O mês de junho começa com a perspectiva de uma abertura mais ampla e da retomada das atividades turísticas em diversas partes da Europa.
Na França, por exemplo, entra em vigor hoje (2) a segunda etapa do plano de desconfinamento, com a reabertura de museus, monumentos, parques e jardins em todo o país. Restaurantes e cafés também funcionarão, mas seguindo algumas restrições, de acordo com a região onde se localizam. No caso de Paris, ainda em alerta, por enquanto só os terraços estão autorizados a receber clientes.
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Com as fronteiras da União Europeia (UE) ainda fechadas aos estrangeiros pelo menos até o próximo dia 15, quem se beneficia do fim da quarentena é a população e turistas locais. Aos poucos, as cidades voltam a se encher de vida e as pessoas começam a se adaptar ao "novo normal".
Confira a seguir os depoimentos de recifenses e outros brasileiros que moram na Europa sobre como estão vivendo este momento.
FABÍOLA LUCENA
Jornalista de formação, trabalha na área comercial de um site de notícias português. É mãe de Tomás, 8 anos, e Melissa, 5 anos, e casada com o carioca Leandro Carvalho. Vivem na cidade do Porto (Norte de Portugal), pela segunda vez, desde janeiro de 2019.
CORTESIA - Ribeira de Vila Nova de Gaia foi o destino do primeiro passeio da família de Fabíola Lucena no Porto, em Portugal
A pandemia fez a gente sentir saudades da própria cidade onde vivemos e o primeiro lugar que decidimos ir com as crianças quando começou o desconfinamento foi a Ribeira de Vila Nova de Gaia, que tem vista para a cidade do Porto, um dos nossos locais preferidos. Adoramos sentir o rio Douro ali pertinho, e pra mim é dos lugares mais lindos que já conheci. Poucas pessoas circulavam, muitos restaurantes continuam fechados pelo fato de a região ser muito turística e ainda não ter visitantes na cidade. Naquela tarde de domingo pareceu que havíamos voltado no tempo e revimos o Porto como há 12 anos, quando vivemos da primeira vez aqui. Foi incrível sentir a calma e ver os próprios moradores passeando por ali. Por algumas horas não sentimos medo da covid-19. Era um dia quente e lindo de primavera.
CORTESIA - No Norte de Portugal, a cidade do Porto parece ter voltado no tempo
Os pontos turísticos ainda continuam com pouco movimento pelas restrições aéreas e terrestres, mas, aos poucos, a cidade vai voltando a ter vida. As pessoas já estão indo aos parques, aos cafés, restaurantes e as esplanadas dos bares para aproveitar os dias de sol. Há regras de distanciamento das mesas, obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados e o movimento ainda é fraco em alguns setores. O medo ainda existe e a volta está sendo gradual, mas confiamos no governo e até então as medidas implementadas tem nos dado segurança. Aos poucos, estamos nos reacostumando a esse novo modo de viver. MÁRCIO VIEIRA Vive com a mulher e o casal de filhos em
Berlim, aonde chegou em dezembro de 2015 para trabalhar em uma empresa de jogos mobile como artista de desenvolvimento visual.
CORTESIA - Márcio Vieira vive em Berlim desde 2015 e diz que quarenta na capital alemã foi leve
Em Berlim não houve lockdown. Podíamos andar na rua e fazer esportes ao ar livre, desde que não estivéssemos com pessoas que não fossem do núcleo familiar. Dito isso, a nossa quarentena foi leve. Apesar de passarmos a maior parte do tempo em casa, fizemos algumas caminhadas e passeios de bicicleta. A Alemanha conseguiu acompanhar a evolução do vírus sem o esgotamento dos leitos de hospital e por isso, depois de pouco mais de dois meses de quarentena, vivemos aos poucos a reabertura da cidade. No início da reabertura, em nosso bairro víamos mais pessoas usando máscara na rua e respeitando o distanciamento. Atualmente, as máscaras são usadas mais em ambientes fechados, como lojas, supermercados, farmácias etc. Com a exceção dos supermercados, onde a restrição é feita pela quantidade de carrinhos de compras, nas lojas também há restrição da quantidade de pessoas que podem entrar, para que o distanciamento seja garantido. Isso nos fez ver várias filas formadas nas calçadas.
MÁRCIO VIEIRA/CORTESIA - Nos bairros de Berlim, há filas na calçada dos estabelecimentos, como esta sorveteria, para evitar aglomerações na área interna
Nos restaurantes, a posição das mesas precisa garantir a distância mínima de 1,5 m entre os clientes. Ao entrar no estabelecimento, devemos deixar registrados os dados da família, como nome e endereço, para contato posterior da polícia, caso seja identificado um caso positivo no dia de nossa visita. Além disso, muitos dos restaurantes adotaram o cardápio digital via QR-code, a fim de evitar contaminação pela versão física. O pagamento por cartão de débito e crédito está bem mais aceito que antes. Berlim é uma cidade onde se usava muito mais o dinheiro vivo do que o de plástico. Os parques estão movimentados, mas ainda menos do que normalmente seria. Já os pontos turísticos estão bem mais vazios. Os museus reabriram com limitações de visitantes e obrigação do uso de máscaras. Não frequentamos muito a vida noturna de Berlim, além de bares e restaurantes, mas percebemos que a maioria dos jovens estão se reunindo e bebendo nas calçadas e parques. Nos bairros mais centrais, é vista facilmente a quebra das regras de distanciamento, mas também vemos a presença maior da polícia a fim de manter certa ordem.
KELLY BATISTA
Natural de Pirapora, em 1994 se mudou para o Recife, onde morou por 13 anos. Da capital pernambucana, foi para Itália. Atualmente, mora em Roma, onde trabalha em uma cafeteria.
CORTESIA - Kelly Batista conta que governo dará incentivo de 500 euros para italianos viajarem dentro do país
A Itália foi o primeiro país europeu a ser duramente atingido pela pandemia. Depois de dois meses de um confinamento severo, o governo apresentou seu plano de reabertura gradual em quatro fases. Nesta quarta-feira (3) será iniciada a terceira etapa 3 de junho, em toda Itália. Será permitido o trânsito entre regiões e abertura dos aeroportos para todos os países da União europeia e acesso às praias. Com o início dessa fase a esperança dos italianos se renova. Numa época de muito desemprego, estou comemorando poder voltar para o meu antigo trabalho em uma cafeteria. Foram mais de dois meses dentro de casa, fechados. Ficamos sem ver familiares, amores, amigos. No começo, não pude ter contato com o meu namorado. Então, ele passava de moto embaixo do apartamento, que fica no quarto andar, para me mandar um beijo. Às vezes, eu até chorava. Estávamos tão próximos e não podíamos ficar juntos, abraçar. Foi duro. O turismo realmente foi o setor mais balado. Muita gente perdeu emprego. Muitas empresas faliram. Agora a gente está tentando se reerguer. Já há buzinas, movimento, tráfego de carros. Mas com os protocolos de higiene, há filas para entrar em todo lugar, como nos supermercados e em lojas e cafés, por exemplo.
ALBERTO PIZZOLI/AFP - Itália permitirá trânsito entre regiões a partir desta quarta-feira (3)
As máscaras são obrigatórias e assim a gente vai caminhando. O importante é que vemos as coisas mudarem. Não sei se este ano vamos nos reerguer 100%. Acredito que só no próximo, porque neste ainda há muita coisa para trabalhar e melhorar. Não vai ser fácil, mas alguma luz a gente tem. Para promover o turismo, o governo pediu pra gente não viajar para outros países, e sim dentro da Itália, que é grande e linda. Há um incentivo de 500 euros para cada família utilizar nas férias aqui mesmo. A gente vai viajar pelo país, para ajudar as empresas italianas. Ficar confinado dentro de casa passando por algo que ninguém poderia imaginar nos permitiu refletir muito e passar a valorizar ainda mais a vida e as oportunidades. Temos muita esperança de que tudo vai melhorar e desejo o mesmo para o Brasil. SÉRGIO BELLO Artista visual, mora há quatro décadas em
Paris, onde se casou, fincou raízes e acumula uma extensa produção. Uma vez por ano costuma voltar ao Recife para se reenergizar junto à família, encontrar amigos e renovar os laços com a cidade. Por causa da situação da pandemia, ainda não sabe quando poderá viajar ao Brasil novamente.
CORTESIA - Para Sérgio Bello, luzes da Cidade Farol ainda andam discretas
Em toda Europa, a covid-19 nos levou ao confinamento das populações como combate coletivo contra uma disseminação que levaria os hospitais e as clínicas ao colapso sanitário. Foi dada uma prioridade máxima à saúde coletiva e a economia pode e deve esperar. Até mesmo o turismo intraeuropeu fez uma pausa. Com bastante prudência, as autoridades médicas e governamentais estão analisando a evolução positiva ou negativa do vírus para o chamado desconfinamento que começa neste 2 de junho. Daí, restaurantes e cafés parisienses irão funcionar de um modo original, em áreas arejadas, com mesinhas e cadeiras distribuídas a cada dois metros umas das outras pelas calçadas da Cidade Luz. Todos com máscaras sanitárias e evitando ares confinados. Agora, na Avenida Champs Elysées, Arco do Triunfo, Pirâmide do Louvre, Praça da Bastilha, Saint-Germain des Près, Quartier Latin, Torre Eiffel, Praça da Concórdia... antes efervescentes de gente, somente circulam bicicletas, patins e patinetes - todos pedalando mascarados e prudentes sob luzes discretas na Cidade Farol. MÔNICA MENDES Nascida em Fortaleza e criada em Sobral, passou seis anos no Recife antes de cruzar o Atlântico. Casada com um português, vive nos arredores de Lisboa desde 2005. Espera o nascimento do segundo filho, com a esperança de que ele cresça em um mundo melhor.
CORTESIA - Assim que foi possível, Mônica Mendes e o marido português correram para ver o mar em Ericeira
Tudo que aconteceu fez-nos pensar em tudo, dar mais valor às coisas simples da vida, como uma simples caminhada à beira-mar, encontrar com a família, abraçar e beijar. Com todos os cuidados, o primeiro lugar que escolhemos visitar foi a Ericeira, perto de casa, para ver o mar. Sentimos ainda falta de muitas coisas, como os almoços ao domingo com a família toda reunida, as noites com os nossos amigos, mas isso ainda não é possível. Das coisas que mais me deixam triste é saber que vamos ter outro filho no meio desta pandemia, que atrapalhou muitos planos e vidas, e só de pensar que no momento mais lindo da vida de uma mulher, que é ter um filho, seu marido não vai poder estar do seu lado para apoiar e passar segurança, dói. Mas sei e confio que tudo isso vai passar e vamos superar tudo juntos com pensamentos sempre positivos. Até esse momento, acreditamos que as medidas tomadas pelo governo português foram acertadas para controlar a pandemia. E é tudo uma questão de hábito: o uso de máscara, a desinfecção, a distância entre as pessoas. Se todas cumprissem, não tenha dúvidas de que passaria mais rápido. REJANE MODESTO Jornalista, trabalhou na TV Jornal e na Tribuna, além de atuar como produtora da Copa das Confederações e do Mundo 2014/etapa Pernambuco, na Band. Está na
Catalunha (
Espanha) estudando Comunicação em Esportes pela Universidade do Clube
Barcelona.
CORTESIA - Em Rubí, na Região Metropolitana de Barcelona, Rejane Modesto comemora maior liberdade de circulação
A Espanha inicia o mês de junho com 70% da sua população na fase do desconfinamento. As restrições de sair às ruas agora é menor. Eu vivo na cidade de Rubí, que é Região Metropolitana de Barcelona, e só vou poder sair da cidade a partir desta terça (2). Barcelona, que estava dividida em três regiões sanitárias, passa a ser uma região só, o que vai permitir a circulação mais ampla. Tudo isso, é claro, deve-se fazer seguindo as recomendações sanitárias de uso de máscaras e cuidado com as mãos. Nas ruas, a movimentação já é normal. Há muita gente, mas todas as pessoas evitam chegar muito perto umas das outras. Agora é aguardar para ver como se comporta a reabertura. O governo já adiantou que se houver um aumento significativo de casos, volta a fechar, como aconteceu na cidade de Lleida, aqui na Catalunha, e na Ilha de Ceuta (Celta), onde foram realizadas duas festas na fase 1 do desconfinamento e houve a contaminação de várias pessoas. Essas duas localidades tiveram que voltar à quarentena geral.