O comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior, compara o avanço da mancha de óleo pelo litoral do Nordeste, desde o início de setembro, a um "bombardeio" contra o País. Nos últimos dias, o governo federal tem sido cobrado na Justiça por mais ações para conter o espalhamento do poluente. De acordo com o militar, o culpado ainda não foi identificado, mas está entre os navios que circularam em alto-mar, na faixa de 300 a 500 quilômetros da costa leste de Sergipe.
O que falta para descobrir quem derramou esse óleo?
Primeiro, precisa identificar a origem. A segunda frente está relacionada com a neutralização, o máximo possível, dos impactos ambientais e econômicos. É inédita uma agressão que alcance 2 200 quilômetros de costa. É uma situação sem registro na história marítima. Eu diria até, em termos militares, é como se o Brasil sofresse um ataque militar, um bombardeio contra o Estado brasileiro, que teve impacto na nossa sociedade. Foi uma agressão ambiental que afetou os interesses nacionais. Uma ameaça dessa magnitude não é a um governo. É ao Brasil.
Qual a principal suspeita?
Pela nossa área marítima, Atlântico sul, passam diariamente 2 mil navios. Desses, filtraram para mil e chegaram a 30 embarcações suspeitas de transporte do óleo. Estamos investigando os navios que transitaram entre 300 e 500 quilômetros da costa Leste de Sergipe, que não se identificaram nem informaram incidente, que podem ser chamados de "dark ships", que é um navio que tem seus dados concretos informados, mas em função de qualquer restrição ou embargo tem uma carga que não pode ser comercializada.
Isso descarta completamente um acidente não intencional?
Não descarta. Mas a probabilidade fica cada vez mais baixa.
O petróleo é venezuelano?
Tivemos identificação pela Petrobrás. Estamos dizendo que o óleo não é processado ou comercializado no Brasil.
E os tambores que foram achados da Shell?
A Shell foi questionada pelo Ministério do Meio Ambiente. As informações foram prestadas e estão fazendo parte do rol de investigação em curso.
O derrame de óleo mostra fragilidade ao monitorar a costa?
Pode acontecer na costa de qualquer país, porque foi um fato criminoso.
O que faltou fazer para não termos detectado isso?
Essa pergunta é muito difícil. Mas, se fosse na costa dos EUA aconteceria do mesmo jeito. Se fosse na França, também. O navio mercante tem o direito de não se identificar. Aí, ele produz um derrame desta natureza, extremamente difícil de detectar por satélite.
E o aprimoramento do gerenciamento da Amazônia Azul? Como seria isso? Quanto custaria?
Uma solução é colocar um sistema de detecção ativa por radares em todo o litoral, de alta frequência, com alcance de até 350 milhas do litoral, com custo estimado em R$ 1 bilhão. Para instalação por fases, demoraria cinco anos. Mas não há previsão de instalação desse sistema porque as prioridades são outras. A Marinha vem tocando esse projeto por conta própria, paulatinamente.
Está havendo uso político desse desastre contra o governo?
Não diria que está ocorrendo. Se estiver ocorrendo, não é correto de acontecer.
Ainda tem muito mais óleo para aparecer?
A gente trabalha com possibilidades. Para cada uma, temos de ter um plano de contingência. Se foi um acidente, pode acontecer outro. Se foi intencional, pode acontecer de novo. A repetição do caso é possível, mas qual a probabilidade? Neste momento, desconheço. O óleo fica submerso e só aparece na arrebentação.
O governo quer mudar a regra internacional para obrigar os navios a se identificarem?
Vamos propor ao Ministério das Relações Exteriores que leve à Convenção Internacional sobre o Direito do Mar, da Organização das Nações Unidas que se exija, mesmo que em alto-mar, além da nossa margem territorial, que todos os navios mercantes informem posições, como acontece.
O que deixou de ser feito?
Talvez, pelo ineditismo, foi fazer uma melhor comunicação, melhor divulgação do trabalho que realizamos desde 2 de setembro Não houve falta de agilidade. Todos os órgãos responderam imediatamente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.