Microcefalia e os novos desafios da saúde em Pernambuco

Zika e acidentes aumentam o custo da saúde estadual
Verônica Almeida e Paulo Veras
Publicado em 15/01/2017 às 8:12
Zika e acidentes aumentam o custo da saúde estadual Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Desafio internacional, a epidemia de microcefalia causada pela proliferação de doenças relacionadas ao mosquito aedes aegypti mostrou seu lado mais dramático em Pernambuco. O Estado concentrou 21,2% dos 10,5 mil casos notificados no País em 2015 e 2016. Dos 2,2 mil bebês com a doença confirmada no país, 407 estão em Pernambuco. Uma geração de crianças que precisarão para sempre do suporte da rede pública de saúde.

Atender a grave demanda inesperada pressiona as contas da saúde estadual. No combate ao mosquito, foram investidos R$ 25 milhões. Outros R$ 5 milhões foram repassados aos municípios para reforçar as ações de controle do aedes. A Facepe investiu outros R$ 3 milhões em pesquisa. Na pressão, o Estado saltou de duas para 26 o número de unidades que prestam algum atendimento às vítimas de microcafalia. Desde 2015, 4,2 mil profissionais de saúde foram chamados pelo Estado. Eles representam um gasto de R$ 6 milhões por mês na folha de pagamento.

Nos últimos três anos funcionários temporários também reclamaram de atraso no pagamento de salários. Nos hospitais universitários estaduais, protestos também se repetiram durante a gestão do PSB, acusada, por sindicalistas, de não dar atenção às unidades próprias ligadas à UPE (Oswaldo Cruz, Procape e Cisam), onde são formados médicos e enfermeiros. Outro desafio para a saúde pública é o alto número de acidentes. Em 2015, foram 19,1 mil vítimas; 719 delas em acidentes com morte. O quantitativo foi 23% menor do que no ano anterior. Mesmo assim, esses acidentados custaram R$ 917,3 milhões ao Estado. O valor manteria a Restauração, maior emergência do Nordeste, funcionando durante quatro anos.

QUE DIZEM OS MÉDICOS?

O presidente do Sindicato dos Médicos, Tadeu Calheiros, elogia medidas positivas na saúde nos dez anos da gestão do PSB, como o plano de cargos para médicos e a incorporação de gratificações ao salário. Aprova também a expansão da rede hospitalar e de emergência. Mas acredita que o modelo de gestão não é o mais adequado, por empregar sem concurso público e delegar muitos serviços a algumas organizações. Além disso, observa que situações críticas permanecem em grandes hospitais, como instalações inadequadas e superlotação no Getúlio Vargas, assim como no Otávio de Freitas. O sindicato considera também que o estado deixa nas mãos da OS o poder para fechar e reduzir serviços quando quiser. A situação tende a complicar, na avaliação dele, com a medida do governo federal que permite uma UPA funcionar com apenas dois médicos.

Outra crítica é quanto à rede de assistência ao parto. “O quadro não é mais crítico hoje porque, com a epidemia de microcefalia associada ao zika vírus, diminuiu o número de gestações e partos, em cerca de 25% ”, afirma a obstetra Cláudia Beatriz, também do Simepe. As duas maternidades metropolitanas prometidas pelo PSB no Estado, a de Jaboatão e de Olinda, ainda estão em obras. “O Hospital da Mulher, no Recife, foi inaugurado, mas ainda não faz parto de alto risco”, observa.

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