Conteúdo atualizado às 23h32 do dia 15 de junho de 2020
Há quase três meses com o aeroporto fechado a visitantes, o arquipélago de Fernando de Noronha só agora começa a planejar a retomada do turismo, que representa 95% da economia local. A administração da ilha, entretanto, ainda não tem previsão para a reabertura. Por enquanto, diz que convidou órgãos e associações representativas do setor para um "amplo debate", que se dará a partir de reuniões e sugestões recebidas através do e-mail reaberturanoronha@gmail.com. “O turismo pós-covid vai ser diferente, reinventado. Mas não vai ser fácil para ninguém idealizar como será isso. Nenhum lugar do Brasil consegue mostrar com clareza e objetividade como será retomado o turismo. Nada mais justo e democrático do que chamarmos para este debate as associações e órgãos da ilha que representam diversas classes que atuam no turismo, para que se juntem a nós e assim a gente consiga fazer um protocolo de retomada do turismo setorizada para cada ambiente”, resume o administrador do arquipélago, Guilherme Rocha, em nota enviada à imprensa.
>> Coronavírus deve acelerar mudanças na vida e no turismo de Fernando de Noronha
>> Em primeiro voo de retorno, 31 pessoas desembarcam em Fernando de Noronha no sábado (13)
Empresários da ilha receberam o chamado ao diálogo de forma positiva, mas se ressentem da demora para começar as discussões e cobram uma data concreta para a reabertura, ainda que ela não ocorra de forma imediata. "Acreditamos que é preciso trabalhar em conjunto, mas só na semana passada fomos procurados para uma primeira conversa. Enquanto isso, já estamos aprendendo sobre os procedimentos implantados no exterior e em outras partes do Brasil. A comunidade fez a sua parte e até chegamos a zerar os casos. Queremos abrir de forma responsável, mas precisamos de uma data, de um cronograma", reivindica Ivan Costa, presidente da Associação das Hospedarias Domiciliares de Fernando de Noronha, que tem 86 membros, entre as 150 pousadas formais autorizadas a atuar na ilha.
Segundo Ivan, há uma preocupação crescente com uma possível demissão em massa, caso não haja uma definição do governo estadual. No seu empreendimento, ele conta que deu férias coletivas e suspendeu o contrato dos 10 funcionários, valendo-se da MP-936, do governo federal. "Acontece que o período está vencendo e continuamos sem perspectiva. Não se administra uma empresa sem planejamento. Os empresários precisam poder se programar", vaticina.
A diretora comercial do Dolphin Hotel Noronha, Fabiana de Sanctis corrobora, sugerindo a primeira quinzena de agosto como uma data "razoável" para a retomada. "Estamos falando de mais dois meses para fazermos tudo com cautela. Ao todo serão cinco meses, mais ou menos o tempo que a Europa levou para reabrir", compara. "A questão da data é que existe uma janela de compra para o turista se programar. Não é como uma loja que anuncia hoje e amanhã já passa a receber clientes", argumenta.
Até antes da pandemia, a receita com o turismo em Fernando de Noronha girava em torno de R$ 42 milhões - sendo R$ 36 milhões vindos da Taxa de Preservação Ambiental e R$ 6 milhões, do Imposto sobre Serviços (ISS).
A Administração do arquipélago reforça que a data de reabertura ainda não foi determinada, porque o Brasil "ainda está no pico da pandemia". Antecipa apenas que algumas práticas serão repensadas e que a exploração do turismo na ilha será modificada, levando em conta o controle na entrada de turistas, a capacidade de carga no Porto de Santo Antônio e o respeito às legislações ambientais. Não há detalhes sobre como as melhorias serão implementadas nem está claro, por exemplo, se no futuro os visitantes que chegarem serão submetidos a algum tipo quarentena, como ocorre agora com os primeiros moradores que começam a voltar à ilha.
Em 2019, o número total de visitantes em Fernando de Noronha foi de 106.130, dos quais 9.162 eram estrangeiros (9,06%), em sua maioria (47%) vindos da Europa e América do Sul (32%). Entre os 95.918 (90,38%) de turistas nacionais, 45% são do Sudeste e 34% do Nordeste. Os dados são da Secretaria de Turismo de Pernambuco.
De acordo com a gestão, somente a partir das contribuições do setor é que será construído um protocolo para a retomada do turismo, alinhado ao que já vem sendo traçado com o grupo de matriz de risco do governo do Estado, que tem a participação da Administração Distrital, Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a empresa de consultoria Deloitte.
>> Sustentabilidade é o desafio do turismo de Fernando de Noronha
Embora o aeroporto de Noronha esteja fechado a turistas, continua operando com um voo semanal da Azul Linhas Aéreas para transporte de servidores e cargas essenciais. No último sábado (13), 12 moradores que estavam em tratamento no continente também puderam regressar, na mesma viagem que levou 15 funcionários públicos e quatro bombeiros. A volta dos demais ilhéus que se encontram fora de Noronha será por etapas, para diminuir o risco da entrada de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus na ilha.
Fernando de Noronha conta oficialmente com 4.800 habitantes, dos quais estima-se que 3.500 tenham permanecido na ilha durante a pandemia. O governo só finalizará nesta terça-feira (16) a lista com o número total de moradores que desejam regressar. Uma vez que as medidas de controle seja bem-sucedidas, a quantidade de pessoas deverá ser ampliada a cada voo.
De acordo com o último boletim da Secretaria de Saúde, atualizado na noite desta segunda-feira (15), a ilha voltou a zerar os casos de contaminação pelo novo coronavírus, com a confirmação da cura clínica do último paciente que estava em recuperação domiciliar.
Ao todo, a ilha registrou 64 pessoas infectadas pela covid-19, sem a ocorrência de mortes no arquipélago.
Preservar esses indicadores parece ser a prioridade no momento, enquanto o turismo terá que esperar. Só não se sabe até quando a população e os empresários aguentam.