Depois de passar várias horas prestando depoimento ao juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Lula (PT) afirmou que nunca teve tanta vontade de ser presidente do Brasil. O petista falou, na noite desta quarta-feira (10), para milhares de militantes na Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba, onde foi montado um palco em que se revezaram no microfone políticos aliados e representantes de entidades sociais. A ex-presidente Dilma Rousseff também participou do ato.
Assim que subiu ao palco, o petista agradeceu pela mobilização dos que saíram dos seus estados para prestar solidariedade a ele e disse que sua relação com os eleitores é diferente daquela que outros políticos constroem com seu eleitorado. "Eu jamais pude imaginar que um ônibus pudesse sair do Acre, do Piauí, do Rio Grande do Norte, de vários Estados num ato de solidariedade a mim. Se não fosse vocês, eu não suportaria o que eles estão fazendo comigo. Minha relação com vocês é de companheiros em um projeto de País", afirmou o ex-presidente.
Em sua fala Lula ainda criticou a postura da imprensa durante a cobertura da Operação Lava Jato, segundo ele, sempre publicando matérias negativas à sua imagem. "Só no Jornal Nacional dos últimos 12 meses foram 18 horas de matérias negativas contra o Lula na tentativa que eu seja massacrado antes de ser julgado. Isso são 12 partidas entre o Real Madrid e o Barcelona", cravou.
LEIA MAIS - Veja os vídeos do interrogatório de Lula ao juiz Sérgio Moro
Sobre o depoimento a Moro, Lula disse que nenhuma prova do seu envolvimento no esquema de corrupção foi apresentada durante o depoimento. "Eu pensei que os meus acusadores iriam mostrar uma escritura, um documento, pagamento, qualquer coisa que eu tenha feito para ter o tal apartamento que ele diz que é meu. Depois de dois anos de massacre, eu pensei que tivesse um documento dizendo que o lula já dormiu no apartamento, já morou lá, mas não. Só me perguntaram se eu conheço o Vaccari (...). Conheço e não tenho vergonha das pessoas que eu conheço. Eu não quero ser julgado por interpretações, mas por provas", enfatizou o petista.
Depois de ter, nesta semana, uma solicitação de gravação própria do interrogatório negada por Sérgio Moro, Lula explicou porque fez o pedido. "Quando eu pedi para que meu depoimento fosse transmitido ao vivo é porque minha mãe, que nasceu e morreu analfabeta, costumava dizer que a gente sabe que uma pessoa está mentindo não é pela boca, mas pelos olhos. Eu não seria digno de vocês, desse movimento que está aqui representado se tivesse culpa e estivesse falando com vocês agora. Eu virei em quantas audiências forem necessárias. Prestarei quantos depoimentos forem necessários, porque se tem um brasileiro, um ser humano que está em busca da verdade, este sou eu".
"Minha mulher já morreu. Eu tenho cinco filhos e oito netos e disse (no depoimento): vocês não respeitam sequer uma criança de 4 anos que sofre bullying na escola onde estuda por causa das mentiras contadas pela imprensa sobre o Lula, sobre o PT e outras pessoas que estão aqui", disse. E continuou, dirigindo-se ao público: "eu só posso dizer uma coisa a vocês (...), se um dia eu tiver que mentir pra vocês eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua desse País, porque eu jamais poderia mentir para pessoas como vocês, que há muito tempo depositam confiança em mim, acreditam e me seguem".
Em outro momento, Lula voltou a falar que será candidato á presidência em 2018. "Eu quero dizer a vocês que eu estou vivo e me preparando para voltar a ser presidente deste País. Nunca tive tanta vontade quanto agora. De fazer mais, de fazer melhor e mostrar que se a elite não pode consertar esse País, o metalúrgico com o 4º ano primário pode", afirmou.
Lula foi a Curitiba para ser interrogado pelo juiz Sergio Moro pela primeira vez como réu, no âmbito da ação em que é acusado de receber propina da OAS. O depoimento do ex-presidente demorou cerca de 5 horas, após tentativa frustradas na Justiça de adiar o intergatório.