Atualizada às 22h30
Moradores da Região Metropolitana do Recife (RMR) têm relatado lesões na pele que provocam coceira intensa há, pelo menos, um mês. Desde então, a quantidade de casos, tratados como "lesões cutâneas a esclarecer", tem crescido e intrigado autoridades sanitárias, pesquisadores e médicos, responsáveis por investigar a condição. Ao menos seis municípios pernambucanos já notificaram casos.
Os primeiros registros vêm do começo de outubro, mas a Vigilância Epidemiológica do Recife só ficou ciente da ocorrência no início deste mês, quando recebeu a notificação de cinco casos de crianças com lesões e coceiras na pele, no Córrego da Fortuna e no Sítio dos Macacos, na Zona Norte da cidade.
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No último dia 18, quando o JC divulgou o alerta epidemiológico da capital pernambucana, já havia registro de 79 pessoas, com idades entre dois e 96 anos, com os mesmos sintomas. Até a última atualização, nesta quarta-feira (24), Recife acumulava 149 casos.
Há seis pessoas, em Paulista, que já foram notificadas com as lesões na pele. Em Camaragibe, são 78 notificações. Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata e Olinda informaram que investigam 21, seis e quatro casos, respectivamente.
Mas o que explica este surto? O que fazer para evitar? Como aliviar os sintomas? Saiba o que já se conhece e o que ainda falta saber sobre essa condição.
Lesões não seguem um padrão
O médico infectologista Demétrius Montenegro, chefe do setor de doenças infectocontagiosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), explica que o mais intrigante é que os casos notificados não apresentam um padrão. "A variabilidade das lesões é grande. Por isso, identificar a causa não é simples. Mais de 80% das pessoas acometidas apresentam apenas as lesões de pele e a coceira. Uma pequena parcela também relata febre. Isso pode levar a uma superposição de diagnóstico, o que dificulta a investigação. É um trabalho de juntar peças de um quebra-cabeça", sublinha Demétrius.
É zika? É dengue ou chicungunha?
Sobre a possibilidade de se tratar de arboviroses, o infectologista Demétrius Montenegro comenta que as lesões têm se apresentado de forma diferente do exantema que tende a aparecer nos casos de zika, por exemplo. "Nesses casos de agora, estamos vendo pequenos caroços na pele, que causam coceira, levam a ferimentos, podendo até sangrar, e formam uma crosta." Além disso, Demétrius fala sobre diferenças na duração dos sintomas. "Há pacientes que ficam bem rapidamente, mas há outros em que o quadro demora mais de dez dias, mesmo quando seguem o tratamento para alívio das manifestações (lesões e coceira)", diz o infectologista. Para ele, pelo fato de os casos terem começado em localidades próximas a áreas de mata, existe a possibilidade de o surto ser causado por um desequilíbrio ambiental, o que levaria algum inseto a causar as lesões na pele com coceira.
Por que o número de casos dessas lesões e coceira só aumenta?
O aumento do número de notificações, segundo a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), é esperado, uma vez que, com o alerta epidemiológico emitido na última semana, é natural que as redes de saúde pública e particular fiquem mais atentas a pacientes com sinais sugestivos dessa condição.
Como está sendo feita a investigação?
Na última sexta-feira (19), representantes da Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde do Recife, da Secretaria Estadual de Saúde e do Instituto Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, além de um médico infectologista e de um médico epidemiologista, estiveram reunidos para discutir os casos. "Ainda é necessário aguardar resultados de alguns exames laboratoriais dos casos e da análise de ácaros e mosquitos capturados para que seja possível apontar conclusões. Nesta semana, uma nova reunião entre os especialistas deve ser realizada", informa a Sesau.
A causa das lesões que causam coceira ainda é desconhecida. Mas quais são as hipóteses?
A Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) destaca que, até agora, não houve o registro de agravamento associado à aparição das lesões cutâneas nos pacientes e que segue atuando em diversas linhas de investigação. "Uma delas é desenvolvida por meio da captura de mosquitos, por equipes da Vigilância Ambiental, em alguns domicílios situados nas localidades onde houve notificações de casos, trabalho que também terá continuidade nos próximos dias. Serão realizados, ainda nesta semana, exames de raspado de pele em alguns pacientes notificados", diz a Sesau.