Em um domingo como hoje (11), véspera do dia de Nossa Senhora Aparecida, a basílica dedicada à padroeira do Brasil estaria lotada desde as primeiras horas da manhã. Em 2019, mais de 400 mil fiéis foram à cidade de Aparecida, no interior de São Paulo, prestar homenagem à santa durante o feriadão do 12 de Outubro.
Com a pandemia, tudo mudou. Não será permitido amanhã participar de nenhuma celebração no templo católico, o segundo maior do mundo, depois da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Como já ocorreu durante a Páscoa, os devotos terão que se contentar com as transmissões por rádio, site e TV da Rede Aparecida de Comunicação e via redes sociais do Santuário Nacional, que já esperam audiência recorde.
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Mesmo os que insistiram nas romarias só poderão visitar a igreja fora dos horários de liturgia e seguindo um rígido protocolo de segurança sanitária para evitar aglomerações.
A funcionária pública aposentada Jandira Barros, 63 anos, até queria viajar para participar da Festa da Padroeira, como faz há quase dez anos, acompanhada do marido, 69, e da filha mais velha, 40. Mas diante dos riscos de contaminação, somados à impossibilidade de assistir às missas dentro da Basílica, preferiu adiar os planos para depois da vacina contra a covid-19. “Minha santinha vai entender. Ela só quer o nosso bem. Como tenho diabetes, preferi me resguardar. Mas vou rezar a novena, mesmo a distância”, promete.
Se o coronavírus não abalou a fé dos devotos, jogou por terra este ano o turismo religioso, que movimenta R$ 15 bilhões anualmente no País. “O saldo é zero. Trabalhamos muito com excursões em ônibus que não estão saindo. Em 2020, não há nenhum grupo programado nem no Brasil nem no exterior”, diz o proprietário de uma operadora especializada no segmento Pedro Kempe, que calcula uma perda de R$ 15 milhões. “O perfil do público é mais de idosos, que ainda estão receosos de pegar um avião”, completa Fátima Bezerra, também dona de uma agência que promove passeios para destinos católicos, como Fátima e Lourdes, em Portugal.
Somente em Aparecida, R$ 200 milhões são injetados na economia pelos 12 milhões de visitantes que vão à cidade em busca de bênçãos a cada ano e também de entretenimento em atrativos como o Museu de Cera, os Bondinhos Aéreos e o Trem do Devoto. Hotéis, restaurantes, feira livre e o Centro de Apoio ao Romeiro, espécie de shopping center com 380 lojas dentro do santuário, dependem desse fluxo trazido pela devoção.
A esperança para não fechar o ano no prejuízo total está em peregrinos como a bióloga Maristela Casé, 44, que saiu do Recife com uma amiga no último dia 27 com o objetivo de enfrentar quase 300 km de uma caminhada de agradecimento entre o município mineiro de Alfenas e Aparecida. O percurso a pé durou 11 dias. Ontem (10), ela cumpriu o desafio. Se valeu a pena? “Cada lugar por onde passamos era mais bonito que o outro. Tanto que na Serra da Mantiqueira resolvemos ficar uma noite a mais. Sem falar nas pessoas maravilhosas”, diz. Nem as medidas contra a covid-19 foram capazes de tirar o brilho da viagem. “Nos protegemos ao entrar nas cidades com máscaras e álcool em gel, como tem que ser, e estamos aqui para contar a história”, entusiasma-se, já planejando o novo caminho, para Santiago de Compostela, quando for possível.