Quando estreou em 2015, 'Verdades Secretas' consolidou um modelo de dramaturgia que estava dando certo na TV Globo: o das superséries. Foi uma forma que a emissora encontrou de adaptar o seu formato mais forte, o das telenovelas, com o novo público que estava surgindo com o streaming. Novamente, para jogar com o que tem de melhor, a emissora lançou "Verdades Secretas 2" para fortalecer sua plataforma, Globoplay, diante da concorrência da Netflix, Amazon Prime Video, HBO Max e Disney+. Com a última leva de capítulos neste fim de semana, o que podemos concluir com a nova versão da novela?
Vendida como a primeira novela brasileira para o streaming, a trama de Walcyr Carrasco e direção de Amora Mautner tinha tudo para dar certo. Primeiro, o formato já é conhecido e o mais consumido pelo público nacional. Segundo, a narrativa da primeira versão deixava uma lacuna incompleta - gerando uma expectativa em quem acompanhou há seis anos. O terceiro ponto é foi uma novela aclamada pela crítica, público e pelos circuitos internacionais. Tudo isso fruto de uma direção, texto, atuações e estratégias digitais que a Globo jamais tinha experimentado nessa nova era.
Diante disso tudo, não dá para dizer que a segunda parte da novela é um fracasso. Muito pelo contrário, já que "Verdades Secretas 2" teve uma grande repercussão nas redes sociais e foi a maior audiência, até então, do Globoplay. Porém, não dá para medir êxito de uma produção apenas pelo retorno financeiro/de público. E se for considerar que a novela é uma continuação da primeira, ela praticamente destrói todos os bons quesitos conquistados pela outra.
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Assistindo todos os capítulos, o que se tem de conclusão é de que não houve uma narrativa. O texto, que para uma novela de 50 capítulos, deveria ser enxuto e ter diálogos mais críveis, tem todos os cacoetes de uma novela das 18h de Walcyr Carrasco. Expressões gordofóbicas, frases clichês e repetitivas, além de núcleos sem sentido - como o da família que se envolve com o mesmo modelo -, quebraram toda a boa estrutura que a primeira versão de "Verdades Secretas" tinha.
DIREÇÃO
A direção de Verdades Secretas 2 também foi desconexa. A direção artística de Amora Mautner deixou a desejar na novela, tendo em vista os bons trabalhos anteriores dela, como o fenômeno "Avenida Brasil". Isso refletiu também na atuação dos atores em cena. Camila Queiroz não tinha o mesmo brilho como Angel, Agatha Moreira pouco evoluiu com a sua Giovanna - também graças ao texto -, além de Rômulo Estrela montar um arquétipo pouco conquistador do seu Cristiano.
As cenas de sexo, que foram excessivas e desnecessárias à narrativa, por vezes foram narrativas: já esperava-se cada passo que Giovanna e Cristiano davam em cena. As transições entre cada cena também não foram excessivas, além do tom usado na fotografia que guiou a novela.
O que fica de positivo?
Nem todo saldo sai negativo de "Verdades Secretas 2", que deve ter uma continuação para a terceira parte. O desafio da emissora em encarar seu melhor produto, que é a telenovela, para o streaming deixa muitas marcas no mercado audiovisual. Tanto que a HBO Max e Netflix também preparam as suas. O formato, mais curto e mais simples, pode atrair o público mais jovem e fidelizar os mais velhos à plataforma - que no ano passado tinha mais assinantes que as concorrentes.
Apesar das problemáticas e desafios trazidos com a novela, emissora também poderia aproveitar os jovens talentos para desenvolver suas próprias narrativas para a plataforma. Nomes como Manuela Dias e Lícia Manzo, que têm novas perspectivas sobre uma novela ou minissérie, poderiam ser melhor aproveitadas até mesmo que na televisão aberta.