Escolas privadas de Pernambuco estarão a partir desta quinta-feira (18) sem estudantes, exatamente um ano depois de terem sido fechadas, como uma das medidas do governo estadual para tentar conter a disseminação da covid-19. Também os colégios da rede estadual que ofertam o ensino médio. Durante os próximos sete dias letivos - nesta semana e na outra - as aulas serão exclusivamente remotas. Mas ao contrário de março de 2020, quando as atividades à distância não faziam parte da rotina da maioria dos alunos e professores, desta vez a experiência vivenciada por sete meses no ano passado, período em que as aulas presenciais ficaram suspensas, indica que a adaptação deve ser mais fácil.
A interrupção das aulas presenciais até dia 28 de março afeta cerca de 700 mil discentes da educação básica de Pernambuco (400 mil na rede particular, em todas as etapas; e 300 mil do ensino médio da rede estadual). Para um universo de aproximadamente 1,1 milhão de crianças e adolescentes matriculados na educação infantil e ensino fundamental das escolas municipais e estaduais, a medida não vai interferir na rotina deles pois não há ainda autorização, pelo governo estadual, para o retorno das atividades presenciais. Nessas unidades, o ano letivo começou com ensino remoto.
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“Já vivenciamos o formato híbrido desde outubro do ano passado, com uma parte dos alunos assistindo às aulas de casa e outra presencialmente nas escolas. O impacto do uso das ferramentas digitais foi grande no começo da pandemia, ano passado, quando professores e alunos tiveram que fazer muito esforço para se adequar. Agora acredito que não teremos grandes dificuldades”, aposta o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Pernambuco (Sinepe), José Ricardo Diniz. Desde fevereiro, quando começou o ano letivo, cerca de 80% das famílias autorizaram a ida dos filhos para os colégios.
ADAPTAÇÃO
Mãe de Cecília, 7 anos, aluna do 2º ano do ensino fundamental do Colégio Damas, localizado nas Graças, Zona Norte do Recife, a funcionária pública Luciana Alves, 44anos, diz que apesar de adaptada com o formato online, a filha não gosta das aulas virtuais. “A falta de convivência com os colegas prejudica muito. Espero que a suspensão das aulas presenciais seja mesmo só até o dia 28. Estou em home office, mas não consigo dar muito suporte a ela. A sorte é que meu marido estará de férias e poderá ajudá-la”, diz Luciana.
No Colégio Santa Maria, em Boa Viagem, Zona Sul da capital, as turmas foram divididas em duas. O rodízio é em dias alternados. Cada grupo vai um dia para a escola e no outro fica em casa com aula remota. “Desde o ano passado realizamos os ajustes necessários primeiro para o ensino remoto e depois para o híbrido. Com essa suspensão do governo, precisamos apenas adaptar para o online algumas avaliações que já estavam marcadas”, explica o coordenador do ensino médio, Rodrigo Martins.
“Gosto mais da aula presencial. Mas por causa do rodízio sempre fico alguns dias tendo aula de casa. Então não acho que será tão ruim essa suspensão agora. Também porque é por pouco tempo”, diz Beatriz Acioly, 17 anos, aluna do 3º ano do ensino médio do Santa Maria e fera de medicina. “Ano passado foi difícil pois a mudança para aula online nos pegou de surpresa. Mas tivemos treinamento no colégio e conseguimos nos adaptar. Tanto que agora faz parte do cotidiano”, observa o professor de química Thiago Queiroz.
SEM CONEXÃO
Para alunos das redes municipais, um das dificuldades para acompanhar o ensino remoto é conexão com internet, sobretudo para os que vivem em municípios pequenos ou na zona rural. A falta de equipamentos é outro entrave. O acesso à internet e a infraestrutura escolar foram os maiores desafios no ano letivo de 2020, segundo pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), realizada com apoio do Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). E persistem no ano letivo de 2021.
“Não tenho condições de comprar um telefone bom e nem pagar internet. O jeito é ele fazer as tarefas que venho buscar na escola”, diz a catadora de reciclável Maria José Silva, 56 anos, avó de Alexandre, 4, aluno da educação infantil da rede municipal de Olinda. “Nenhuma escola municipal de Pernambuco teve aula presencial este ano. Mas as redes estão empenhadas em encontrar estratégias nesse contexto da pandemia, muitas baseadas na experiência de 2020”, diz o presidente da Undime em Pernambuco e secretário de Educação de Belém de Maria, Natanael Silva.
“Não podemos entrar em um segundo ano sem escola para tantas crianças ou com aprendizado tão limitado. Precisamos viabilizar a escola noutros formatos. Para os mais excluídos, em especial, é urgente garantir o acesso às atividades escolares, internet, merenda e fortalecer o vínculo coma escola. O prédio pode estar fechado, mas é preciso manter a educação aberta”, destaca a especialista em educação do Unicef, Verônica Barros.