O novo aumento do diesel, que passou a vigorar a partir desta terça-feira (10/5), é devastador para o transporte público. E o governo do Brasil precisa saber disso. O alerta vem das empresas que operam o sistema de ônibus no País, que tem no diesel o segundo maior custo de operação (32,8%). Perde apenas para o custo de mão de obra, que é de 50% em média.
Numa comparação com o corpo humano, é como se o diesel fosse o coração do sistema de ônibus. Sem ele, tudo para. A gasolina, que também acumula aumentos frequentes, impacta no transporte individual. Mas o diesel não. Afeta o transporte público coletivo, que responde por 80% dos deslocamentos no País.
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Por isso, os reajustes precisam ser cobertos por alguém. E no Brasil, quem paga é o passageiro.
E o País segue ignorando isso. Somente com o acumulado de reajustes do diesel em 2022, seria necessário um aumento de 15,4% nas passagens de ônibus para garantir a cobertura dos custos. O alerta, lógico, é feito pelos operadores do transporte público.
“Para compensar o aumento de 8,9% no preço do óleo diesel nas refinarias concedido pela Petrobras, as tarifas dos ônibus urbanos teriam que ser reajustadas de imediato em 2,9%, em média. Somados aos reajustes anteriores do combustível, o diesel já subiu 47% este ano, gerando um impacto acumulado nas tarifas de 15,4%”, calcula a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), com base nas médias tarifárias praticadas no País.
Representatividade do óleo diesel no custo total = 32,8%
Reajuste em 10/5/2022
Reajuste = 8,9%
Impacto na tarifa = 2,9%
Acumulado ano 2022
Variação acumulada = 47,0%
Impacto na tarifa = 15,4%
Acumulado últimos 12 meses (junho/21 até maio/22)
Variação acumulada = 80,9%
Impacto na tarifa = 26,5%
E o cenário é ainda pior se forem considerados os valores dos últimos 12 meses (de junho/21 até maio/22). “O diesel já acumula uma alta de 80,9%, muito acima da inflação do período, o que representa um impacto na tarifa pública de 26,5% no último ano”, diz a NTU.
A entidade, que congrega 400 operadoras de ônibus em todo o País, alerta sobre os riscos de faltar coletivos para circular fora dos horários de pico, caso os sucessivos aumentos de custos não sejam compensados de alguma forma. “Temos cidades que já fizeram seus reajustes tarifários anuais e outras que adotaram subsídios emergenciais ou permanentes, a situação varia. Mas a grande maioria dos operadores não têm fôlego financeiro para enfrentar mais esse reajuste e terão que suspender o serviço fora dos horários de pico”, afirma Francisco Christovam, presidente da NTU.
ENGANO
Muita gente, claro, deve pensar e até verbalizar que isso é choro de empresários de ônibus, que só pensam no lucro. Pode até ser, mas é preciso considerar que o Brasil precisa do transporte público coletivo - principalmente o por ônibus - e que ele tem um custo.
E alguém tem que operá-lo. E operar sistemas de transporte coletivo custa dinheiro. E esse dinheiro vem da tarifa e ou de subsídios públicos, que podem ou poderiam vir de variadas fontes, inclusive de taxações do automóvel, do comércio e da indústria, por exemplo.
Mas não é fácil viabilizar subsídios. Passa por decisões políticas e viabilidade financeira. Em Pernambuco, por exemplo, o governo do Estado - com muito esforço e após anos sem cobrir custos do sistema de ônibus - destinou R$ 300 milhões em subsídios no ano de 2021. E mesmo assim, o valor representa apenas 15% do custo da operação. O resto continua vindo da tarifa paga pelo passageiro.
As receitas extra-tarifárias também ajudam, mas não vão cobrir toda a despesa.
Historicamente, no Brasil o custo do transporte é coberto em quase sua totalidade, pela tarifa do passageiro, que banca quase só a conta. Por isso, o Brasil e o governo brasileiro precisam reconsiderar os reajustes do diesel.