Após semanas em meio à explosão de infecções respiratórias na infância, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) confirma, nesta terça-feira (24), a notificação de pelo menos 29 mortes de bebês e crianças até 5 anos, em decorrência de complicações da síndrome respiratória grave (srag) não causada por covid-19. O dado leva em consideração os registros deste ano feitos até o dia 21 de maio sem relação com o coronavírus.
Outros três óbitos mais recentes nessa faixa etária, também confirmados pela SES e ocorridos de 22 a 24 de maio, ainda não estão no total divulgado pela pasta. Foram vidas perdidas à espera de um atendimento digno em leito de terapia intensiva (UTI), diante do cenário de avanço dos vírus respiratórios entre recém-nascidos e crianças, da dificuldade de atender esses pacientes nos hospitais, da falta de pediatras intensivistas e de cirurgiões pediátrico.
Com isso, até o momento, o Estado tem pelo menos 32 mortes por srag não covid até os 5 anos. O maior registro de mortes de 2022 é da primeira semana do ano, quando Pernambuco vivenciava a epidemia da influenza H3N2 Darwin, e do fim de abril (dia 24 a 30). Em cada uma dessas semanas, foram notificados cinco óbitos por doenças respiratórias que não foram causados pela infecção pelo coronavírus.
No Hospital Jaboatão Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, um menino de 3 anos com pneumonia morreu, na sexta-feira (20), após uma parada cardiorrespiratória. Segundo a SES, a criança chegou à unidade de saúde no dia 18 com sintomas gripais leves. "Após passar pela triagem, recebeu classificação de risco verde, de menor gravidade. Dessa forma, a família foi orientada a procurar as unidades municipais de baixa complexidade, responsáveis por esse tipo de atendimento. Ao retornar, na sexta-feira (20), o paciente foi internado no hospital e acompanhado pela equipe multidisciplinar de plantão no serviço", diz, em nota, a secretaria.
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O menino foi encaminhado diretamente para a sala vermelha no momento da admissão, após análise do setor da classificação de risco. Com quadro de pneumonia, a criança passou a receber suporte ventilatório, realizou os exames necessários e iniciou terapia com antibiótico. "Mesmo com toda a assistência para o quadro clínico apresentado, o paciente teve uma parada cardiorrespiratória e evoluiu para óbito ainda na sexta (20)."
Infelizmente a morte do menino de apenas 3 anos expõe falhas contínuas na assistência num período de maior circulação de vírus respiratórios na faixa etária pediátrica. O que tem chamado a atenção dos profissionais de saúde é que a elevada incidência de agora desponta com maior gravidade para as crianças, algo que não ocorria desde 2009, quando vivenciamos o surto provocado pelo H1N1.
E antes de se chegar a esse pico, reconhecido pelo próprio secretário Estadual de Saúde (André Longo) como o pior momento na pediatria, especialistas já denunciavam a escassez na assistência, as unidades superlotadas e um aumento, desde março, de crianças com sintomas gripais nas emergências.
Agora, em meio a uma pressão gerada pela explosão de casos e por hospitais que operam com sua capacidade total, o governo do Estado demonstra uma reação tardia para salvar a vida dos pacientes.
São muitos os relatos de famílias sobre crianças em emergências que não conseguem atender a demanda. São centenas de pedidos por leitos de UTI. Só na última semana, foram 228 solicitações por esse tipo de vaga para crianças e bebês. A maioria, lamentavelmente, não tem a chance de ser transferida e permanece na fila de espera em emergências ou unidades de pronto atendimento.
O governo do Estado, através da SES, garante que "todos os serviços de emergência pediátrica da rede estadual estão preparados para o atendimento aos pacientes em estado crítico e contam com equipes multiprofissionais 24h". A pasta ainda acrescenta que as unidades são referência no atendimento de alto e médio risco, e as salas são equipadas com ventiladores pulmonares para os momentos em que há necessidade de intubação e respiração artificial.
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Olinda, um bebê de 8 meses foi a óbito na noite do último domingo (22) antes de ser transferido para um leito de UTI. A direção da unidade, segundo a SES, informou que ele recebeu o primeiro atendimento no último dia 16 com quadro de constipação, o que não foi considerado como grave.
"A equipe do plantão realizou o procedimento de lavagem intestinal, prescrição de medicação para melhora do quadro, e, em seguida, o paciente recebeu alta. O retorno ao serviço de saúde aconteceu no último sábado (21) pela manhã, quando apresentou quadro de dor abdominal, dispneia (dificuldade para respirar) e baixa saturação."
Em nota, a SES diz que o paciente foi para a sala vermelha da UPA Olinda, onde foi iniciada a terapia com antibiótico, e o paciente passou a receber suporte ventilatório. "A solicitação de leito de terapia intensiva para o paciente foi emitida na tarde do mesmo dia. No entanto, o paciente começou a apresentar uma piora do quadro clínico, que levou a uma parada cardiorrespiratória, com óbito constatado por volta das 22h do domingo (22)."
Assim como o paciente de 8 meses que não teve a chance de atendimento em UTI, uma bebê de 1 mês de vida foi a óbito na madrugada desta terça-feira (24) na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Curado, em Jaboatão dos Guararapes, enquanto aguardava uma vaga em terapia intensiva. Ela chegou ao serviço na quinta-feira (19), com sintomas de tosse e cansaço.
"Devido a uma piora na evolução do quadro clínico, foi solicitada a transferência para uma enfermaria voltada para o acompanhamento de casos respiratórios. Com quadro de bronquiolite viral aguda, passou a receber suportes ventilatório, realizou exames laboratoriais e raio-x, iniciou terapia com antibiótico e aspiração nasal, entre outros", diz a SES. De acordo com a pasta, a paciente teve uma parada cardiorrespiratória no momento da transferência para outro serviço de saúde, onde passaria a ser acompanhada em leito de UTI.
Barão de Lucena
O Hospital Barão de Lucena (HBL), no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, referência no atendimento de crianças com quadros respiratórios, está entre as unidades que mais sentem a pressão do surto de doenças respiratórias na infância. Além da superlotação, o serviço também tem déficit de pediatras.
Em audiência realizada na segunda-feira (23), o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Capital, deu o prazo de cinco dias para que a Secretaria Estadual de Saúde (SES) comprove a lotação dos três médicos pediatras nomeados na última semana para atuar no HBL.