País de dimensões continentais e enormes recursos minerais, o Brasil tem explorado seu potencial de mineração por séculos, mas duas tragédias em três anos tingiram essa riqueza de sangue e lama.
No ano passado, apenas o minério de ferro representou quase 17% das exportações brasileiras, arrecadando mais de US$ 20 bilhões.
Carro-chefe de uma indústria de mineração com mais de 8.000 empresas, a Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, está no centro de uma tragédia que deixou pelo menos 99 mortos e 259 desaparecidos, após o rompimento na sexta-feira passada de uma barragem em Brumadinho.
Em novembro de 2015, a empresa já se viu envolvida em um desastre semelhante, que deixou 19 mortos e causou enormes danos ambientais perto de Mariana, a 120 km de distância.
Essas duas catástrofes ocorreram no estado de Minas Gerais, onde a maior parte da atividade de mineração está concentrada.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Mineração (IBRAM), a cada ano mais de 180 milhões de toneladas de ferro são extraídas do solo de Minas Gerais.
Este metal é muito procurado, especialmente pela China, que é de longe o maior comprador de ferro brasileiro (54% das exportações deste minério são destinadas ao gigante asiático), à frente do Japão e da Malásia.
O Brasil também possui grandes reservas de ouro de bauxita, níquel e manganês, além de uma das maiores reservas de urânio do mundo.
O país também produz 98% da oferta global de nióbio, um metal leve usado na siderurgia e na aeronáutica.
Mais de 300 minas de vários tamanhos estão em atividade no Brasil.
A mina da Vale onde aconteceu a ruptura de uma barragem produz de 2 a 7% do minério de ferro da companhia.
Embora ainda seja cedo demais para determinar com precisão o impacto ambiental do desastre, espera-se que a comoção provocada no Brasil reforce as normas de segurança no setor.
E o faro de a história se repetir três anos depois, sugere que nem a Vale nem as autoridades brasileiras aprenderam as lições do desastre de Mariana.
Uma mudança de postura implicaria uma reviravolta forçada de posicionamento do governo do novo presidente Jair Bolsonaro, que parecia inclinado a relaxar e flexibilizar as regras sobre a proteção ambiental e que criticava o zelo dos órgãos públicos responsáveis pelos controles.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou esta semana que o governo em breve estabelecerá novos regulamentos.
O modelo da barragem de Brumadinho não é usado em todas as minas brasileiras.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), 204 das 790 barragens brasileiras apresentam altos riscos, seja para vidas humanas ou para o meio ambiente.
O diretor-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, anunciou na terça-feira o desmantelamento de dez barragens cujas estruturas são similares àquelas que romperam em Brumadinho.
Ele disse que as operações reduziriam a produção anual de minério de ferro da Vale em 40 milhões de toneladas, uma queda de 10%.
O anúncio provocou um aumento nos preços do minério de ferro, já que o mercado espera uma queda na oferta global.