Trânsito, transportes e mobilidade urbana, com Roberta Soares

Mobilidade

Por Roberta Soares e equipe
COLUNA MOBILIDADE

Reajuste dos combustíveis: a grande vítima é o transporte público brasileiro

Setor volta a gritar devido ao aumento do diesel e a criticar a inoperância do governo federal. Aumentos vão pesar, mais cedo ou mais tarde, nas tarifas

Cadastrado por

Roberta Soares

Publicado em 11/03/2022 às 11:17 | Atualizado em 14/03/2022 às 18:05
Fica evidente que a maior flexibilidade para escolher o horário, o tempo de espera, os tipos de produto, se compartilhados ou não, o conforto e segurança do local de acesso e o menor custo por pessoa são alguns dos atributos que se buscam também na mobilidade urbana - Marcello Casal JrAgência Brasil

Reajustes dos combustíveis costumam ter o impacto negativo muito associado aos automóveis, irritando motoristas e abalando a economia do País. Mas o que muita gente não lembra - e que precisa ser mais evidenciado e considerado, principalmente pelo poder público - é que a maior vítima dessa crise é o transporte público coletivo brasileiro.

Ou seja, a grande maioria da população do País, já que são os ônibus - juntamente com os metrôs, é claro, mas que são elétricos - que respondem por mais de 80% dos deslocamentos urbanos do Brasil - e mundiais também.

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Por isso, a pancada é grande e a conta, de um jeito ou de outro, vai chegar na população - porque os subsídios públicos podem aumentar - e principalmente no passageiro - que na grande maioria dos sistemas brasileiros ainda paga o custo do transporte público sozinho. Em Pernambuco, por exemplo, o governo do Estado aportou R$ 300 milhões de subsídios no sistema de ônibus da Região Metropolitana em 2021 e não parece disposto a colocar mais, tendo aprovado um reajuste de quase 10% nas passagens em fevereiro deste ano.

A guerra da Ucrânia está servindo como justificativa para aumentos abusivos e inoportunos. O Brasil precisa de uma nova política de preços para os combustíveis, que traga previsibilidade aos agentes econômicos e aos consumidores. Existem algumas propostas em debate no Congresso Nacional para conter o reajuste dos combustíveis, que podem ser melhoradas. Mas nem elas avançam, pela falta de consenso interno e de articulação do governo”,
Francisco Christovam, novo presidente executivo da NTU

Francisco Christovam, novo presidente da NTU - NTU/DIVULGAÇÃO

Não é à toa que tem sido comum a grita do setor operacional. Mais uma vez, solta um novo posicionamento crítico aos aumentos abusivos e à inércia do governo federal para agir. E, o que é pior, que mais cedo ou mais tarde esse impacto terá que ser repassado às tarifas, afetando 43 milhões de passageiros que dependem do serviço todos os dias.

Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Públicos (NTU) , o reajuste de 24,9% do óleo diesel nas distribuidoras, anunciado nesta quinta-feira (10/3), terá um impacto médio de 7,5% no custo das empresas operadoras de transporte coletivo.

A entidade diz que os reajustes acumulados do diesel já aumentaram os custos do transporte público por ônibus em 10,6% só este ano. E que elevou a participação do diesel no custo geral das operadoras de 26,6% para 30,2% - lembrando que o diesel é o segundo item de custo que mais pesa no valor da tarifa, depois da mão de obra.

Por isso, a pancada é grande e a conta, de um jeito ou de outro, vai chegar na população - porque os subsídios públicos podem aumentar - e principalmente no passageiro - que na grande maioria dos sistemas brasileiros ainda paga o custo do transporte público sozinho. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

E cobra, mais uma vez, uma reação do governo federal em oferecer soluções definitivas para a estabilização dos preços dos combustíveis: "São soluções que passam pela reformulação da estrutura tributária incidente sobre o diesel e pela adoção de políticas de preços especiais para setores essenciais como o de transporte público. A guerra da Ucrânia está servindo como justificativa para aumentos abusivos e inoportunos. O Brasil precisa de uma nova política de preços para os combustíveis, que traga previsibilidade aos agentes econômicos e aos consumidores. Existem algumas propostas em debate no Congresso Nacional para conter o reajuste dos combustíveis, que podem ser melhoradas. Mas nem elas avançam, pela falta de consenso interno e de articulação do governo”, critica Francisco Christovam, novo presidente executivo da NTU, eleito após o recente falecimento do presidente por mais de 30 anos da entidade, Otávio Vieira da Cunha.



A NTU, inclusive, tem enviado os alertas ao governo federal e pedindo uma política diferenciada para o setor há dois anos, sem resposta. “O consumo de diesel do transporte público por ônibus nas cidades e regiões metropolitanas é de apenas 5% a 6% do total do consumo nacional; ter uma política diferenciada para esse segmento não impactaria significativamente a política de preços dos combustíveis”, completa Christovam.

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