Trânsito, transportes e mobilidade urbana, com Roberta Soares

Mobilidade

Por Roberta Soares e equipe
COLUNA MOBILIDADE

PESQUISA CNT RODOVIAS 2022: quase 70% das ESTRADAS do Brasil têm graves PROBLEMAS de manutenção e segurança

O custo dessa histórica e permanente degradação é alto para o País: R$ 94,93 bilhões. Essa seria a quantia necessária para recuperar o estrago

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Roberta Soares

Publicado em 09/11/2022 às 11:00 | Atualizado em 11/11/2022 às 15:20
O processo faz parte do Programa Ouvir para Mudar, que entrou em sua segunda etapa percorrendo as cidades do interior para ouvir os moradores - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

A malha rodoviária brasileira segue ruim, perigosa e, em vários Estados, com trechos quase intrafegáveis. E, o que é ainda mais alarmante: a situação piorou ainda mais este ano. É o que comprova, mais uma vez, a Pesquisa CNT de Rodovias 2022. Os dados mostram que quase 70% das estradas do País apresentam algum tipo de problema, oscilando entre péssimas, ruins e regulares. Apenas 34% da malha analisada foi considerada, no mapeamento atual, ótima ou boa.

E o custo dessa histórica e permanente degradação é alto para o País: R$ 94,93 bilhões. Essa seria a quantia necessária para recuperar o estrago. Ou seja, para promover ações emergenciais, de restauração e de reconstrução das estradas.

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E por causa da ineficiência do País para cuidar e fiscalizar suas estradas - responsabilidade que precisa ser dividida entre o poder público e o setor privado -, o estrago provocou e provocará um consumo desnecessário de 1,1 bilhão de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento. Esse desperdício custará R$ 4,89 bilhões aos transportadores.

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A Pesquisa CNT de Rodovias 2022, que chega à 25ª edição, foi divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) nesta quarta-feira (9/11) e mapeou, este ano, 110.333 km no Brasil, o que representa a totalidade da malha rodoviária pavimentada brasileira.

Na edição deste ano, houve um acréscimo de 1.237 km (1,1%) em relação a 2021, quando foram analisados 109.096 km.

Na edição deste ano, houve um acréscimo de 1.237 km (1,1%) em relação a 2021, quando foram analisados 109.096 km - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

“A degradação da malha rodoviária brasileira está em um nível muito acelerado e algo precisa ser feito com urgência para reverter esse quadro. Caso contrário, o Brasil entrará num estágio em que terá que reconstruir sua malha rodoviária, sem ter recursos para isso”, alerta o diretor executivo da CNT, Bruno Batista.

“Nunca tivemos uma situação tão ruim. Pela primeira vez, desde que a Pesquisa CNT começou a ser desenvolvida, vimos resultados tão preocupantes. Este ano, tivemos menos de 10% do pavimento das rodovias analisadas considerado como perfeito. Em 2011, 2012, e até 2015, por exemplo, esse índice era de 35%. Em 2022 caiu para 9%”, segue alertando.

Bruno Batista confirma o que o histórico das pesquisas apontam: que o problema da degradação da malha rodoviária não é de um governo, mas de vários, da figura do Estado em si. “Nosso objetivo não é fazer críticas a um ou a outro governo. A situação da malha nesses 25 anos de análise mostra que é preciso uma política pública de investimentos. Sem recursos para manutenção e requalificação das estradas não vai ter solução”, reforça.

“Não é à toa que o Sudeste segue se destacando no ranking. Sete das dez melhores rodovias do País estão na região, onde predominam as concessões. Das dez melhores, nove são concedidas. Já a região Norte, por exemplo, tem situações extremas, como o fato de que 80% da malha foram avaliados como ruim. Estados como o Acre e o Amazonas, por exemplo, não tiveram rodovias consideradas como ótimas. No Acre, 98% da malha foram avaliadas como ruins”, diz.

“Já as dez piores são todas estaduais e públicas. Isso é um sinal de que, de fato, o poder público não investe. E não adianta termos uma malha federal boa ou razoável e uma malha estadual ruim. As duas se conectam porque compõem uma rede. Não faz sentido as BRs serem boas e as estaduais estarem em ruínas”, segue afirmando.

 

CENÁRIO MUITO, MUITO RUIM

Além de um quadro geral ruim, a pesquisa ainda identificou pelo menos 2.610 pontos considerados críticos no País, segundo os avaliadores. Essa caracterização seria para os trechos de fato intrafegáveis.

As Pesquisas CNT de Rodovias sempre analisam o pavimento, a sinalização e a geometria das rodovias. Quando o recorte é sobre o pavimento das estradas, a situação é um pouco menos ruim do que a análise do quadro geral: 55,5% da extensão da malha rodoviária do País avaliada apresenta problemas de pavimento, enquanto 44,5% estão em condições satisfatórias. Mas 0,6% estão com o pavimento totalmente destruído.

Sob a ótica da sinalização, que abrange as placas (sinalização vertical) e a pintura das vias (sinalização horizontal), as estradas brasileiras também têm muitos problemas. Mesmo onde ela existe, em sua maioria não é suficiente.

A pesquisa aponta que 60,7% da extensão da malha rodoviária é considerada regular, ruim ou péssima, e que 39,3% foi considerada ótima ou boa. O cenário é o mesmo para a geometria, que é o traçado em si das estradas, o que gera impacto direto na segurança viária e na redução de sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se diz. Entenda).

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A CNT concluiu que, em 2021, 63,9% da extensão da malha rodoviária do País apresenta algum tipo de problema e apenas 36,1% está ótima ou boa. As pistas simples predominam em 85,6% e falta acostamento em 44,6% dos trechos avaliados. Ao mesmo tempo, 29,0% têm curvas perigosas e não possuem sinalização.

E o custo dessa histórica e permanente degradação é alto para o País: R$ 72,26 bilhões. Essa seria a quantia necessária para recuperar o estrago. Ou seja, para promover ações emergenciais, de restauração e de reconstrução das estradas - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

SEM RECURSOS EM 2023

E a perspectiva de futuro não é boa, o que agrava ainda mais a situação. Segundo a CNT, a previsão para 2023, pelo Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), é de que o País irá investir menos de R$ 6 bilhões na malha rodoviária federal.

Essa quantia seria metade do que a pesquisa estimou em custos com os mortos e feridos nas estradas devido à falta de manutenção e trafegabilidade: R$ 12 bilhões.

“Em 2021, foram R$ 6 bilhões e, para 2023, estão previstos ainda menos: R$ 5,8 bilhões. Isso representa um investimento de 0,7% do PIB do Brasil. O que é muito injusto para a força econômica que as rodovias têm no País, onde o transporte de cargas é rodoviário”, finaliza.

 

RADIOGRAFIA DA PESQUISA

• 110.333 km pesquisados. Acréscimo de 1.237 km (1,1%) em relação a 2021 (109.096 km)
• Abrange toda a extensão pavimentada das rodovias federais e das principais
rodovias estaduais do país
• 22 equipes de pesquisa; 30 dias de coleta em campo

Abrangência

Extensão avaliada por região (km)
Norte 13.745
Nordeste 29.537
Sudeste 30.297
Sul 18.670
Centro-Oeste 18.074

Tipo de gestão 2022

Gestão Pública 87.095
Gestão Concedida 23.238
Total 110.333

Extensão pesquisada por tipo de jurisdição (km)

Tipo de jurisdição 2022
Federal 67.382
Estadual 42.951
Total 110.333

SINISTROS DE TRÂNSITO

Sinistros de trânsito rodoviários

Os 64.515 sinsitros de trânsito ocorridos em rodovias federais em 2021 geraram um prejuízo
aproximado de R$ 12,75 bilhões para o País e a perda 5.395 vidas (óbitos).

Custo econômico dos sinistros de trânsito rodoviários - 2021

Tipo/Custo médio (R$)/Número de sinistros/Custo adicional dos sinistros de trânsito (R$ bilhões)

Com fatalidade R$ 1.054.367,91 4.663 R$ 4,92
Com vítimas R$ 153.436,33 48.161 R$ 7,39
Sem vítimas R$ 37.267,67 11.691 R$ 0,44 R$ 12,75

Fonte: Elaboração CNT, com dados da PRF. Atualizado pelo IPCA de agosto/2022

CONFIRA A ÍNTEGRA DA PESQUISA CNT DE RODOVIAS 2022 AQUI

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