O Parlamento Europeu encorajou nesta quarta-feira a Turquia a aproveitar as celebrações do centenário do massacre dos armênios pelo Império Turco Otomano para "reconhecer o genocídio e abrir caminho para uma verdadeira reconciliação entre os povos turco e armênio".
"Meu próprio povo cometeu genocídios", lançou o eurodeputado alemão Elmar Brok (PPE, conservadores), evocando uma obrigação moral de reconhecer tais massacres.
"Centenas de milhares de armênios encontraram a morte nas mãos dos capangas do Império Otomano" entre 1915 e 1917, disse antes da votação de uma resolução na Eurocâmara aprovada por ampla maioria.
"Não se pode negar a realidade histórica", estimou no debate a vice-presidente da Comissão Europeia, Kristalina Georgieva, reconhecendo "a divergência de postos de vista" entre a Armênia e a Turquia, país candidato a ingressar na União Europeia (UE).
O genocídio armênio é reconhecido por diversos países, incluindo Argentina, Uruguai, França, Suíça, Rússia e, desde 1987, o Parlamento Europeu.
A Turquia rejeita o termo genocídio, embora reconheça que ocorreram massacres e que entre 250.000 e 500.000 armênios morreram em Anatolia entre 1915 e 1917 durante o Império Otomano. Os armênios dizem que 1,5 milhão de pessoas morreram.
O Império Otomano foi desmantelado em 1920, dois anos depois da criação de um Estado independente armênio, em maio de 1918, posteriormente absorvido pela União Soviética. O Estado turco moderno foi fundado em 1923 por Mustafa Kemal Atatürk.
Atualmente, 3,2 milhões de armênios vivem na Armênia, e a diáspora é calculada em mais de 8 milhões de pessoas, residentes em Estados Unidos, Oriente Médio, França, Canadá e América Latina, principalmente.
Sem pronunciar a palavra genocídio, Georgieva disse esperar que as celebrações do centenário, em 24 de abril, sejam "uma ocasião para avançar à reconciliação, que está no coração do projeto europeu".
A comissária reconheceu ante os deputados que nem todos os Estados membros da UE compartilham o mesmo ponto de vista em relação ao massacre de um século atrás. "Seguem existindo divergências... entre os Estados membros sobre este tema. Como instituição é nossa obrigação refletir unidade", disse.
Ancara reeitou antecipadamente a votação do Parlamento europeu.
"Seja qual for o resultado da votação do Parlamento da União Europeia, entrará por um ouvido e sairá imediatamente pelo outro porque a Turquia não pode reconhecer um pecado ou um crime deste tipo", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, à imprensa.
Erdogan havia taxado na terça-feira de delírios as declarações de domingo do papa Francisco, que usou a expressão genocídio para descrever os massacres de armênios.
A resolução do Parlamento acontece depois do discurso de Francisco, pronunciado no domingo durante uma missa na Basílica de São Pedro e desencadeou uma grave crise diplomática entre o Vaticano e a Turquia, aliada importante na luta contra o islamismo radical que está sendo devastador para as comunidades cristãs do Oriente Médio.
Em sua homilia de domingo, Francisco lamentou a indiferença com a qual o mundo acompanha os massacres cometidos atualmente em muitas partes do mundo e, em particular, contra os cristãos do Oriente Médio e da África.
O Papa também convocou a Armênia a entrar no caminho da reconciliação, um apelo para que normalize suas relações com a Turquia.