Há uma semana, a jornalista e advogada Claudia Maia, CEO de uma agência de viagens de incentivo, colocou no seu perfil no LinkedIn uma foto de seu pai, o desembargador aposentado e consultor do Pacto pela Vida do Governo de Pernambuco, Fausto Freitas, de 83 anos com um pequeno texto.
"Meu pai tem 83 anos, ainda trabalha, e com a pandemia passou a realizar suas reuniões on-line. Ele está conseguindo se adaptar às novas tecnologias com a ajuda de seus filhos e netos, e isso o tem mantido firme, diante do medo de contaminação. A vacina ainda não chegou para a faixa etária dele, mas a que chegar primeiro ele toma!", escreveu.
Na manhã deste sábado, quando Freitas se vacinou num posto de saúde do Recife, a publicação de Claudia Maia passou de 1 milhão de visualizações. Ela teve 53.300 interações positivas e mais de 1.860 comentários, todos elogiando a disposição dele para o trabalho e centenas de depoimentos de filhos de pais com mais de 80 anos revelando que eles também estão ativos.
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O sucesso do post de Claudia Maia não foi uma demonstração de afeto de pessoas numa rede social focada em carreiras. Também não foi apenas uma demonstração de reconhecimento de um profissional que se adaptou ao home office e seguiu trabalhando enquanto esperava a vacina, isolado dos filhos e netos.
Esse exemplo faz parte de uma tendência revelada na internet do cuidado de milhões de esposas, filhos, netos e bisnetos com a proteção de seus idosos, classificados como 60+, 70+, 80+, 90+ e mais recentemente “top+100” para designar os brasileiros e brasileiras que passaram dos 100 anos.
Foi uma das boas notícias reveladas na tragédia social e econômica que a pandemia do coronavírus nos impôs e agravada ainda mais no Brasil pelos desacertos de sua condução. Esse comportamento já havia sido identificado pelos cuidados e pelas barreiras de proteção que filhos e parentes ergueram para proteger os seus “enta+”. Mas foi por ocasião do início da vacinação que o sentimento ficou mais evidente e foi exposto na internet.
Nos quase 2 mil comentários que foram adicionados ao post de Cláudia Maia, alguns se destacaram pela revelação de boas histórias. Eliana Griner, do Rio de Janeiro escreveu: “Meu pai também, aos 90, tem uma agenda de lives extensa via zoom. Compramos câmera para o desktop dele em casa, e minha mãe de 82, analista de sistemas aposentada, inicia o aplicativo para ele. Não deixa a cabeça parar de trabalhar na pandemia. “
David Santos Villalva, de São Paulo, designer e fundador da consultoria Digittaliade compartilhou o seguinte depoimento: "Parabéns. A re-inclusão digital e tecnológica proporciona o fortalecimento da independência, da autonomia. Isso resultado em autoestima."
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A advogada Gabriela Borges, especialista em Direto do Trabalho do Rio Grande do Sul, também dividiu sua experiência. "Meu pai tem 73 anos, é professor aposentado, e se tornou fotógrafo de eventos de motociclismo, youtuber e videomaker! Se pedir para ele dizer onde aprendeu? Ele responde: "Fiz a faculdade do porco!! FUÇANDO!!"Em questões de internet, ele aprendeu tudo sozinho.”
E Carlos Alberto Carneiro, de Brasília, e que se declara “Independent Computer”, disse: “Tenho só 77 e gostaria de continuar fazendo tudo o que sempre fiz, após mais de 30 anos aposentado: viver, viver e viver! Parabéns pela disponibilidade de seu trabalho, com alegria de vida!"
CLIQUES NAS REDES
As demonstrações de afeto e cuidado com seus parentes mais velhos virou um tendencia na Internet. Não basta se vacinar. É fundamental informar que alguém de sua família com mais de 80 anos recebeu a primeira dose. Virou troféu.
Esse tipo de atitude revela quando a vacinação de pessoas idosas se tornou essencial para as famílias no mundo inteiro. A própria eleição do novo presidente americano, Joe Biden, muda totalmente o conceito de idade útil para trabalhar. Mas no Brasil, onde essa presença está em crescimento, a pandemia da covid-19 explicitou o cuidado.
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Esse cuidado apenas expõe uma nova realidade. A população brasileira está em trajetória de envelhecimento e, até 2060, o percentual de pessoas com mais de 65 anos passará dos atuais 9,2% para 25,5%. Ou seja, 1 em cada 4 brasileiros será idoso.
Segundo a pesquisa, a fatia de pessoas com mais de 65 anos alcançará 15% da população já em 2034, ultrapassando a barreira de 20% em 2046. Em 2010, estava em 7,3%. Em 2030, o número de idosos no Brasil deve ultrapassar o número de crianças.
O aumento no número de pessoas com 65 anos ou mais na população brasileira foi de 20% na comparação com os dados de 2012, quando a proporção de idosos era de 8,8%. Há mais idosos entre as mulheres e entre amarelos e/ou brancos, que também têm uma maior expectativa de vida e uma taxa de fertilidade menor.
Os idosos são as pessoas de referência ou os chefes de família de 19,3% dos domicílios brasileiros. Na relação que ocupam com a pessoa de referência da casa, eles são 91,5% dos avós, 69% dos sogros ou sogras e 61,2% dos pais ou mães.
A pirâmide etária brasileira vem sofrendo alterações ao longo dos anos e já estamos presenciando a inversão dessa pirâmide etária e a mudança no perfil demográfico de nosso País.
Em 1950, a distribuição era a seguinte: idosos, 4,6%; adultos, 43,1%; e jovens, 52,3%. Até os anos 1980, a pirâmide era afunilada na ponta e larga na base, setor em que estão representadas as camadas de jovens.
No ano de 2000, a pirâmide mostrou uma base mais estreita e formato menos afunilado, indicando a tendência de crescimento da população adulta.
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