Amigo, ex secretário no governo do Estado e ex-tesoureiro de campanha, o economista Eliezer Menezes conta como agia Marco Maciel em questões financeiras.
Leia a história contada por Menezes:
Certa vez, trabalhando em empresa privada, recebi um telefonema inesperado. Marco Maciel. Era Vice-presidente da República. Fim de segundo mandato. “Amigo, preciso de sua ajuda. Vou me candidatar a senador, e queria que você fosse o tesoureiro da campanha. Tenho muitos amigos políticos, intelectuais etc., mas você é da área financeira e sem dúvidas fará uma boa administração do processo".
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Respondi que infelizmente não serviria, pois não sabia "pedir" colaborações a empresários etc.
Replicou, dizendo que as doações já estavam todas programadas, todas oficiais, e meu papel seria apenas administrar. Aceitei.
Homologado seu nome na convenção, ligou novamente: "Amigo, agora sou candidato oficial. Então, toda vez que for de Brasília para Recife avisarei para você comprar as passagens com recursos da campanha".
Perguntei se ele ia deixar a Vice-presidência, e respondeu:
“Não, mas vou agora como candidato, e não é correto que o governo pague as passagens. Outra coisa, alugue um carro e contrate um motorista, pois vou dispensar os do governo aí".
Assim foi feito. Cada vez que vinha, mandava avisar para providenciar as passagens.
Faltando menos de trinta dias para o fim da campanha, fiz um "balanço" e vi que sobraria um recurso. Daria para comprar uma SUV, já que o carro utilizado era alugado. Informei-o, e para surpresa minha não concordou. “Muito perto da eleição, não fica bem comprar um carro agora".
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“O que vou fazer com a sobra, então?”, Indaguei.
“Amigo, pela lei, temos que devolver ao partido".
E assim foi feito.
Lembro que, posteriormente comentando com Gustavo Krause ele afirmou: “Nunca vi isso na minha vida. Primeiro, sobrar dinheiro em campanha. Segundo, mais espantoso ainda, devolver para o partido".
Dois exemplos, entre vários outros, da demonstração de honestidade de um político, que assim pautou toda a sua vida pública nos mais distintos cargos que ocupou. Destacando-se o fato que não era para fazer “média”, pois só quem sabia dos casos éramos nós dois.
Exemplos que, infelizmente, são raríssimos no momento que vivemos atualmente. Ao contrário. O que vemos, é, a cada dia, descoberta mais uma falcatrua e consequente rombo nos recursos públicos, deixando carente setores que tanto necessitam, a exemplo da precariedade da saúde, educação, segurança etc.
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Histórico
Marco Maciel assumiu a presidência da República 87 vezes – “um pouco mais de 10 meses” – nos oito anos em que foi vice de Fernando Henrique Cardoso, que ocupou o Palácio do Planalto de 1995 a 2002. “Era o vice dos sonhos. Viajava e não tinha a menor preocupação, porque Marco era correto. E mais do que correto, minucioso, quase carinhoso. Por exemplo, muitas vezes me trazia algo para ler e marcava em amarelo para poupar o meu tempo. Ele era leal ”, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em depoimento ao documentário Marco Maciel – A Política do Diálogo, realizado pela TV Câmara em 2016 (?).
O que mais chama a atenção da frase acima é que Marco Maciel e Fernando Henrique Cardoso passaram grande parte da vida em partidos de lados opostos. Maciel foi um tradicional quadro de siglas da direita – como Arena, PDS e o PFL – e Fernando Henrique, era considerado de esquerda até se tornar presidente da República, quando assumiu um perfil de centro-direita. As posições religiosas também eram diversas: Marco Maciel era muito católico e FHC agnóstico.
“Ponderado, tinha horror à crença ideológica cega e também à arrogância da razão. Homem de princípios, não desdenhava das orientações alheias. Construtivo na vida pública, derrubava barreiras, não construía muros que impedissem o diálogo”, afirmou Fernando Henrique, se referindo a Marco Maciel”, num texto intitulado Fé e Razão, uma das apresentações da biografia Marco Maciel – Um Artífice do Entendimento, de autoria do jornalista Angelo Castelo Branco.
A aproximação entre os dois ocorreu quando ambos eram senadores e o apartamento deles ficava próximo em Brasília, o que faziam eles se encontrarem, “de vez em quando”, como lembra Fernando Henrique. Quando começou essa convivência, “Marco Maciel já se inclinava abertamente a ajudar o fim do ciclo político que se iniciara em 1964”, como disse FHC na biografia citada acima.
“Marco Maciel, Luís Eduardo Magalhães e Jorge Borhausen foram os primeiros a colocar a eventualidade de eu ser candidato a presidente da República”, lembrou Fernando Henrique no mesmo documentário. Os três foram dissidentes do antigo PDS e passaram a fazer parte do Partido da Frente Liberal (PFL) que apoiou a candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Fernando Henrique também afirmou que, entre os políticos do PFL, o que tinha mais influência sobre ele era Marco Maciel, “que era discreto”. Na época, se falava muito que o político mais importante do PFL era o baiano Antonio Carlos Magalhães.
Ainda no livro de Angelo Castelo Branco, Fernando Henrique Cardoso revelou que, como presidente, foi “várias vezes ao encontro anual que de deputados católicos, que Marco Maciel patrocinava em sua casa. Unia-nos o respeito às crenças e a vontade de que todos participassem da vida nacional”. E complementa: “a colaboração de Marco Maciel para o andamento das questões legislativas durante meu governo foi fundamental. Suas marcas na Lei de Arbitragem são indeléveis. Seus esforços para que se reconhecesse a função dos que faziam lobbies, sem que o fizessem ocultamente, são conhecidas”. Outra característica que Fernando Henrique cita de Maciel é a tolerância.
Ainda lembrando da sua gestão, Fernando Henrique revelou que Marco Maciel, não descuidava “especialmente das coisas de seu amado Pernambuco”, sendo “inúmeras as vezes em que reivindicou uma estrada importante ou, sobretudo, a continuação do Porto de Suape”.
1940 - Nasceu no dia 21 de julho. Foi o quinto filho de Carmem Sylvia de Oliveira e José do Rego Maciel. A ligação com a política foi influenciada pelo seu pai, que foi prefeito do Recife, deputado federal eleito em 1948 e vice-candidato a governador de Pernambuco em 1958.
1959 - Aprovado no vestibular da Faculdade de Direito do Recife. No primeiro ano do curso, foi diretor de Cultura do Diretório Central dos Estudantes (DCE). No segundo ano, se elegeu presidente do DCE.
1962 - Foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Pernambuco e tomou posse em 1963.
1967-1971 - Eleito deputado estadual pela Arena e líder do governo Nilo Coelho (Arena).
1967 - Casou-se com a amazonense Anna Maria com quem teve três filhos.
1971 - Começou a atuar como deputado federal. Esse primeiro mandato acabou em 1974. Exerceu o mesmo cargo entre 1975 e 1978.
1977-1978 - Atuou como presidente da Câmara dos Deputados, em Brasília.
1979-1982 - Governador de Pernambuco
1983 - Se elegeu senador, cargo que exerceu por 20 anos. O primeiro mandato na Casa Alta encerrou-se em 1991. Depois foi reeleito por mais quatro anos (1991-1994). Voltou a ocupar a mesma função em 2003.
1985-1986 - Atuou como ministro da Educação do governo de José Sarney. Ainda na mesma gestão, foi ministro chefe da Casa Civil entre 1987 e 1988.
2003 - Entrou para a Academia Brasileira de Letras. Ao longo da sua vida, publicou mais de 28 trabalhos em várias editoras, como o a do Senado e a José Olympio, entre outras.
2010 - Aos 70 anos, perdeu a primeira eleição da sua vida
2011 - Terminou o terceiro mandato de senador pelo DEM.
2014 - A partir do final deste ano, se torna mais recluso, ficando constrangido com os esquecimentos provocados pelo Mal de Alzheimer.