Atualizada às 11h19
A presidente argentina Cristina Kirchner afirmou nesta quinta-feira que não acredita no suicídio do promotor Alberto Nisman, e sim que sua morte foi usada para "uma operação contra seu governo".
"O suicídio não foi suicídio", afirmou, referindo-se ao promotor que investigava o atentado contra a associação judaica AMIA e que a acusou de acobertar o Irã neste caso. "Ele foi usado vivo e depois precisaram dele morto. É triste e terrível", afirmou, em carta publicada no Facebook.
Além da presidente, Nisman acusou seu chanceler Héctor Timerman e o deputado Andrés Larroque, líder da agrupação kirchnerista La Cámpora, de "confabular para encobrir ex-funcionários iranianos indiciados por ter idealizado ou realizado o atentado contra a AMIA em Buenos Aires, em 1994.
"A acusação de Nisman constitui um verdadeiro escândalo político e jurídico", afirmou ainda.
Em sua extensa carta, Kirchner insiste que "a denúncia do promotor Nisman nunca foi em si mesma a verdadeira operação contra o governo. (...) Nisman não sabia disso e provavelmente nunca soube".
"A verdadeira operação contra o Governo era a morte do promotor depois de acusar a presidente, seu chanceler e o secretário-geral de La Cámpora de serem acobertadores dos iranianos acusados pelo atentado terrorista contra a AMIA", acrescentou.
A presidente, que não vai à sede presidencial da Casa Rosada desde que fraturou o tornozelo em 27 de dezembro e realiza suas atividades em sua residência oficial de Olivos (periferia norte de Buenos Aires), só tem se pronunciado através do Facebook desde que Nisman divulgou sua acusação na semana passada, provocando um rebuliço político no país.
O texto completo da denúncia de Nisman foi divulgado pela justiça na terça-feira.
Na denúncia, Nisman afirmou que Kirchner emitiu uma ordem expressa para aplicar um plano de acobertamento que desvinculasse os acusados iranianos do atentado da AMIA, garantindo-lhes impunidade.
Nisman acusou o governo argentino de combinar com o Irã o reativamento do comércio de petróleo em troca de desistir dos pedidos à Interpol que ainda pesam sobre cinco iranianos suspeitos de participar do atentado, que há 20 anos deixou 85 mortos e 300 feridos em Buenos Aires.
Segundo o promotor, "o plano elaborado por Cristina Fernández incluía o fim das notificações vermelhas da Interpol - um plano frustrado inesperadamente pela ação firme do secretário-geral Ronald K. Noble".
Especulações
Até o momento, os porta-vozes do governo se inclinavam pela hipótese de suicídio e a oposição defende a ideia de homicídio, dando a entender que o governo quis calá-lo.
Mas a descoberta de um terceiro acesso ao apartamento do promotor, na quarta-feira, fez crescer as especulações na Argentina.
Nisman foi encontrado morto no domingo com um tiro na têmpora que não deixou restos de pólvora na mão.
Aos gritos de "Argentina" e "Justiça", ao menos duas mil pessoas se reuniram no início da noite de quarta diante da AMIA para exigir o total esclarecimento da morte de Nisman e do ataque contra a Associação Israelita, que deixou 85 mortos.
"Exigimos de todos os poderes do Estado que redobrem os esforços para esclarecer" o maior atentado terrorista da história do país, disse o presidente da AMIA, Leonardo Jmelnitzky.
Investigadores do caso estudam as digitais deixadas e uma câmara de equipamentos de refrigeração, situada entre o apartamento do promotor e o do vizinho, no 13º andar de um luxuoso prédio do bairro Puerto Madero, noticiou a agência DyN.
Só é possível chegar a este terceiro acesso de um dos dois apartamentos porque o prédio não tem escadaria externa.
A promotora Viviana Fein, encarregada do caso, tomou o depoimento do chaveiro que, na noite de domingo, abriu a porta do apartamento onde Nisman foi encontrado morto.
De nome Walter, o homem contou à imprensa que só trabalhou na porta de serviço, que estava fechada e com a chave na parte de dentro, mas sem estar trancada.
A investigação busca esclarecer também o papel de Diego Lagormasino, colaborador de Nisman que admitiu ter levado, a seu pedido, na noite de sábado, o revólver calibre 22, de onde saiu o tiro que o matou.