Dois dias depois de uma condutora de 81 anos morrer afogada ao ficar presa no alagamento do Túnel Felipe Salgado, mais conhecido como Túnel do Jordão, na Zona Sul do Recife, o governo de Pernambuco iniciou a drenagem da água acumulada no equipamento nesta sexta-feira (5/8).
Esse foi o procedimento paliativo encontrado pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PE), órgão responsável pela operação e manutenção do túnel, já que a solução definitiva para os alagamentos iria demorar.
Segundo o órgão, o Túnel do Jordão está alagado desde o fim de julho em decorrência de atos de vandalismo. Furtos de fios e peças ainda em junho e julho teriam comprometido todo o sistema elétrico e as bombas hidráulicas responsáveis por drenar as águas pluviais das pistas do equipamento.
Afogamento no Túnel do Jordão: perícia indica que motorista entrou no alagamento
“Foi preciso elaborar um novo projeto de restauração do sistema de drenagem e está sendo providenciada a aquisição dos equipamentos necessários para restabelecer o funcionamento das bombas do túnel. O investimento necessário será de R$ 320 mil”, explicou o DER-PE.
Detalhes sobre o novo projeto, como data de implantação e de licitação pública, por exemplo, não foram informados.
Enquanto a solução definitiva não chega, o Túnel do Jordão permanecerá fechado ao trânsito. A sinalização foi reforçada com a implantação de barreiras de concreto nos dois lados das pistas para evitar o acesso de veículos à parte inferior do túnel.
O posicionamento oficial do governo de Pernambuco informando que o Túnel do Jordão está alagado porque o vandalismo e furto impediram o escoamento da água é um argumento que não é mais aceitável.
É algo considerado inadmissível na engenharia civil e em pleno século 21, com a tecnologia guiando a vida das pessoas. Ainda mais num equipamento que tem problemas básicos, frequentes há dez anos, como é o caso do Túnel do Jordão.
O alerta é feito pela Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC).
“Não se pode aceitar esse tipo de situação. Um equipamento como esse não pode passar dez anos alagado quando chove. É preciso que o sistema de escoamento funcione”, alerta Stênio Cuentro, presidente da ABENC.
“Um problema desses uma vez, tudo bem. Mas é preciso resolver. Essa desculpa só vale uma vez. Hoje em dia você embute os cabos, fazendo o chamado envelopamento de concreto dos cabos e da bomba. E ainda usa um dispositivo que alerta no próprio celular toda vez que a bomba parar. Esse alerta vai para uma central de monitoramento”, explica.
O Túnel do Jordão tem dez anos de construído e já teve outros problemas estruturais, como a falha de execução da laje superior que provocou a interdição por meses. O equipamento fez parte das obras de triplicação da Estrada da Batalha, executada em 2012 pelo governo de Pernambuco.
Para quem não sabe, o Túnel do Jordão é fundamental para a conexão da periferia da Zona Sul do Recife com a PE-08, a Estrada da Batalha, ligando o Recife a Jaboatão dos Guararapes. A Estrada da Batalha é um importante corredor que dá acesso à BR-101, na saída sul do Grande Recife.
Toda a operação e manutenção do Túnel do Jordão, assim como da Estrada da Batalha, são feitas pelo DER-PE.
A perícia realizada pelo Instituto de Criminalística de Pernambuco (IC) confirmou que a causa da morte da mulher foi afogamento e que ela teria entrado no alagamento do túnel. Ou seja, não houve um sinistro de trânsito, por exemplo, que contribuiu para o episódio.
Segundo a perícia, o carro, que era automático, estava em posição "D". Ou seja, um indicativo de que a condutora entrou na água em movimento. A placa dianteira também estaria ligeiramente levantada ("arrebitada, como explicou a perícia"), outro sinal de que a mulher optou por acessar o túnel.
Diante do que encontrou, a perícia entendeu que não houve um capotamento. O carro teria boiado com a quantidade de água e tombado pela lateral.