A recente aprovação da mudança do nome da Avenida Beira Rio, na Madalena, para "Avenida Beira Rio Governador Eduardo Campos", acabou levantando uma questão sobre o excesso de homenagens a políticos e sobre o que deveria ser prioridade na hora de preservar a história de um lugar através de seus logradouros.
O advogado e escritor José Paulo Cavalcanti, em certeiro artigo publicado, ontem, neste JC, lembrou Manuel Bandeira, em seu poema Evocações do Recife, preocupado que localidades como a Rua do Sol e da União hoje se chamem "dr. fulano de tal". Não deve demorar.
É preocupação de muitos, há muito tempo.
O problema talvez seja ter políticos decidindo isso e o fazendo em causa própria. Os vereadores costumam registrar a história de acordo com as conveniências de momento. O momento deles.
Ter sido governador de Pernambuco por pouco mais de sete anos, lógico que coloca Eduardo na história do Estado e isso não pode ser negado. Mas, o exagero denota algo que excede a homenagem e vira conveniência partidária ou eleitoral.
A avenida Beira Rio, é bom que se diga, teve o nome modificado num momento em que o atual prefeito é filho do homenageado.
Como a todos é dado o direito de agir por conveniência, os exemplos se espalham. Só no Recife, numa rápida busca pelo nome do ex-governador, é possível encontrar a "rua Governador Eduardo Henrique de Acioly Campos", em Passarinho e a "rua Governador Eduardo Campos", na Caxangá. Andando mais um pouco, chega-se ao "Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa" e, se o problema de saúde não for tão grave, basta ir até à "Upinha 24h governador Eduardo Campos". Na educação, também é possível visitar a "Creche-escola governador Eduardo Campos", na UR-05 e depois dar uma passada no "Compaz Eduardo Campos".
E isso apenas numa rápida pesquisa e só no Recife.
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Zé Paulo, esperançoso, imagina que se estivesse vivo, o próprio Eduardo Campos não aprovaria alterar o nome da "avenida Beira Rio". É bom lembrar, entretanto, que o próprio Eduardo acompanhou de perto a mudança da "Avenida Norte" que passou a se chamar "Avenida Norte Miguel Arraes de Alencar".
Enquanto isso, o espaço Passargada, na rua da União em que viveu Manuel Bandeira, estava sujo e com a parede pichada até bem pouco tempo.
A casa onde viveu Clarice Lispector, na Boa Vista, está abandonada porque não se consegue dinheiro para reformá-la. E são apenas alguns exemplos.
Talvez por não pertencerem à famílias de políticos, o tratamento seja diferente.