O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão a 12 anos e 7 meses de prisão, teve sua extradição autorizada pelo governo italiano nesta sexta-feira (24). Ele havia fugido para a Itália com documentos falsos para não ser preso, mas acabou localizado pela Polícia Federal e detido em uma operação da Interpol no ano passado.
Como não é mais possível recorrer da decisão, ele irá voltar ao Brasil -mesmo sendo detentor de cidadania italiana. É a primeira vez que a Itália extradita um cidadão nacional para o Brasil.
Pizzolato fugiu do Brasil para a Itália em novembro de 2013. Um dia após a expedição de seu mandado de prisão, ele divulgou, por meio de seu advogado, uma nota dizendo que havia fugido para escapar das consequências de um "julgamento de exceção" e buscar uma chance de conseguir um novo julgamento. Ele foi o único da lista dos 12 condenados no mensalão que tiveram a prisão decretada a não se entregar à polícia.
Além disso, alegou que gostaria de ver seu caso sendo novamente analisado pela Justiça italiana, onde não haveria pressões "político-eleitorais". Devido à sua cidadania, ele estaria em relativa segurança na Itália, uma vez que o país europeu não extradita seus nacionais.
Tão logo sua carta foi divulgada, a Polícia Federal incluiu o nome de Pizzolato na difusão vermelha da Interpol, deixando-o na lista internacional de criminosos procurados.
SANTA CATARINA
Segundo a PF, foi por Santa Catarina que Pizzolato deixou o Brasil, a partir da cidade de Dionísio Cerqueira (SC). Ele percorreu 1.300 quilômetros até chegar em Buenos Aires. Em 12 de setembro, pegou um voo para Barcelona, cuja passagem foi comprada pela mulher dele, Andrea Eunice Haas, e de lá seguiu para a Itália.
Na fuga, planejada desde 2007, usou documentos falsos em nome do irmão Celso Pizzolato, morto em 1978. Ainda de acordo com a PF, além do passaporte italiano com o nome de Celso, Pizzolato falsificou RG, CPF e título do eleitor do irmão em Santa Catarina em 2007.
No dia 14 de setembro de 2013, ele já estava na Itália, onde comunicou à polícia local ter perdido documentos.
"Não havia nenhum registro de entrada de Henrique Pizzolato em nenhum lugar do mundo. Faltava essa peça para fechar o quebra cabeça", disse o delegado Luiz Cravo Dórea, coordenador-geral de cooperação internacional da PF, quando o condenado no mensalão foi localizado.
Foi a partir de uma informação da Itália que o mistério foi desfeito. Segundo autoridades italianas, no ano passado, Celso Pizzolato requisitou a mudança de status para cidadão residente. Morto há 35 anos num acidente de carro no Paraná, a PF localizou o túmulo dele no interior de Santa Catarina.
Com base nessa informação, a PF cruzou registros da entrada e saída de Pizzolato na Argentina, onde ele apresentou o passaporte italiano falso emitido em 2010 e foi feito coleta das digitais, com as digitais da carteira de identidade dele original e a falsa, em nome do irmão. Confirmou que se tratava da mesma pessoa nos três documentos.
PRISÃO
No dia 4 de fevereiro de 2014, a PF teve a informação que um carro em nome da mulher de Pizzolato estava na cidade italiana de Maranello. O Punto vermelho tinha placa de Málaga, na Espanha, país onde ela estava antes da fuga dele. Ambos haviam solicitado em 2010 autorização de residência na Espanha, o que fez a polícia incluir o país na investigação.
Pizzolato estava na casa do sobrinho Fernando Grando, funcionário da Ferrari em Maranello (a 332 km de Roma). Em torno de dez policiais participavam de uma tocaia há alguns dias ao apartamento de Grando. Um "varredor" avisava por rádio os movimentos do apartamento térreo localizado na via Vandelli, em Pozza, um distrito de Maranello.
Depois de uma noite de monitoramento, a polícia italiana percebeu indícios de que haveria outra pessoa no imóvel.
Primeiro, Grando e dono do apartamento, deixou a casa sem parar para trancar a porta, fazendo a polícia perceber que havia mais gente dentro do imóvel. A polícia também percebeu que o relógio de energia elétrica e de água estavam funcionando mesmo após a saída de Grando, e resolveram cortar o fornecimento de energia.
Passados alguns minutos, a mulher de Pizzolato abriu a janela do apartamento. Esta foi a oportunidade para a polícia tocar a campainha. Ao atender, Haas se identificou com seu nome verdadeiro.
Logo depois, Pizzolato apareceu sem barba e bigode e se identificou como Celso Pizzolato, irmão morto em acidente de carro há 35 anos. Contudo, Pizzolato tinha uma aparência diferente da que aparecia no documento. Só depois, Pizzolato admitiu a verdadeira identidade e foi preso, no dia 5 de fevereiro, por uso de documento falso, mas a pedido do Brasil para fins de extradição.
A partir daí teve início o processo de extradição, que começou com uma derrota para o Brasil na primeira instância, revertida posteriormente pela Corte de Cassação e culminando na autorização do governo italiano para seu retorno ao Brasil.