído. “Nos últimos três anos, nossa média anual é de nove obras ao mesmo tempo”, diz o diretor comercial da Rio Ave, Alberto Ferreira da Costa Júnior. Ele argumenta que o controle da inflação trouxe ao mercado outro tipo de consumidor: o que adquire imóveis como investimento. O crescimento da Rio Ave passou também pela folha de pessoal. Em 1994, eram cerca de 200 funcionários. Hoje são 900.

“O real é um patrimônio do Brasil. Tirou muita gente da pobreza. As pessoas passaram a consumir mais, ampliando os mercados das empresas”, afirma o diretor de negócios corporativos da Baterias Moura, Luiz Mello. A empresa cresceu muito no rastro do boom do consumo automotivo, que apresentou recordes crescentes de produção em vários anos desde a década de 90. Somente a quantidade de funcionários da Moura aumentou cinco vezes, comparando o atual número de trabalhadores com os de 1994. Nos primeiros anos do real, a valorização da moeda também permitiu às indústrias importarem equipamentos novos para se modernizar.

TAGS
SETORES produção empresas indústria
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory