O derramamento de óleo no mar, que afeta mais de 160 praias do Nordeste desde o início de setembro, traz à tona algumas possibilidades sobre a origem de uma das maiores tragédias ambientais do Brasil. Uma deles é de que o vazamento tenha sido provocado por uma espécie de "navio fantasma".
Os chamados navios fantasmas do século 21 não são embarcações mal-assombradas, mas aquelas que procuram navegar sem registro oficial. Para isso, trocam de nome e até desligam o transponder. O aparelho, obrigatório em todas as embarcações, registra a localização em tempo real de cada navio.
"Historicamente, parte do petróleo produzido sempre foi comercializado por canais não oficiais", explica o economista Edmar Almeida, da Universidade Federal do Rio (UFRJ). "Tanto é que nas estatísticas do petróleo há diferença entre o que é declarado como produção e o que é declarado como consumo." Segundo ele, isso pode ocorrer por várias razões, como roubo e tráfico de combustível, guerras e conflitos internacionais ou sanções econômicas.
Coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Pfeifer diz que as sanções americanas à Venezuela e a países que comercializem com ela "podem estar estimulando a marginalidade".
Os navios fantasmas costumam usar rotas menos conhecidas. Com isso, ficam mais vulneráveis a contratempos. Um eventual derramamento de óleo pode ocorrer por acidente ou pelo descarte de mercadoria irregular para evitar flagrantes. "O tráfico de combustível é uma das cinco atividades ilícitas mais lucrativas, atrás de drogas, armas, pessoas e animais", diz o especialista venezuelano Rafael Villa, do Instituto de Relações Internacionais da USP. "E sabemos que na Venezuela um dos graves problemas é o contrabando de combustível."
Um golfinho foi encontrado morto e com manchas de óleo no corpo, no último sábado (12), em uma praia do município de Feliz Deserto, no litoral sul de Alagoas. A informação é do Instituto Biota de Conservação, que fez o recolhimento do golfinho para necropsia. Segundo relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), 13 tartarugas e uma ave já morreram oleadas no litoral nordestino até o sábado.
Ainda de acordo com o Ibama, até sábado foram 161 praias atingidas em 72 municípios dos nove estados da região Nordeste.
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