O presidente Michel Temer (PMDB) assumiu a questão da transferência de parte das atribuições da Hemobrás para uma nova fábrica de hemoderivados que poderá ser construída em Maringá, no Paraná. Na semana passada, Temer recebeu os deputados pernambucanos Augusto Coutinho (SD) e Cadoca (Sem Partido), quando o assunto foi tratado. “Fiquem tranquilos. Já chamei para mim e já conversei com o Ricardo”, afirmou o presidente aos parlamentares pernambucanos, referindo-se ao ministro da Saúde, Ricardo Barros. Temer teria assegurado, também, que esse assunto não avançaria sem a anuência dele.
Nessa quarta (9), em entrevista à Rádio Jornal, Barros foi enfático ao afirmar que já tinha a solução para a conclusão da fábrica em Goiana, na Mata Norte, através de uma PPP com a empresa irlandesa Shire, e que não iria entrar em questão de “bairrismo”.
O ministro disse, ainda, que a fábrica era um “esqueleto”. “A gente tem um esqueleto de uma fábrica aí há muitos anos e eu consegui o investidor para terminar esse esqueleto e por para funcionar a fábrica (...) Eu não vou aceitar essa discussão bairrista, nós temos que resolver o problema e eu estou com a solução para fazer funcionar essa fábrica que recebi anos sem funcionar e inacabada. Eu tenho a solução. Espero que Pernambuco receba de braços abertos a solução desse problema”, declarou o ministro da Saúde.
A decisão de Temer veio após uma mobilização da bancada pernambucana, com participação de deputados da Paraíba. A proximidade do Estado vizinho com a cidade de Goiana pode levar para lá empresas de suporte à estatal.
Na próxima terça-feira (15), será lançada uma Frente Parlamentar em Defesa da Hemobrás. A presidência ficará com o deputado João Fernando Coutinho (PSB) e as vices serão compartilhadas entre nomes oposicionistas, como Augusto Coutinho (SD) e o senador Humberto Costa (PT). Mais de 200 parlamentares assinaram um documento para a criação da Frente. “É mais um ambiente de visibilidade à causa, legitima mais a interlocução com a participação da Frente”, disse João Fernando Coutinho.
“O ministro quer a todo custo levar a produção do fator recombinante para o Paraná, que é a parte mais rentável e mais atrativa da indústria de hemoderivados. Seria um dano para o País, para o Nordeste e para Pernambuco”, acrescentou João Fernando.
Uma das ideias propostas por Coutinho a Temer é a unificação de emendas da bancada em prol da conclusão da fábrica de Goiana. Uma das propostas apresentadas pelo ministro é uma PPP com a Shire, que investiria US$ 250 milhões em Pernambuco. Ontem, Ricardo Barros receberia a bancada pernambucana para debater o assunto. A reunião acabou sendo adiada para a próxima
terça.
A aposta da bancada ontem era na medida cautelar do Tribunal de Contas da União (TCU) que veta a contratação de novos contratos e mantém a Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a empresa irlandesa Baxalta/Shire para gerar o fator VIII recombinante. Ontem, a área técnica do TCU recomendou que a medida fosse acatada, mas o ministro Vital do Rego vetou, alegando que o Ministério da Saúde tenha cinco dias para se manifestar.
O Ministério da Saúde tem atualmente duas propostas de investimento para a Hemobrás. A empresa suíça Octapharma e o Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar), através de um consórcio, querem investir US$ 200 milhões no Paraná e aportar mais US$ 250 milhões na conclusão da fábrica de fracionamento de plasma em Pernambuco. Já a Shire deseja terminar a planta pernambucana, investindo US$ 250 milhões.