Um mês e meio após ação desastrosa da Polícia Militar de Pernambuco contra manifestantes que protestavam contra o governo Bolsonaro, na área central do Recife, outro caso de trabalhadora ferida por bala de borracha vem à tona. Uma autônoma procurou a Defensoria Pública do Estado para denunciar que foi atingida na perna. Ela apresentou provas e, após análise, o governo do Estado reconheceu que ela tem direito a um benefício salarial, que começou a ser pago nessa segunda-feira (12). Os outros dois trabalhadores que ficaram cegos após serem atingidos nos olhos no protesto, em 29 de maio deste ano, também estão recebendo auxílio.
A informação foi confirmada pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) à coluna Ronda JC. Segundo a pasta, a autônoma "apresentou à Defensoria relatos e documentos que comprovam que ela sofreu ferimento em uma das pernas decorrente de disparo de bala de borracha".
"A equipe técnica da Secretaria Executiva de Assistência Social, da SDSCJ, realizou estudo técnico com visita domiciliar confirmando as sequelas, não permanentes, mas que a afastaram do trabalho a longo prazo. O parecer social emitido também pontua a situação de vulnerabilidade agravada pelas restrições socioeconômicas determinadas pelas sequelas do ferimento sofrido", informa a secretaria.
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Por causa disso, foi concedido à vítima três parcelas de benefício eventual no valor de dois salários mínimos, o que representa a quantia de R$ 2.200. A primeira parcela já foi paga pelo Estado. O nome da vítima será preservado pela coluna.
OS OUTROS CASOS
Além da autônoma, também foram vítimas da ação policial o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, atingido no olho direito, e arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, ferido no olho esquerdo. Os dois homens, que voltavam do trabalho para casa, perderam a visão. Eles estão recebendo o benefício de salários mínimos e cestas básicas e, por intermédio de advogados, negociam uma indenização vitalícia.
Os policiais envolvidos na ação contra os trabalhadores são investigados pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS). Por nota, nesta terça-feira (13), a assessoria da SDS afirmou que ambas as investigações ainda estão em curso. "Todos os elementos que possam colaborar com a elucidação dos fatos estão sendo levados em consideração. Ao todo, 16 policiais militares (3 oficiais e 13 praças) foram afastados e permanecem fora de suas atividades operacionais enquanto ocorrem as investigações", diz o texto.
O PM suspeito de atirar no olho de Jonas Correia foi identificado como Reinaldo Belmiro Lins, 3º sargento do Batalhão de Choque da PM. O secretário da SDS, Humberto Freire, determinou o afastamento cautelar dele da corporação pelo prazo de 120 dias, mas o tempo pode ser renovado.
No total, sete Processos Administrativos Disciplinares (PADs) estão em andamento na Corregedoria da SDS para apurar excessos cometidos pelos policiais militares.
DESDOBRAMENTOS
A ação desastrosa da PM também levou à queda do então secretário de Defesa Social Antônio de Pádua. O coronel Vanildo Maranhão também foi exonerado do comando geral da PM. Ele foi substituído pelo também coronel José Roberto de Santana.
O subcomandante da PM, André Cavalcante, também foi substituído. No lugar dele, assumiu o coronel Aníbal Rodrigues Lima. Até então, ele era corregedor adjunto da Corregedoria da SDS. Ele tem 30 anos de efetivo serviço.