Atualizada às 20h58
Pesquisa sobre os problemas e carências dos médicos no enfrentamento à covid-19 e eventuais reflexos na assistência aos pacientes infectados foi feita, entre 15 e 25 de maio, pela Associação Paulista de Medicina. O levantamento contou com a participação de 2.808 médicos de todo o País, respondendo espontaneamente a questionário estruturado online, via plataforma Survey Monkey.
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Indagados sobre a percepção sobre o isolamento social, a maioria (75,3%) respondeu bom e importante. Por outro lado, profissionais de medicina não demonstram otimismo quanto ao futuro imediato em São Paulo e no Brasil: 84,5% consideram que não atravessamos a pior onda da covid-19.
Apenas 3,4% afirmam ser improvável faltar médicos para cuidar dos infectados. Os outros 96,6% admitem a possibilidade isso ocorrer, em variados níveis. Aliás, 46% dos que estão na linha de frente apontam que já faltam médicos e profissionais de saúde nas unidades em que trabalham.
Outros dados preocupantes dizem respeito à integridade dos médicos: 58,5% já presenciaram ou souberam de casos de violência contra médicos e outros profissionais da saúde por conta da pandemia. O mais grave é que 17% desses episódios são de agressão física.
A pesquisa também revela que 64% dos médicos da linha de frente não foram testados para covid-19.
Somente 58,7% relatam que, quando algum trabalhador da saúde tem manifestações clínicas que possam ser atribuídas à covid-19, ele é sistematicamente submetido ao teste para confirmação diagnóstica, em todos os lugares onde trabalham.
A população também sofre neste quesito: 39,4% dos médicos da linha de frente pontuam que só há testes para os pacientes com sintomas graves, e 9,1% relatam não existir testes em seus locais de trabalho.
Aos profissionais de medicina, foi indagado também se a rotina de atendimento a pacientes e a percepção deles condizem com os números oficiais de casos divulgados pelas autoridades de Saúde, tanto de infectados quanto de óbitos. Foram 63% os que disseram que não.
Os médicos da linha de frente seguem apreensivos, pessimistas, deprimidos, insatisfeitos e revoltados – em uma somatória de 79,3%. Apenas 20,7% dividem-se entre otimistas (5,3%) e tranquilos (15,4%).
No período da pesquisa, 75,3% dos profissionais atendiam até cinco pacientes com suspeita e/ou confirmação diariamente. Outros 24,7% respondiam à desumana e arriscada carga de atender entre 6 até mais de 20 infectados por dia, em média.
Destes profissionais da linha de frente do combate à pandemia, 33,7% tiveram pacientes assistidos que vieram a falecer com suspeita e/ou confirmação da doença. Cerca de 7,3% já viram morrer entre seis até mais de 20 pessoas.
Sobre o fato de estarem trabalhando muito mais e de colocarem todos os dias suas vidas em risco para atender ao próximo, os profissionais de medicina relatam que tiveram queda de renda em razão da pandemia (85,2%), sendo que 37,6% acusam queda acentuada na remuneração.
Deficiências das mais diversas receberam apontamentos dos entrevistados pela pesquisa APM. Para 33% deles, faltam máscaras N95, PFF2 ou equivalente (N99, N100 ou PFF3) nos hospitais em que atendem. Há carência de leitos para pacientes que precisam de internação em UTI (18%) e de leitos para os pacientes que precisam de internação em unidades regulares (12,2%).
Os médicos e profissionais da saúde não estão trabalhando com estrutura física/insumos adequados e segurança na opinião de 50,3% dos que responderam ao levantamento e estão atendendo pacientes com covid-19.
Entre os médicos que estão atuando no combate à pandemia, 22,3% dizem estar plenamente capacitados para atender os enfermos em qualquer fase da doença, inclusive quando graves, sob tratamento intensivo.
Ainda sobre capacitação, fica clara mais uma deficiência do setor público: atualmente, 38,5% dos médicos da linha de frente recebem atualização científica dos hospitais, 38% têm acesso a conhecimento científico via associações médicas e 61,5% pesquisam diretamente na literatura médica. Já o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais e municipais ficam no fim da fila com índices de 31,5%, 17,5% e 18,5%, respectivamente.
O levantamento ainda mostra que a conceituação do Ministério da Saúde despencou após a saída de Luiz Henrique Mandetta. O ex-titular da cadeira tinha excelente aprovação na primeira edição da pesquisa da APM e parcos 5% de ruim e péssimo. Na pesquisa de agora, o ministério teve 43,1% de ruim e péssimo – aumento de mais de 800% nas críticas.