Surto coletivo de alunos em escola do Recife expõe a necessidade de fortalecer suporte psicológico
Escolas da rede estadual de Pernambuco dispõem de poucos psicólogos e que não estão vinculados diretamente às unidades de ensino
A crise coletiva de ansiedade vivida por um grupo de adolescentes num colégio estadual de Recife, na última sexta-feira (08), jogou mais luz num problema que especialistas vêm alertando desde o início da pandemia de covid-19: a urgência em investir na recuperação emocional de crianças e adolescentes, tão afetados com o afastamento provocado pelo longo fechamento das unidades. A escola, como local de convivência e integração, é um dos espaços que mais pode contribuir para isso.
Uma das limitações, no caso da rede estadual de ensino de Pernambuco, é a carência de psicólogos. São poucos profissionais para dar suporte aos 520 mil alunos que estudam nas 1.052 escolas existentes no Estado.
Enquanto as escolas privadas contam com a orientação de psicólogos, nos colégios estaduais não há esse profissional. As equipes na rede pública são formadas por gestores, docentes e coordenadores pedagógicos. Os poucos psicólogos que atuam na rede estadual - a Secretaria de Educação de Pernambuco não informou quantos são - estão vinculados às 16 Gerências Regionais de Educação (GRE).
A Escola de Referência Ageu Magalhães, por exemplo, onde aconteceu o surto na semana passada, faz parte da GRE Recife Norte, que tem mais 74 colégios. São somente dois psicólogos para atender todas essas unidades de ensino. Eles integram uma equipe com mais quatro pedagogos.
A boa notícia é que no próximo concurso que deve ocorrer para educação pública estadual - a previsão é de que o edital seja divulgado em breve - estão previstas vagas para psicólogos. Mas a secretaria não disse quantas.
Outra ação focada na questão socioemocional será o fortalecimento de um programa para promover na rede, entre outras ações, rodas mensais de conversa nas escolas de ensino médio. Hoje existe só em 60 dos 1.052 colégios estaduais.
"A pandemia trouxe inúmeros desafios para nós que fazemos a educação. Para além da recomposição de aprendizagem, o retorno das aulas presenciais exige que saibamos lidar ainda mais com as dores e sofrimentos dos nossos estudantes. Precisamos considerar que o fato de estarem longe da escola privou crianças, adolescentes e jovens da convivência e socialização", observa a secretária executiva de Educação Integral e Profissional de Pernambuco, Maria Medeiros.
"Muitos dos alunos que hoje estão no 1º ano do ensino médio passaram dois anos sem irem presencialmente para a escola porque as turmas de 8º e 9º ano do fundamental demoraram mais a voltar", observa.
Maria Medeiros diz que a rede estadual conta com apoio das famílias, dos Conselhos Tutelares e dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras). "É preciso um olhar multisetorial. As 16 GREs dispõem de psicólogos. O próximo concurso deve abrir mais vagas para esses profissionais. Não vamos instituir por escola, mas entendemos que é preciso fortalecer essas equipes", afirma a secretária.
Nas escolas integrais de Pernambuco, o olhar mais atento para os estudantes é ainda mais necessário, uma vez que os estudantes passam o dia nas unidades de ensino. O turno escolar começa às 7h30 e vai até 17h, de segunda à sexta-feira.
Com o novo ensino médio e por isso a reforma dos currículos a partir da Base Nacional Comum Curricular, foi incluído o componente socioemocional na formação dos professores.
AÇÕES
Nesta segunda-feira (11), os alunos da Erem Ageu Magalhães, que fica em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, foram recebidos pelos dois psicólogos da GRE Recife Norte. Na próxima semana deve ocorrer palestra com psiquiatra e psicólogos, voltada para os estudantes e suas famílias. O colégio tem cerca de 500 discentes.
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Na tarde de sexta-feira, 26 passaram mal e tiveram que ser atendidos pelo Samu. Provas que seriam realizadas nesse dia tiveram que ser adiadas.