O poeta romântico Álvares de Azevedo (1831 — 1852) escreveu certa vez uma carta ao amigo Luiz Antonio da Silva Nunes e eu separei uma de suas brilhantes frases que diz assim: “Cada qual dá o que tem — dar-te-ei versos, já que só isso tenho”.
No mundo político os interesses afetivos pesam muito pouco quando o que está em jogo é a sobrevivência de uma tese, de um conceito, de um argumento. E na hora em que o sapato aperta é bom recordar o que dizia outro importante poeta brasileiro, Aldir Blanc (1946 — 2020) “No dedo, um falso brilhante. Brincos iguais ao colar. E a ponta de um torturante Band-aid no calcanhar”.
Não faz nem seis meses que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) era o marombado e querido símbolo de um governo que tripudiava das instituições, das pessoas, da pandemia e dos poderes constituídos. O deputado chegou a ser impedido de entrar em um voo, por se negar a usar máscara de proteção contra a covid-19, que chamou de “focinheira ideológica”, foi aplaudido pelo militantes negacionistas que, a exemplo do presidente da República, negam a ação devastadora do vírus.
Quando um grupo de militantes bolsonaristas fez uma marcha noturna na Praça dos Três Poderes, no centro de Brasília, para jogar fogos de artifício contra o prédio do Supremo Tribunal Federal, Daniel Silveira declarou que “esses heróis merecem uma medalha de honra ao mérito por tamanha bravura”.
Menos de um ano dessas recentes e atuais estrepolisas, e Daniel Silveira está atrás das grades, feito um cordeiro às vésperas de ser imolado para servir de exemplo e uma patota que lhe renega o apoio.
Os amigos, os aliados, os seguidores e os ídolos do deputado estão a esta hora, com o rádio ao pé do ouvido para atualizar as notícias, como quem vira as costas para quem ao menos no semblante desolado, lhes roga um socorro.
Pense nisso!