Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Opção do governo apenas pela AstraZeneca fará Brasil receber vacinas da Fiocruz somente na Semana Santa

A Fiocruz informou que espera receber em 23 de janeiro o primeiro lote do Ingrediente Farmacêutico Ativo, o que levará à entrega das vacinas na Semana Santa

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Fernando Castilho

Publicado em 20/01/2021 às 6:55 | Atualizado em 20/01/2021 às 7:25
No primeiro dia de vacinação, após a aprovação da ANVISA, profissionais da saúde do Hospital de Referência da Covid-19, recebem a primeira dose da vacina contra o coronavírus. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

A menos que a SinoVac, através do Instituto Butantã, obtenha autorização para o envio dos embarque regulares do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), o Brasil só deve ter maiores lotes de vacinas contra a covid-19 depois do Carnaval e, no caso da vacina produzida pela AstraZeneca, processada no Brasil pela Fiocruz, na Semana Santa.

A desorganização do Ministério da Saúde, aliada com a interferência política do presidente Jair Bolsonaro, fez o Brasil apostar todas as suas fichas na vacina que será produzia pela inglesa AstraZeneca com o Universidade de Oxford.

Mas isso se revelou um enorme equívoco, fazendo com que a previsão de início do processamento e entrega das vacina esteja sendo retardada em, ao menos, três meses, ampliando a expectativa do público alvo.

No meio da tragédia que o Brasil enfrenta na covid-19, quando mais de 210 mil pessoas já perderam a vida, a notícia de que a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) só deve entregar as primeiras doses em março inclui mais um elemento na angustiante espera. A Fiocruz teve a vacina da AstraZeneca aprovada domingo pela Anvisa.

O problema é que a vacina da fabricante britânica, em conjunto com a Universidade de Oxford, única aposta do governo federal, fez o Ministério da Saúde não avançar em conversações com outros fabricantes do imunizante, condenando o Brasil a uma única opção.

É uma ironia cruel, pois o Brasil, que gastou R$ 600 bilhões para enfrentar o coronavírus, também não reservou recursos para o elemento mais importante, e acabou pagando adiantado por um pacote de vacinas cuja entrega está a cada dia mais atrasado.

O Brasil precisou alocar verba extra para pagar as vacinas, revelando total falta de planejamento. Assim como tentou comprar da AstraZeneca, na Índia, um lote emergencial de 2 milhões de doses prontas, numa operação que acabou fracassada.

O problema é que, como dito, a aposta única na AstraZeneca revelou-se um equívoco. A Fiocruz revela agora que terá que fazer análises de teste e controle de qualidade satisfatórios do IFA importado, o que demandará ao menos 20 dias, atrasando seu cronograma.

Para completar a crise provocada pelo atraso no envio dos Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFA) da AstraZeneca para o Brasil (devido a um bloqueio do governo chinês na exportação de insumos para a produção de vacinas), tem uma decisão errada sobre de onde ele viria.

Mesmo com a alegada amizade do presidente Jair Bolsonaro com o governo do Estados Unidos, a Fiocruz escolheu a base da AstraZeneca na China.

A instituição temia que se ela viesse da AstraZeneca nos EUA, poderia ser retida por decisão do governo Trump, como já havia sido feito no confisco de respiradores no começo da pandemia. E essa decisão se revelou mais um equívoco do governo federal.

Sabe-se agora que depois de meses de negociação, a empresa não enviou nenhuma amostra à Fiocruz, como fez a chinesa SinoVac, que antecipou lotes para a produção de 10,8 milhões de doses. A AstraZeneca, junto com a Fiocruz, deverá fábricar 105 milhões de doses até junho.

Isso não quer dizer que a Fiocruz não vai entregar as vacinas. Ou que o Brasil não pode contar com elas, mas a verdade é que hoje o Brasil não tem vacinas para iniciar, de fato, a vacinação do primeiro e do segundo grupo, que inclui pessoas com mais de 60 anos.

Na prática, a histórica reunião de domingo aprovou, emergencialmente, uma vacina da Fiocruz que só chegará depois da Semana Santa.

O atraso da vacina britânica frustra as expectativas de que o Brasil, após as primeiras vacinas, poderia engatar uma linha de vacinação que abrisse a perspectiva de, no primeiro semestre, termos os primeiros grupos vacinados.

Segundo a Fiocruz, existem problemas burocráticos com a fornecedora do IFA, que estaria gerando retardado no envio dos primeiros lotes ao Brasil. Num documento ao Ministério Publico Federal, a Fiocruz informou que espera receber em 23 de janeiro o primeiro lote do IFA.

Mas informou também que quando o material chegar, deverá ainda ser analisado, o que deve demorar até três semanas. Mas ele também não garante que a AstraZeneca entregará os lotes na data acertada.

Se isso acontecer, a Fiocruz só poderá entregar as vacinas prontas em março, mas sem especificar as datas. Se isso acontecer, a previsão é que o instituto só entregue lotes de vacinas na Semana Santa.

Isso condena o Brasil a ter apenas a opção das vacinas fabricadas pelo Instituto Butantã. Mas ainda assim, o Governo de São Paulo enfrenta dificuldades, pois também o fornecedor da SinoVac não está obtendo autorização para mandar um lote final de IFA que seria suficiente para 18 milhões de doses de vacina Coronavac.

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