Apesar da ampliação que a Prefeitura do Recife tem feito da malha cicloviária da capital - chegamos a 150 km desde 2013 -, a infraestrutura para a bicicleta segue deixando muito a desejar na cidade. Principalmente sob o aspecto da segurança viária para quem pedala - a grande razão de ser de qualquer estrutura construída para o pedalar. O Recife evoluiu, mas poderia estar muito, muito melhor, se as ciclovias e ciclofaixas estivessem nos corredores viários e nas grandes avenidas - a grande maioria está em vias de pouco volume de veículos (coletoras e locais). E quem faz essa constatação é quem utiliza a bicicleta como transporte, praticamente todos os dias.
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A avaliação da infraestrutura cicloviária do Recife foi feita, pela segunda vez, através do Índice de Desenvolvimento Cicloviário (Ideciclo), criado pela Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo). Ele aponta que a capital melhorou em relação a 2018, quando recebeu nota geral de 0,035. Agora, três anos depois, a média geral subiu para 0,050. Foram avaliados 135 km de estrutura cicloviária em 256 diferentes vias da cidade.
Mas como já dito, a situação do Recife segue ruim. A rota da capital pernambucana que recebeu a melhor nota não chegou a 7 - ou seja, se fosse na escola tradicional, não passaria de média. Entre as ciclovias, a maior nota foi 6.3 dada ao equipamento implantado na Rua da Aurora, área central, e que integra o Eixo Cicloviário Camilo Simões, promessa do governo do Estado de conectar - um dia - o Recife ao município de Igarassu, na RMR, distante 33 km da capital.
O RANKING
CICLOVIAS
As melhores
Via Tipo Km Nota
1) Rua da Aurora - Ciclovia 1,17 - 6,3
2) Av. Mário Melo/Rua dos Palmares - Ciclovia - 2,54 - 5,8
3) Via Marginal ao Canal do Rio da Prata - Ciclovia - 1,08 - 5,2
4) Avenida Desembargador Guerra Barreto - Ciclovia - 0,33 - 5
5) Via Marginal ao Canal do Rio da Prata - Ciclovia - 1,08 - 5,2
As piores
Via Tipo Km Nota
1) Rua Ibiporã - Ciclovia - 0,55 - 3,6
2) Avenida Norte - Ciclovia - 1,56 - 4
3) Anel Viário do Shopping RioMar - Ciclovia - 0,98 - 4,3
CICLOFAIXAS
As melhores
Via Tipo Km Nota
1) Rua José de Alencar - Ciclofaixa - 0,81 - 6
2) Avenida Jornalista Possidônio Cavalcanti Bastos (pista leste) - Ciclofaixa - 0,37 - 6
3) Rua Joaquim Felipe - Ciclofaixa - 0,27 - 6
4) Avenida Oliveira Lima/Rua João Fernandes Vieira - Ciclofaixa - 0,86 - 6
5) Rua Sebastião Alves - Ciclofaixa - 0,27 - 6
As piores
Via Tipo Km Nota
1) Rua Manoel de Brito - Ciclofaixa 0,17 - 2,7
2) Avenida Julio César - Ciclofaixa - 1,53 - 3,1
3) Rua Arquiteto Luiz Nunes - Ciclofaixa - 0,6 - 3,3
Em segundo lugar entre as ciclovias, está a Ciclovia Graça Araújo, implantada sobre o canteiro central da Avenida Mário e da Rua dos Palmares, em Santo Amaro, que recebeu 5.8 de nota. Os dois equipamentos são o que a capital tem de melhor, mesmo com as notas medianas. A segurança viária e a arborização favoreceram, mas o difícil acesso pesou - elas não têm boas conexões com as vias em volta, dificultando a entrada e saída de quem pedala. A Ciclovia da Avenida Boa Viagem, a mais antiga da cidade e a mais simbólica para a cidade pelo aspecto turístico, foi uma decepção: nota de 4.4.
As piores ciclovias apontadas no Ideciclo foram uma pequena estrutura implantada no Coque, área central do Recife, e a Avenida Norte, que tem um quilômetro entre a Rua da Aurora e a Avenida Agamenon Magalhães, em Santo Amaro. Esse último equipamento foi construído ainda na gestão do PT e sempre sofreu com a ocupação indevida por veículos e carroças. Foram destacados as péssimas manutenção e sinalização pela prefeitura e o desconforto para quem pedala devido às interferências.
CICLOFAIXAS
Entre as ciclofaixas, a melhor estrutura apontada pelo Ideciclo foi a Ciclofaixa José de Alencar, na Ilha do Leite, área central da capital, implantada pela PCR para compensar a ausência de equipamento na requalificação da Avenida Conde da Boa Vista. A rota recebeu nota 6 e foi avaliada como muito confortável, com boa manutenção e sinalização bem feita - já na cor vermelha. Ao lado dela, um pequeno equipamento localizado na Avenida Jornalista Possidônio Cavalcanti, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, que recebeu nota 6 por ter boa sinalização e poucos conflitos nos cruzamentos viários.
Já as piores ciclofaixas foram os equipamentos instalados na Rua Manoel de Brito, no Pina (próximo ao RioMar Shopping) (nota 2.7), na Avenida Júlio César, no Jordão (nota 3.1) e na Rua Arquiteto Luiz Nunes, na Imbiribeira (nota 3.3). O Ideciclo avaliou ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e áreas compartilhadas. Para quem não sabe, ciclofaixas são quando a segregação do tráfego é parcial, feita apenas com sinalização e tachões. Já as ciclovias são estruturas completamente segregadas do tráfego de veículos. Ciclorrotas e áreas compartilhadas são quando existe apenas sinalização e o espaço é compartilhado entre ciclistas e veículos.
“Como o Ideciclo 2021 mostra, o Recife avançou. Pouco, mas avançou. A malha cicloviária aumentou e, com ela, a qualidade de algumas infraestruturas. E onde mais a capital avançou foi na sinalização dos equipamentos. Poderíamos ter melhorado bastante se as ciclofaixas e ciclovias fossem implantadas, prioritariamente, em avenidas e corredores viários, o que pesa no Ideciclo. Mas atualmente a grande maioria está em vias coletoras e locais”, argumenta Daniel Valença, ciclista, cicloativista, articulador da Ameciclo e coordenador do estudo.
A impressão de que, no Recife, o ciclista segue sendo “colocado onde dá e, não, onde gostaria e precisaria pedalar” faz a diferença nos critérios do Ideciclo. Segundo explica Daniel Valença, a principal avaliação é sobre o nível de segurança que a infraestrutura implantada oferece para quem pedala. “Por isso os equipamentos localizados em avenidas têm mais peso do que aqueles em vias coletoras e ainda mais sobre os instalados em vias locais. Isso porque o ciclista precisa de mais proteção nas ruas que têm velocidade máxima de 50 km/h ou 60 km/h. Sendo assim, as avenidas têm peso de 60%, as coletoras de 25% e as locais de 15%. E como o Recife tem mais estruturas em vias calmas, a nota cai”, explica.
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LARGURA
Além da segurança viária, da sinalização, das condições de manutenção, da minimização dos conflitos com os veículos e da arborização para quem pedala, a largura das estruturas também influencia. “E nós encontramos ciclofaixas muito, muito estreitas. A Ciclofaixa José de Alencar, por exemplo, consta com 2,1 metros de largura, mas apenas 1,8 metro é transitável. Isso acontece porque a prefeitura segue considerando á area de separação da ciclofaixa como área transitável. Enquanto isso, as faixas para os veículos trafegarem seguem sendo ainda maiores do que o recomendado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que é de 3,5 metros. Vimos faixas com até 5 metros, acredite!”, alerta.
Pelo CTB, as ciclofaixas bidirecionais (sentido duplo) devem ter no mínimo 2,2 metros de largura, mas o recomendável são 2,5 metros. Já o Ideciclo recomenda 3 metros. Em relação às estruturas unidirecionais (sentido único), o CTB estabelece no mínimo 1,2 metro de largura, sendo recomendável 1,5 metro. Enquanto o Ideciclo recomenda 2 metros.
ENTENDA O IDECICLO
O Ideciclo é o resultado da análise de uma estrutura cicloviária, levando em consideração critérios relativos à cobertura da malha, velocidades máximas das vias, segurança e conforto dos ciclistas. A metodologia foi desenvolvida pela Ameciclo e aprimorada em parceria com as organizações Ciclocidade (São Paulo/SP), Rodas da Paz (DF), BH em Ciclo (Belo Horizonte/MG) e Bicicleta nos Planos (Campo Grande/MS), que também a aplicaram em suas respectivas cidades.
O último Ideciclo divulgado foi em 2018 e abrangeu, além do Recife, as cidades da RMR: Olinda, Paulista, Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca. Este ano, foi realizado apenas no Recife.