Neste momento da campanha de vacinação contra covid-19, em que uma (pequena) parcela da população já tomou as duas doses contra a covid-19, profissionais de saúde têm observado que parte desse grupo tem relaxado diante das medidas preventivas. É por isso que trazemos aqui explicações sinceras e que servem de alerta: a imunização completa (ambas as doses) não anula os riscos do adoecimento. Sim, as vacinas são seguras, mas só oferecem proteção contra o novo coronavírus 21 dias após a segunda dose.
Em várias conversas com o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, representante regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), aprendemos que ambas as vacinas (CoronaVac e AstraZeneca) disponíveis no Brasil não anulam o risco de infecção pelo vírus. Elas são capazes de reduzir a gravidade da covid-19. Ou seja, quem já finalizou o esquema vacinal ainda tem chance de se infectar. Se isso acontecer, contudo, a chance de complicações se torna menor, em comparação com as pessoas não imunizadas que adoecem. "E um detalhe importante é que, mesmo aquelas pessoas vacinadas com as das doses e que adoecem com a forma leve, podem transmitir o vírus para outros", alerta Eduardo Jorge.
- Recife inicia vacinação contra a covid-19 de idosos a partir de 62 anos
- Covid-19: Paulo Câmara anuncia que Pernambuco supera marca de um milhão de vacinados com a 1ª dose
- Recife tem a maior taxa de mortalidade por covid-19 da Região Metropolitana
- Com mais 2.354 confirmações, Pernambuco tem 2ª maior média móvel de casos de covid-19 desde o início da pandemia
Ou seja, aquela frase que a gente costuma dizer "depois que tomar a vacina, eu vou..." precisa ser repensada. Ainda vamos ter que lidar com o novo coronavírus por muito tempo e, por mais que as vacinas tragam esperança, o nosso comportamento é o que vai realmente fazer a diferença para controlar a circulação do vírus — pelo menos, neste momento. Então, mesmo quem já recebeu as duas doses de CoronaVac ou AstraZeneca, precisa continuar seguindo todos os protocolos ditados pelas autoridades sanitárias. A máscara, que ainda é usada de forma incorreta por algumas pessoas, continuará por muito tempo ainda como nossa companheira. É ela que pode reduzir o risco de transmissão do novo coronavírus em 95%, de acordo com estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão de saúde dos Estados Unidos.
Ainda assim, a vacinação contra a covid-19 pode ajudar a mudar o curso da pandemia. "Os estudos de efetividade têm mostrado o impacto da imunização, com redução no número de casos. Uma pesquisa em Manaus com a CoronaVac, por exemplo, da qual participaram quase 68 mil profissionais de saúde, revelou que a vacina tem eficácia até mesmo neste momento de circulação da P1 (variante brasileira do coronavírus identificada pela primeira vez na capital do Amazonas)", ressalta Eduardo Jorge.
Outra consideração a ser feita é que não se sabe ainda por quanto tempo deve durar a proteção oferecida pelas vacinas hoje disponíveis. Há quem diga que precisaremos tomar injeções todos os anos, como ocorre contra a gripe; outros especialistas consideram que o novo coronavírus é mais estável do que o influenza e, portanto, não exigiria a aplicação de doses anuais. Por enquanto, ninguém bate o martelo. Então, na prática, continuam valendo o uso da máscara, a higienização das mãos frequentemente e o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre as pessoas.
Talvez a tranquilidade se torne um tanto real no dia em que a cobertura vacinal for alta — isto é, quando pelo menos 80% da população estiveram imunizados. Mas hoje só temos cerca de 10% dos brasileiros com a primeira dose; 3% deles com ambas as aplicações. É pouquíssimo para pensarmos em proteção coletiva, que é o nosso sonho. Afinal, quanto menos pessoas adoecem, menor é a possibilidade de transmissão e mais saudável ficaremos. Por ora, a ameaça do novo coronavírus continua — e isso é o bastante para não baixar a guarda, tampouco para liberar geral, mesmo com as duas doses da vacina.