Os três comandantes entregarem o cargo nas Forças Armadas é sinal inconteste de protesto. Antes de Bolsonaro (sem partido), só aconteceu com Lula (PT).
Foi em 2009. Na época, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em protesto a uma revisão que o petista queria fazer na Lei de Anistia, pediu demissão.
Em solidariedade, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica o acompanharam. O simbolismo da quebra de sintonia entre governo civil e militares é tão forte, e preocupante, que Lula não arriscou: desistiu de mexer na lei.
Jobim ficou ministro e os comandantes permaneceram.
Em 2021, paz é algo distante e os comandantes cumpriram a ameaça. O simbolismo, contra Bolsonaro, é muito grande, maior do que seria com Lula na época.
Porque o petista nunca foi militar e nem foi eleito exaltando as Forças Armadas.
Bolsonaro é militar, tem muitos militares no governo e sempre exaltou essa proximidade.
Mas, o prejuízo real é político. A consequência também.
Acreditar que Bolsonaro pode usar o Exército para dar um "autogolpe" é um pouco de exagero. Ele até deve ter vontade, até pode tentar. Mas não é simples.
Exército, Marinha e Aeronáutica são instituições sólidas. O Legislativo e o Judiciário também.
Golpes de estado, hoje, para terem sucesso, não acontecem com tanques, mas com desinformação, estelionato eleitoral e falsas promessas. É o tipo de golpe que o Brasil sofre há muitos anos.
Bolsonaro é apenas o "da vez".
Ele se elegeu como liberal, militar, municipalista e ávido no combate à corrupção.
Depois de eleito, defende intervenção estatal, briga com os militares, esquece os municípios e acaba com a Lava Jato.
E há quem espere tanques pra temer um golpe. Precisa?
Com Dilma (PT) tivemos promessas de que tudo estava sob controle para, logo após a reeleição, em 2014, descobrirmos que era mentira.
Foi um golpe também.
Mas, enquanto pudermos trocar um "golpista" por outro, respeitando a Constituição, ainda temos futuro.