Assistir filmes de surfe não é necessariamente o melhor programa para alguém que não surfa. Ver o mesmo filme várias vezes, como se fosse a primeira vez, não é fácil de ser compreendido. Passei muito tempo tentando fazer minha querida esposa, Fabiana de Belli, assistir comigo. Apelei para a beleza das imagens, a aventura que passam seus protagonistas, a superação nas histórias de vida e sua cultura, as músicas iradas, mas nada era suficiente para prender a atenção dela por mais de 10 minutos. Assisti programas de moda e culinária com ela para depois barganhar, mas nada funcionava.
Até que apareceu Nalu, a filha do surfista de ondas gigantes Everaldo Pato, e tudo mudou!! O seu programa ao redor do mundo, mostrando o cotidiano da família e o sonho realizado de viver de surfe, trouxe para meu sofá Fabiana, que através da telinha assistiu Isabelle Nalu crescer. Então eu me vi comendo pipoca ao lado dela, assistindo trip iradas ao redor do mundo. Pato, Fabiana Nigol (xará da minha) e Belinha Nalu já rodaram o mundo de bicicleta, de carro, de avião, de helicóptero e de veleiro, sempre mostrando imagens lindas nos maiores paraísos da Terra. Obrigado Nalu!!!!
Olhando por outro ângulo, séries que retratam o estilo de vida dos surfistas e suas realidades familiares ou os bastidores do esporte e toda a cultura dos locais abriram campo para consolidar a profissão de "free surfer".
Tempos atrás, ter a família viajando junto com os competidores foi duramente criticado pelo aumento de custo das viagens e por tirar o foco profissional do surfista. Elka Roichman, esposa do ícone do surfe brasileiro Fabio Gouveia, chegou a explicitar essa questão, em texto publicado na revista Fluir, em que se mostrava bastante irritada pelas críticas direcionadas a seu marido que levava a família com ele nas etapas do Circuito Mundial de surfe. O tempo mostrou que eles estavam no caminho certo. Seu marido teve uma carreira vitoriosa e, do mesmo modo, seu filho Ian segue o exemplo, viajando com a esposa e filha para as etapas do Qualifying Series.
Muitas vezes é preciso quebrar paradigmas. Fabiana Nigol conta: "Se fôssemos seguir os conselhos de muita gente a Bela não teria nascido, nunca mais teríamos viajado e eu estaria no Brasil levando uma vida tradicional, assistindo o maridão surfando pelo mundo. Enquanto a Belinha se formava, a ideia de um filme de surf com uma história de amor em família ia tomando corpo. Era arriscado, diferente, nunca nenhum atleta tinha ido por essa linha, mas a história era verdadeira, cheia de roubadas, alegrias, lugares lindos e muita onda. Imaginou se nunca tivéssemos tentado?”
Hoje famílias de surfistas viajam juntas, para competições ou para "free surf". Grandes marcas do esporte patrocinam esses momentos, permitindo a visibilidade de suas marcas e de seus produtos como uma vitrine. O antigo filme de surfe, quase como um grande videoclipe, no qual uma boa trilha musical dava o tom da estória ali a ser contada, vem dando lugar a produções elaboradas, onde a ação dentro da água tem tanto valor quanto as boas locações e a interação com as comunidades locais.
Mas vale a pena relembrar os memoráveis filmes de surfe. O BLOG DO SURFE vai resgatar, no decorrer das postagens, algumas dessas produções, das clássicas às locais, em ondas famosas e exóticas.
Para começar, sugiro que assistam os dois filmes dirigidos por Bruce Brown: The Endless Summer, de 1966, e The Endless Summer II, de 1994. Para muitos, o primeiro é o filme de surfe mais importante de todos os tempos. Nele, Mike Hynson e Robert August embarcam em uma viagem ao redor do mundo, visitando vários lugares na Austrália, Nova Zelândia, Tahiti, Havaí, Senegal, Gana e África do Sul. 28 anos depois voltam-se aos picos desbravados, em The Endless Summer II, e se apresentam novas ondas. Pat O’Connell e Robert “Wingnut” Weaver revisitam os pontos onde Mike e Robert foram felizes na década de 1960.
Confiram!