IMORTAL

"A Academia prestou uma homenagem a Pernambuco", diz José Paulo Cavalcanti, eleito para a cadeira de Marco Maciel na ABL

O mais novo imortal concedeu entrevista à TV JC nesta quinta-feira (2) e relembrou outros pernambucanos com história na centenária academia

Imagem do autor
Cadastrado por

Marcelo Aprígio

Publicado em 02/12/2021 às 12:04 | Atualizado em 02/12/2021 às 16:53
Notícia
X

Eleito o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) na semana passada, o advogado recifense José Paulo Cavalcanti Filho concedeu entrevista à TV JC nesta quinta-feira (2) e relembrou os nomes que outrora passaram pela cadeira 39 da ABL, que hoje ocupa e, segundo ele, tem “a cara de Pernambuco”.

Na conversa, que contou com a participação de Silvio Meira, professor e doutor em Ciência da Computação, José Paulo afirmou que a ABL prestou uma homenagem a Pernambuco, elegendo outro imortal nascido no Estado para ocupar a vaga deixada pelo ex-presidente Marco Maciel, morto em junho deste ano.

"Eu estou muito honrado de estar em uma cadeira que é a cara de Pernambuco. O primeiro ocupante foi Oliveira Lima, aquele que Gilberto Freyre chamava de Quixote gordo. E o último a ocupar também foi Marco Maciel. A melhor definição de Maciel foi dada pelo ex-governador Gustavo Krause: 'é o ser menos imperfeito que conheci em toda a minha vida'. Suceder um pernambucano tão ilustre quanto Marco Maciel é um privilégio para mim", disse José Paulo.

"Eu acredito, na verdade, que [com minha eleição] a Academia, de alguma forma, prestou uma homenagem a Pernambuco. Não prestou a mim, mas ao Estado, pois esta cadeira tem a cara de Pernambuco", emendou.

Outros pernambucanos na ABL

Atualmente, os outros pernambucanos da ABL são: o advogado, jornalista e poeta Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça (cadeira 26), o diplomata Geraldo Holanda Cavalcanti (29), o professor Evanildo Bechara (33) e o historiador Evaldo Cabral de Mello (34).

Juntos, esses nomes dão continuidade à histórica presença pernambucana na ABL. O estado tem destaque na intelectualidade desde a criação do Seminário de Olinda, no século 19, e posteriormente pela Faculdade de Direito do Recife, que por muito tempo foi antro de pensamento das aristocracias de toda a região. Em contraste com as recentes vitórias de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, todos eles são homens brancos.

Pernambucanos até hoje lembrados, como o poeta Manuel Bandeira (cadeira 24), o diplomata Joaquim Nabuco (cadeira 27), o político Artur Olando (25), o escritor Mauro Mota (26), o militar Dantas Barreto (27) e o poeta João Cabral de Melo Neto (37), são alguns exemplos. O único patrono da terra é Maciel Monteiro, jornalista, diplomata e político que foi escolhido por Joaquim Nabuco, fundador da cadeira 27. Já entre outros fundadores temos o jornalista Medeiros e Albuquerque (22) e o historiador Oliveira Lima (39).

ABL pop

Ao lado de outros nomes, esses pernambucanos fazem parte da história da Academia, que sempre teve um perfil mais conservador ao longo dos anos. No entanto, nomeações recentes como a da atriz Fernanda Montenegro e do cantor Gilberto Gil levaram a brincadeiras com a tradicional instituição. Gil, agora imortal, chegou a afirmar que sua eleição "denota um sentido de ampliação de campo, de escopo, da Academia", e que com isso a ABL fica "mais pop".

Para José Paulo Cavalcanti, a chegada dos colegas à ABL enriquece a instituição, cujo objeitvo foi redigido por Machado de Assis e está no artigo 1º dos estatutos, que é a defesa da língua nacional e da cultura, pois garante mais diversidade à Academia.

"Eu penso que a gente tem que retraduzir essas palavras para dar uma atualizada. A língua deixa de ser apenas um conjunto de símbolos articulados para expressar uma ideia. Agora vai mais longe. Ela tem que ter uma visão integrativa, reconhecendo todo o passado que nos veio, mas compreendendo que tem um futuro para trilhar. [...] É compreender que, ao lado de uma língua oficial, a dos letrados, sobrevive ‘a língua errada do povo, língua certa do povo’, como dizia Manuel Bandeira, na Evocação ao Recife", pontuou ele.

"Mas é sobretudo compreender que não há nada mais urgente, transformador, revolucionário e democrático no Brasil do que a educação popular. Portanto, a tarefa principal da Academia é formar cidadãos. Já a cultura, deixa de ser apenas a capacidade de o homem transformar alguma coisa, agregando valor. É uma coisa maior. É, por exemplo, respeitar a diversidade. Mas não só isso. Compreender que nós seremos ainda mais ricos quanto mais diversidade tiver", concluiu.

Tags

Autor