'O Brasil de Gilberto Freyre', de Mário Hélio, ganha nova edição para celebrar os 120 anos do sociólogo pernambucano

Agora pela Cepe, escritor lança nova edição do livro após 20 anos em live que integra a programação do Circuito Cultural de Pernambuco
Valentine Herold
Publicado em 09/09/2020 às 17:10
VIRTUAL Lançamento acontece hoje com bate-papo entre o autor Mário Hélio e o professor Anco Márcio Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


Neste ano de 2020, três efemérides de importantes autores brasileiros vêm sendo amplamente celebradas. Todos eles, inclusive, tiveram uma relação pessoal muito especial e indissociável de sua obra com Pernambuco: os centenários João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector e o sociólogo Gilberto Freyre que, no último mês de março, teria completado 120 anos.

Este último é, sem dúvida, também o mais polêmico. Como continuar lendo Freyre, autor de análises das relações sociais brasileiras que são até hoje reverenciadas por muitos e rejeitadas por tantos outros, em pleno século 21? Seus escritos ainda são válidos para contribuir com o debate das questões raciais que se encontram hoje no epicentro dos debates da vida social e digital?

Para quem se interessar por essa temática e ainda não tem conhecimento do pensamento freyriano, uma boa introdução à sua vida e obra é O Brasil de Gilberto Freyre, do jornalista e escritor Mário Hélio, à frente também da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundaj, instituição fundada pelo próprio Freyre na década de 1940.

O livro, originalmente lançado em 2000 pela Comunigraf e esgotado há anos, acaba de ganhar uma nova edição pela Cepe Editora. O lançamento acontece nesta quinta-feira (10), integrando a programação do Circuito Cultural de Pernambuco, em um bate-papo virtual entre o autor e o professor e escritor Anco Márcio Tenório Vieira, às 19h30, no site oficial do evento.

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As ilustrações do artista plástico José Cláudio foram mantidas, assim como o texto principal. Um novo prefácio, escrito pela professora da UFRGS, Kathrin Rosenfield, e algumas alterações que estavam atreladas diretamente ao centenário do sociólogo à época da primeira edição são as principais novidades da obra. Escrito com uma linguagem jornalística e clara, O Brasil de Gilberto Freyre se propõe a apresentar - principalmente a jovens leitores - o universo do pernambucano.

Sua infância e adolescência no Recife, a ida aos Estados Unidos para estudar artes, ciências políticas e sociais na Universidade de Columbia em 1918, a vida pública e os temas pelos quais transitou em seus principais livros e artigos de jornais são apresentados em 21 capítulos curtos.

Ao se debruçar sobre o vanguardismo de Freyre em relação à sociologia da vida cotidiana, mas também apontando suas falhas (como a de ter romantizado as relações entre senhores e escravos no Brasil Colônia), Mário Hélio revela que é justamente entre pontos e contrapontos, defesas e refutações, que se concebe a ideia de um autor clássico, cuja obra ser, sim, contextualizada, mas também criticada.

"Estamos diante de um autor cujas principais obras são Casa Grande e Senzala (1933), Sobrados e Mucambos (1936) e Ordem e Progresso (1957). Ou seja, pontos extremos revelados já nos títulos, mas que possuem sempre uma convergência. Gilberto Freyre coloca sempre a questão do diálogo, pois debatendo a partir dos extremos não se chega em solução alguma. Acredito, então, que ele ainda tem o que contribuir para as discussões atuais", avalia o autor.

"O que há de extraordinário nele - e isso mesmo os que não simpatizam com sua obra costumam concordar - é que ele viu o Brasil de maneira vanguardista. Em 1933 acontecia a ascensão do nazismo na Europa e havia um sujeito, no Recife, que exaltava a mestiçagem e trazia para o centro do debate a criação de um pensamento original brasileiro. Freyre queria valorizar a originalidade dos trópicos."

Em suas observações sobre a vida cotidiana dos pernambucanos, Gilberto Freyre se dedicou a pensar a gastronomia, a moda, as relações familiares e a ecologia, entre outros temas. À época, foi uma inovação, assim como sua escrita que se afastava dos padrões acadêmicos e seguia um caminho muito mais ensaístico e literário, mesclando questões pessoais com sociais.

 

DIVULGAÇAO - BELEZA Livro tem ilustrações do artista plástico José Cláudio, na capa e páginas internas

CIRCUITO CULTURAL

Este segundo dia do evento tem início às 8h, com a transmissão do Podcast Cultural e segue ao longo do dia com uma programação que vai desde contações de histórias, oficinas para crianças e debates. Além do lançamento do livro de Mário Hélio, outro destaque desta quinta é a live de a Marina Colasanti. Com mediação de Gianni Paula de Melo, a poeta, ensaísta, artista plástica e autora de livros infantis italo-brasileira irá falar a partir do tema A Vida Pede Licença...Poética, às 17h.

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“A vida não é feita apenas de leitura de livros. Sempre houve no mundo um contingente enorme de pessoas que, sem saber ler, tinham grande sabedoria, porque sabiam ler a vida. Hoje estamos cientes de que a leitura de livros nos dá mais elementos para ler a vida. E queremos que este benefício esteja ao alcance de todos”, explica Marina.

Em abril deste ano, ela lançou o livro Mais Longa Vida (Editora Record), composto por 100 poemas que versam sobre a passagem do tempo e fatos autobiográficos. Marina Colasanti nasceu em 1937, na Eritreia, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Aos nove anos, ela chega ao Brasil com a família e, antes de se dedicar à literatura, atua como jornalista e cronista. Toda essa vivência se faz presente em sua obra. O Circuito Cultural de Pernambuco segue até o próximo dia 13, com realização da Cepe e curadoria da Fundação Gilberto Freyre.

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