Privatização da Eletrobrás reduz presença do Estado no setor elétrico, mas não garante preço menor na conta

No setor elétrico não tem rigorosamente nada que não seja medido e precificado.
Fernando Castilho
Publicado em 18/05/2022 às 20:00
Capitalização da Eletrobras ainda vai gerar muito debate no Congresso. Foto: Foto: Divulgação


A aprovação pelo placar de 7 a 1 no TCU, favorável à privatização da Eletrobras é zero surpresa no setor elétrico, até porque ela foi precificada pelo mercado que está mais interessado no pacote de empresas que a holding controla do que com as dificuldades que o novo controlador terá para sua gestão.

Mas é importante não ter ilusões. Estamos vendendo a Eletrobras para reduzir o jogo de interesses políticos que ela incorpora, e não porque a gestão mais profissional signifique preços menores.

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Do ponto de vista de futuro, a tendência é que para o futuro governo a Eletrobras tenha o mermo comportamento da Petrobras - para irritação do presidente. Com um detalhe:

A expertise do setor elétrico dá de 7x1 na Petrobras. No setor elétrico não tem rigorosamente nada que não seja medido e precificado. Portanto, esqueçamos essa bobagem que, uma vez privatizada a Eletrobras, os preços vão baixar. Não vão.

E o voto solitário do ministro revisor Vital do Rego serve mais para os sindicatos e partidos estruturaram suas ações nos tribunais superiores. Não teriam mesmo sustentação para mudar os votos dos seus colegas que fecharam com o relator Aroldo Cedraz.

De certa forma, Vital do Rego tem razão numa série de coisas no modelo organizado pelo governo para fazer a capitalização. Mas o TCU, diferentemente do STF e do TSE, não tem força para enfrentar a campanha do Governo em ter uma privatização para chamar de sua.

Outra coisa é que o jogo no setor elétrico é tão pesado que seus atores conseguiram incluir no Congresso um jabuti do tamanho de um crocodilo amazônico no minuto final do jogo. E nada garante que o novo controlador aceite os preços que a lei que prevê o gasoduto para alimentar terminas no Centro-Oeste. Privatizada a conversa sobre o gasoduto muda completamente.

Uma coisa bem interessante nessa capitalização é que os possíveis investidores estão mesmo interessados é no potencial de negócio que, por exemplo, a Chesf - que faz 75 anos em 2023 - e Furnas - que fez 65 este ano - possuem.

CHESF - A Chesf está gerando apenas 40% do que poderia se trabalhasse com força total.

Mas isso não quer dizer que Eletrosul, Eletronorte, Cepel e Eletropar (antiga Light) não sejam um espetacular negócio. No final, pode-se dizer que as partes da Eletrobras formam um todo muito maior que a empresa holding.

E isso se dá porque, em todas elas, o conhecimento do negócio geração de energia hidráulica foi o que gerou o próprio conhecimento que o Brasil tem no setor e que tem classe mundial.

As pessoas esquecem que dentro do setor elétrico o conhecimento foi se formando a partir da Chesf, a seguir com Furnas e das demais, sendo criadas com os engenheiros delas duas.

Então, a venda da Eletrobras é interessante para o país pela capacidade de alavancagem de investimentos que o setor privado pode fazer, como acontece com Petrobras e todo o setor de telecomunicações.

Mas sem essa leseira de Paulo Guedes, Adolfo Sachsida e deputados da base aliada de deputados do Governo que vai ajudar baixar os preços da conta. Não vai. E até pode subir porque a Aneel aceita todos os argumentos das empresas na hora de reajuste, inclusive das empresas da Eletrobras.

MARCOS CORRÊA / PR - CENÁRIO Crise hídrica é um dos fatores que joga alerta sobre 2022
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